AMOR ANTIGO
Fazia anos que ela não o via, por isso seu coraçãozinho de mulher sensível e romântica, enchera-se de novo de esperanças quando soube que ele, o seu antigo e único amor, viria visitá-la.
Passou toda a tarde se arrumando no salão de beleza, colocou o seu melhor vestido e se perfumou com a sua fragrância mais cara, aquela que só era usada em ocasiões especiais, e certamente aquela era uma ocasião muito especial.
Quando a visita chegou, não pôde conter o espanto: “Era ele mesmo, mas meu Deus, como havia envelhecido”!
Um homem de estatura mediana, cabelos grisalhos e ralos, retirou o chapéu como forma de cumprimento. Quando abriu a boca, o sujeito exibiu um sorriso quase sem dentes e exalou um bafo de cachaça que quase pôs a pobre a nocaute.
Ela gentilmente o convidou para se sentar em uma poltrona do sofá, e sentou-e do outro lado da sala, o mais distante possível daquele homem; tudo para fugir do hálito do pinguço.
— Nossa, como você ainda tá bonitona! — comentou o velho com sinceridade.
Ela apenas esboçou um leve sorriso, sem nada dizer. Entretanto, o que ia em seus pensamentos era expressão viva da sua grande decepção: “pena que não posso dizer o mesmo de você”.
Conversaram sobre banalidades durante aquelas quase duas horas de visita. Ele bem que tentou, mas a mulher não demonstrou nenhum interesse pelo que o velho precoce falava, e se não chegara a faltar com a educação com o homem, também não dispensou a atenção que ele julgava ainda merecer e “essa desconsideração” o deixou irritado.
Ao sair, o sujeito bradou ferozmente:
— Eu nunca devia ter voltado. Até nunca mais, senhora!
O que ele tinha feito da sua vida durante esses anos todos já não a importava, e por esse motivo, nem quisera mais saber.
Porém, agora ela sabia, o seu antigo amor do pretérito ficaria dali por diante sepultado exatamente lá. De repente algo saído do pensamento veio assombrar sua alma: “será que há tempo para recomeçar”?
Então se lembrou dos muitos convites para jantar que recebera de um prestimoso amigo, e que recusara sempre com desculpas esfarrapadas.
Ora, far-lhe-ia uma agradável surpresa dessa vez, fazendo ela própria o convite.
***
No restaurante, o maduro cavalheiro falou com indisfarçável contentamento:
— Estou muito feliz por você ter finalmente concordado em sair comigo. Diga-me, o que a fez mudar de ideia?
— Ora, as pessoas mudam e os sentimentos também. A mulher ergueu sua taça de vinho e propôs de forma solene:
— Façamos um brinde ao futuro.