Mundo Cão - cap. 36
Acordei às oito no domingo, o céu estava claro e sem nuvens. Levantei, tomei um banho, e desci para cozinha. Marcelo já estava a mesa, tomando seu café.
- Animado para hoje? - perguntei ao entrar na cozinha.
- Nervoso... A última vez pedi uma garota em namoro, você lembra o que aconteceu, né.
- Isso não vai acontecer de novo, Celo... Fica tranquilo.
- Tomara...
Acabamos de tomar nosso café e fomos nos arrumar para sair. Terminei de mim arrumar, Marcelo ainda não tinha terminado. Desci para esperar.
- Anda logo, Celo. - gritei.
Sentei na sala, e fiquei esperando tranquilamente. A campanhia tocou, fui atender o interfone.
- Quem é?
- Preciso falar com Marcelo. - ouvi a voz de Yago, e tremi involuntariamente. - Ele está?
- O que você quer?
- Olha, Denis, eu só quero falar com o Marcelo... Ele está?
- Não!
Coloquei o interfone no gancho. Marcelo estava descendo.
- Quem era? - perguntou ele, e vendo minha cara de susto. - O que foi?
- É... - não sabia o que dizer. Só de ouvi a voz de Yago, fiquei desnorteado.
- O que foi, Denis? Fala.
- Yago...
Marcelo se assustou, também não esperava que Yago ia voltar a nos procurar tão cedo.
- O que ele queria?
- Falar com você.
Marcelo correu pra porta, fiquei espantado, era estranho esse carinho que ele sentia por Yago, mesmo sabendo como ele era uma pessoa ruim. Ele gritou para que Yago entrasse.
- Não quero que esse cara entre aqui. - resmunguei.
- Denis, por favor, se o Yago veio até aqui deve ser porque ele está com problemas.
Yago entrou na república, seus olhos encontraram os meus. Ele ficou envegonhado, o que eu estranhei.
- O que você quer, Yago? - perguntou Marcelo.
- Preciso falar com você... - e olhando para mim, completou: - Em particular.
- Eu vou ficar aqui! - sentei no sofá.
- Denis, por favor... - Marcelo me censurou.
- Não, Celo. Eu quero saber o que vocês dois tanto esconde...
- Isso não te interessa, seu viadinho.
- Denis, para com isso.
- Celo, por que você ainda continua a conversar com esse maldito?
- Porque ele é meu amigo, assim como você... Mesmo não concordando com o que ele faz, ele continua sendo meu amigo.
- Ele não é amigo de ninguém.
- Vem, Yago, vamos conversar no meu quarto.
Os dois começaram a subi as escadas. Eu num ato impensado, pedi que esperasse. Yago me encarou, eu precisava saber o porquê dele ter me feito tantas coisas ruins.
- Por que? - ele me olhou confuso. - Por que você me odeia tanto?
Ele sorriu.
- O problema é que eu não te odeio...
Ele não deixou chance para mais perguntas, acabou de subi a escada, sumindo da minha vista. O que ele quis dizer com aquilo? Se ele não me odeia, por que está sempre me fazendo mal? Yago me deixou muito confuso. Decidir não pensar mais naquilo, fui pra cozinha tomar uma água.
- Pronto, agora estamos a sós. Pode falar. - disse Marcelo, fechando a porta do quarto.
- Vou almoçar com minha mãe hoje.
- Como assim?
- Eu encontrei minha mãe, Celo. Ela é a dona daquele bar que tem lá na favela.
- Não acredito, a dona Pie é sua mãe? - Marcelo não estava acreditando no que acabara de ouvi. - Ela já sabe?
- Não... Ontem eu fui até o bar, e conversei com ela. E ela me convidou para um almoço hoje.
- E você vai contar que é filho dela?
- Ainda não sei... Preciso saber porque essa mulher me abandonou. - Yago foi até a janela, e olhou pra fora. Estava com os olhos cheios d'água. Continuou falando: - Ela tem outras três filhas... Ela é uma pessoa calorosa, nem parece uma pessoa capaz de jogar um filho fora.
- Você não foi jogado fora. Ela deve ter um bom motivo pra ter te deixado naquele orfanato.
- Que motivo explica o abandono de um filho? - Yago agora estava chorando.
- Muitos motivos, Yago. - Marcelo chegou mais perto do amigo, e o abraçou. - Acho que você não deve ir para esse almoço. Essa sua revolta e mágoa pode estragar tudo.
- Eu preciso ir... Eu preciso saber o que fez ela me abandonar.
Marcelo sabia que nada ia fazer ele desistir disso. Se afastou um pouco de Yago, e olhando nos olhos vermelhos do amigo, o advertiu:
- Promete que não vai estragar tudo? Promete que vai está aberto para o perdão?
- Será difícil, mas eu prometo.
Os dois se abraçaram.
Silas acordou cedo e foi até o presídio se encontrar com seu irmão. Tito havia recebido um induto, e passaria uma semana em liberdade. Toda família estava feliz, fariam um grande almoço pra recebê-lo.
Silas e Renan estavam parados em frente ao presídio, esperando Tito sair. Ambos estavam ansiosos.
- A tia Carmem devia está aqui, ela ficaria tão feliz em ver o Tito livre. - choramigou Renan, lembrando da finada tia.
- Ela está feliz. Aonde ela estiver, está feliz... - Silas falou.
O portão abriu, os dois ficaram em alerta, e abrindo largos sorrisos ao ver Tito saindo. Correram até ele, o abraçando forte.
- Bem-vindo ao mundo livre, meu irmão! - exclamou Silas, todo sorridente.
- É muito bom me sentir livre novamente, mesmo que só por alguns dias.
- Isso é provisório, logo você estará de vez livre. - disse Renan, o mais impolgado dos três.
- Agora vamos pra casa. Tá todo mundo te esperando.
E partiram os três para casa, onde a família inteira estava os esperando pra comemorar.
Léo sentia seu corpo leve e anestesiado. Abriu os olhos e estranhou fato de está em sua cama, não se lembrava de ter ido para o quarto. Sentou na cama, estava com vergonha do que fez na noite passada, sua cabeça doia pelo efeito da ressaca. Mas isso era o de menos, ele tinha transado com seu tio, isso não podia ter acontecido.
A porta do quarto se abriu, e Claúdio entrou carregando uma bandeja de café. Ele sorriu ao ver Léo acordado.
- Bom dia, dormiu bem?
Léo gemeu, colocando a mão na têmpora, sua cabeça estava rodando. Claúdio colocou a bandeja sobre a cama, pegou um copo d'água e entrou para Léo, junto com um comprimido.
- Eu disse pra você não beber tanto. - disse ele rindo.
- Você bebeu mais que eu... - resmungou Léo, terminando de tomar a água. - Bebemos muito e fizemos merda...
- Não fizemos merda, fizemos amor! - exclamou Claúdio, enquanto ajeitava a bandeja na frente de Léo. - E se quer saber, foi a melhor noite da minha vida.
- Eu não quero saber de nada... A gente não podia.
- Por que não? Somos adultos, livres e sabemos bem o que queremos.
- Você é meu tio...
- Nós dois sabemos que isso é mentira, né... Eu sou meio-irmão da sua mãe adotiva. Não temos nenhuma traço familiar.
- Pode ser... Mas, eu te considerava como um tio.
Claúdio se divertia com a confusão sentimental do garoto. Sentou-se na cama, e dando uma mordida na orelha de Léo, se insinuou:
- E agora, como você me considera?
Léo suspirou, e deixou um sorriso escapar.
- Te considero um safado...
- Hum, isso é bom.
Claúdio segurou o rosto de Léo, e colou seus lábios nos dele. O garoto se deixou envolver num beijo doce, as carícias eram suaves e os sussuros apaixonados. Eles foram parando ao poucos, sem desgrudar os olhos.
- Eu estou apaixonado por você garoto. - sussurou Claúdio.
- O que a tia Diana vai dizer?
- Esquece um pouco os outros, pense só em nos dois... Você me quer?
- Quero!
O café da manhã ficou pra depois. Os dois passaram o resto daquela manhã transando...
- O que ele queria?
- Denis, o Yago tem alguns problemas e eu estou ajudando ele. Não posso te contar, mas logo você vai saber o que é.
- Não sei o porquê de tanto mistério...
- Também não sei, mas ele quer que seja assim.
Os problemas de Yago não me importava nem um pouco. O que estava me perturbando era a sua resposta a minha pergunta, ele disse que não me odiava, e esse era o problema. Yago já tinha dito que estava gostando de mim, mas recusava acreditar nisso.
- Celo, o quê o Yago quis dizer que o problema é ele não me odiar? - precisava tirar aquela dúvida do meu peito, e o Marcelo seria a única pessoa que poderia me ajudar.
- Não sei ao certo. O Yago é muito fechado, é impossível saber com certeza o que ele sente. -Marcelo sorriu pra mim, e completou: - Acho que ele te ama, e não aceita.
- Quem ama não faz o que ele faz. - resmunguei.
Já estavamos chegando na casa do Silas, decidir encerrar com aquele assunto. O Yago me amando, só me faltava essa.
Camila estava impaciente, já se aproximava das onze horas e o médico não apareceu pra lhe dar alta.
- Que saco, quero ir embora.
- Calma, amiga.
Denise e Agatha estavam no quarto. As duas tentavam animar Camila, que estava rabujenta e chata naquela manhã.
Às onze e meia, o médico apareceu. Sobre reclamações da paciente, ele a examinou e a liberou.
Agatha e Denise ajudaram ela se trocar, e sairam do hospital.
- Agatha, você bem que podia fazer uma macarronada. Estou com desejo. - disse Camila, já no carro rumo ao apartamento.
- Nada disso, você está de dieta! - censurou Denise.
- A De tem razão.
- Odeio vocês! - choramingou.
- Também te amamos. - Agatha respondeu rindo.
As meninas entraram no apartamento, um delicioso cheiro de comida impregnava o ambiente.
- Chegamos. - gritou Denise.
Lipe e Bruno vieram correndo da cozinha. Lipe sentou ao lado de Camila no sofá, e acariciou sua barriga.
- Você quase me matou, sabia?
- Desculpa, amor...
- Me promete que não vai deixar isso acontecer de novo?
- Prometo.
Os dois se abraçaram.
- Hum, o cheiro está bom... - disse Agatha.
- Ah, as panelas no fogo. - Bruno voltou correndo para a cozinha.
Agatha e Denise foram atrás dele. Lipe e Camila ficaram na sala, trocando carícias.
- Você é muito especial pra mim, Camila.
- Você também é especial pra mim, Lipe... E esse bebê é a prova do nosso amor.
- Ele será nosso elo eterno.
E ficaram ali, trocando beijos e juras de amor. Enquanto os outros faziam o almoço.
A casa estava cheia, as mulheres se reuniam na pequena cozinha, alegres e falantes, em meio a panelas e vasilhas de comida. Os homens se espalhavam pelo terreiro, arrumando a grelha da churrasqueira e temperando a carne. Eu e Marcelo nem pareciamos visitas, eramos tratados como da família.
- Eles estão demorando... - disse Yara, preocupada com a demora dos irmãos.
- Eles já devem está chegando. - respondeu Sisa.
- Quer ajuda?
Marcelo pegou a panela que Sisa estava carregando, a moça apenas sorriu, mostrando que gostou da gentileza.
- Hum, a mana tirou a sorte grande, conseguiu um médico bonitão. - disse Geovanna, que observava o casal de longe.
- Ela merece, né?! Tanto tempo aturando aquele 'bolha' do Alisson. - respondeu Barbara. - Acabou de picar a cebola?
- Já, toma.
Wandinho, Denilson e Horácio (que acabara de sair da clínica de desintoxicação) pegaram os intrumentos e começaram a tocar um pagode, dando uma animada no ambiente. Marcelo e Sisa não escondia o clima entre eles, o que era bom.
- Eles chegaram!
Yara correu ao encontro do irmão. O restante da família fez o mesmo, e todos se juntaram num abraço coletivo.
Passado a eufória inicial, todos voltaram ao estavam fazendo. Silas e eu trocamos um abraço demorado.
- Já estava morrendo de saudade de você, meu branquinho. - disse ele, me dando um beijo.
- Tô vendo que o romance está firme e forte, hein. - disse Tito, chegando mais perto da gente. - E aí, Denis, tudo bem?
- Tudo ótimo, Tito.
Ele me puxou para um abraço, o que espantei. Naquele dia no presídio ele tinha sido tão rude comigo, e agora estava gentil.
- Desculpa pelo o que te disse aquele dia. Eu não reagi muito bem a notícia que você e o Silas estavam juntos.
- Tudo bem, Tito...
Nossa conversa foi interropida pelo Wandinho, que puxou o irmão para perto da churrasqueira, o entregou um cavaquinho e voltaram a tocar o pagode.
Fui pra cozinha ver se as meninas precisavam de ajuda. Nessa hora a Waleska chegou, fiquei meio constragido com aquela garota ali. Olhei para Silas, que apenas riu, ele sabia que eu estava com ciúmes. A Geovanna vendo minha cara feia para Waleska, logo me tranquilizou, dizendo que ela estava namorando com o Renan, e que parecia ser sério.
- Menos mal. - disse com um sorriso amarelo. - Precisam de ajuda?
- Não! - Barbara foi rude comigo.
- Tudo bem.
Sair da cozinha chateado, o tom rude que a Barbara usou comigo foi desnecessário, nunca fiz nada pra ela. Geovanna veio se sentar ao meu lado no terreiro. Eu nem liguei pro que ela falava, olhava para Silas que estava tomando conta da churrasqueira, e conversando com um pessoal que eu ainda não conhecia, mas que a Geovanna me disse tratar de amigos dele.
- Denis, posso te falar uma coisa? - Geovanna me cutucou para que eu prestasse atenção nela.
- Pode.
- Não liga para o que a Barbara, o Renan ou o Tito dizer, eles não consegue ver como o Silas é feliz ao seu lado... Por favor, não abandona ele.
- Pode ficar tranquila, eu não vou abandonar o Silas, não importa quem esteja contra nossa união.
Fiquei mais um tempo conversando com a Geovanna, que se mostrou ser uma pessoa legal, bem diferente daquela imagem de piriguete que ela passa.
A casa de dona Pie ficava do lado do bar, Yago estava todo trêmulo quando tocou a campanhia. Ouviu latidos de cachorros se aproximando do portão, Ele fez uma cara de nojo, detestava cachorros. Logo depois uma voz mandando o cão ir deitar, e ela abriu o portão com um sorriso no rosto.
- Nossa, pensei que você não viria. - exclamou dona Pie, dando uma risada.
- Como eu disse, não tenho companhia... E a senhora foi tão bacana comigo, eu pensei em vi e conversar mais um pouco.
- Então entre, estou acabando de fazer o almoço. - dona Pie fez sinal para ele entrar.
- Licença.
Yago foi entrando, ele sentiu repulsa pela a simplicidade da casa, os móveis velhos e as paredes que já estavam pedindo uma nova demão de tinta, ele achou tudo horrível, mas escondeu seus pensamentos sobre um sorriso cativante.
- Cadê as suas filhas? - perguntou ele.
- Elas sairam, estou sozinho... Vamos pra cozinha, que as panelas estão no fogo.
Os dois entraram na cozinha, Yago se espantou, a cozinha era ainda mais simples que a sala. Ele se sentou numa cadeira, que estava encostada na parede perto da porta que dava para o terreiro. O cachorro se aproximou dele, era um animal grande e bobão. Yago resmungou algo para o cachorro, fazendo cara de nojo.
- Pode ficar tranquilo, ele não morde.
Ele deu um sorriso amarelo, e olhou feio pro cão, que saiu todo alegre indiferente ao visitante.
- Então, me fale um pouco de você. - disse Yago, tentando manter um diálogo.
Dona Pie ficou um tempo calada, pensando no que diria. Ela não era boba, e aquele garoto tinha um jeito um tanto quanto estranho e suspeito.
- O que você quer saber de fato?
- Não sei, só quero conhecer você um pouco mais.
- Não vejo o porquê de um jovem como você se interessar pelas histórias de uma velha.
- Desculpa, eu sei que é estranho esse meu interesse. - Yago precisava sensibilizar a senhora, e sabia o que fazer. - Eu nunca tive uma mãe, é você a figura de mãe que eu sempre sonhei.
Yago não mentira, sempre sonhara em ter uma mãe como Piedade. Na época em que viveu no orfanato, ele desenhava em sua mente a figura de uma mãe bondosa, atenciosa e carinhosa. Quando fora adotado pensou que encontraria a mãe que sonhava, mas Ana era uma mulher triste pela perda de seu filho, e desde do começo Yago sabia que ele foi adotado para aliviar a dor da família, o amor não era real. Ele nunca teve realmente o afeto de ninguém.
Piedade ficou sentia pelo garoto, um jovem tão bonito e tão triste.
- Como era a vida no orfanato?
- Triste e solitária... Sabe, no orfanato somos apenas números, mais uma boca pra alimentar, mais um corpo pra agrasalhar. As freiras que trabalham lá evitam criar laços afetivos com as crianças, no fundo elas estão certas.
Dona Piedade deixou uma lágrima rolar. Yago reparou que ela estava chorando, se aproximou dela.
- Você ficou triste?
- É triste ouvi essas coisas... - disse ela, enxugando as lágrimas. - Vamos mudar de assunto.
Conversaram sobre outros assuntos, enquanto Piedade acabava o almoço. Ela lhe contava sobre sua vida, das dificuldades que passou desde que saíra do interior de Goías, e veio para Minas. Mas, o que Yago queria saber ela não contou. Em nenhum minuto, ela deu a entender que tivera um filho, mas ele sentia que ela escondia muitas coisas, e ele ia descobrir...
Bruno e Lipe preparam um almoço especial, seguindo a nova dieta de Camila. Fizeram peixe grelhado, arroz integral e salada de maionese light.
- Meu deus, não sabia que você tinha dons culinários, Bruno. - disse Camila. - Está delicioso.
- Obrigado, fiz com muito carinho pra você.
- Perai, eu ajudei também! - protestou Lipe.
- Ah, sim, ele lavou o alface...
- E piquei os legumes da salada, seu ingrato.
- Esses meninos são muitos prendados, vocês tiram a sorte grande, amigas. - disse Agatha, se servindo de mais uma porção de salada. - Essa salada está ótima.
- E o peixe então? está divino. - exclamou Denise.
- Vocês vão explodir o ego desdes dois. - disse Camila.
Todos riram.
O almoço seguiu assim, alegre e descontraído. Depois do almoços, Camila foi se deitar. Lipe e Bruno foram pra sala assistir um jogo na tv, enquanto Denise e Agatha arrumavam a cozinha.
- Seu apê ficou lindo. - disse Bruno.
- É né, a Camila que cuidou de quase tudo sozinha... Esse apê é como uma extensão dela. - suspirou Lipe, pensativo. - Ontem senti tanto medo de perdê-la...
- Todos nós sentimos. A Camila é muito especial pra gente, e sei, que é principalmente pra você.
- Com certeza... Ela e o meu filho são minha vida agora.
O celular do Bruno tocou, ele se agitou assustado.
- Quem é? - perguntou Lipe.
- Hãm? Ninguém... Número desconhecido. - desligou o celular. - O jogo vai começar.
Yago e Piedade acabaram de almoçar. Ele a ajudou arrumar a cozinha, e depois os dois sentaram na varanda. Yago precisa entrar logo no assunto principal, não aguentava mais aquela lenga-lenga sem sentido.
- Sabe o que mais me entristesse no fato de ter sido abandonado, é não saber o motivo... - ele começou a falar como se tivesse falando pra si mesmo. - Que motivo leva uma mãe a abandonar um filho?
Piedade não disse nada, abaixou a cabeça. Ela não sabia o que dizer, melhor dizendo, ela sabia, mas não podia dizer.
Yago sabia que aquela era a hora certa:
- Qual foi o seu motivo? - ele soltou a pergunta que guardara na garganta todos esses anos.
Piedade se assustou com a pergunta, encarou o garoto, ele a olhava com um olhar que era uma mistura de ódio e súplica, esperando uma resposta.
- Do que você está falando? - ela se fez de desentendida.
Yago tirou a correntinha com a letra P do bolso, e a entrou a Piedade.
- Então, se lembra?
Ela ficou totalmente sem ação, admirou a corrente. Sem dúvida era a corrente que deixara com seu filho. Estava em frente ao seu filho e não sabia. Começou a chorar, Yago estava perdendo a paciência, queria respostas.
- Qual foi o seu motivo pra ter me abandonado?