Mundo Cão - cap. 35

Já tinha passado uma semana da morte de Carmem, e a missa de sétimo dia aconteceu numa sexta-feira. No mesmo dia em que fazia sete meses que eu estava em Juiz de Fora.

Mesmo não sendo religioso e de destestar igrejas, achei a missa muito bonita. Toda a família de Carmem estava presente, eles estavam mais tranquilos e conformados com a perda. Silas passou a missa inteira calado, sentado ao meu lado, parecendo está incomodado naquele lugar.

A missa acabou às oito da noite, foram mais uma meia hora de cumprimentos e pêsames. Já era quase nove horas quando eu e Silas nos sentamos na praça.

Ficamos calados um tempo, ele com o olhar distante, chutando pedrinhas do chão distraído. Eu admirava a bela lua cheia que iluminava aquela noite.

- Hoje faz sete meses que cheguei nessa cidade... - disse ainda olhando pra lua. - E conheci você.

- A sete meses você chegou e bagunçou minha vida toda. - ele continuava com a cabeça baixa.

- Isso é bom ou ruim?

- Ótimo. Por sua causa me sinto mais vivo, mais humano, e o mais importante, me sinto feliz.

Nós nos encaramos. Apesar de todos os problemas que enfrentamos nos últimos meses, estavamos felizes junto. Quando estavamos a sós o resto do mundo perdia todo valor, nossos problemas evaporavam de nossas mentes.

Trocamos um demorado beijo. Voltamos a no separar, ele acariciava minha mão.

- Denis, lembra nossa conversa no hospital, sobre religião?

Claro que me lembrava, naquela ocasião Silas estava confuso, e colocou em dúvida a existência de seu deus. Como ateu, dei minha visão sobre o tema, mas depois disso ele nunca mais tinha falado sobre o assunto.

- Sim, me lembro. Mas, por que está me perguntando isso?

- Depois daquele dia comecei a questionar minha fé. Acho que você me fez morder o fruto proibido.

Ele riu envergonhado. Acariciei seu rosto, fiquei feliz por ele, pelo simples fato dele está questionando, coisa que ele não atrevia fazer antes.

- Nossa, então eu sou a serpente? - disse brincando.

Ele riu.

- Com certeza... Você abriu meus olhos, e me mostrou um mundo além daquilo que eu conhecia. Denis, antes de você eu era uma pessoa limitada, que só seguia padrões e não me achava no direito de questionar. - segurou meu rosto entre suas mãos. - Bendito foi o dia que te encontrei, nessa mesma praça, nesse mesmo banco. Se existe um deus bondoso lá em cima, eu o agradeço por ter colocado você no meu caminho.

Nos beijamos novamente, seus braços me envolveram num abraço apertado. Ficamos em silêncio um tempo, trocando carícia e sentido a respiração um do outro.

- Hoje me senti meio estranho durante a missa. Tudo que o padre falou não faz mais sentido pra mim. - disse Silas, olhando para o céu, continuou: - Eu não acredito mas em deus, Denis.

Ele disse aquilo com pesar, mas com convicção.

- Silas, sei que você está sentido pela perda da sua mãe. Não acha que está sendo radical, não?

Ele deu uma risada, e olhou pra mim.

- Pensei que você ia ficar feliz, e ia me apoiar.

- Aquele dia no hospital eu não queria te convencer da inexistência de deus, Silas. Eu só estava explicando meu ponto de vista sobre o assunto... Eu sei que pra muitos a fé é importante. E você foi criado numa família reliogiosa, deixar de ter fé em deus, é um ato perigoso.

- Acho que não entendi. - ele me lançou um olhar confuso.

- Simples, meu amor, se você disser que não acredita mais em deus, isso será mais um motivo para preconceitos. Então, você tem que ter muita certeza antes de afirmar sua descrença.

- Denis, você acha que eu já não pensei nisso tudo? Acho que você está se esquencendo que já sofro muito preconceito por está com você... Não tenho mais medo de preconceito.

- Então, você tem certeza?

- Absoluta. Hoje durante a missa cheguei na conclusão, que não existe deus, nem paraíso e muito menos inferno. Temos que viver o aqui e o agora. Amando nosso próximo, não pra agradar um deus, mas sim pra agradar a nos mesmo.

- Você está certo, somos nossos próprios carrascos e vítimas. - beijei sua bocecha, ele sorriu. - Seja bem-vindo ao ateismo, meu amor.

- O que é ser ateu?

- Boa pergunta... - pensei um pouco antes de responder, afinal é difícil definir o que é ser ateu. Tentei explicar ao meu ver: - Ser ateu é ser livre de dogmas e crenças, ser livre pra construir suas próprias ideias e verdades, sem amarras ideologicas. Um ateu busca sempre o conhecimento, vive sempre questionando o mundo em que vive.

- Quero ter mais conhecimento. Você abriu meus olhos para esse novo mundo, agora tenho que aprender e me adaptar a ele.

- E pode contar comigo! - sorri.

- Ah, chega! Não quero mais passar texto por hoje.

- Vamos passar a última parte mais uma vez?

Léo convidara Bruno e Ingrid para estudarem o texto em sua casa. Faltava pouco mais de três meses para a estréia, e Ingrid ainda não tinha decorado todo o texto. A peça, que conta a história de um triângulo amoroso entre três amigos de infância, estava sendo aguardada com entusiamos pela crítica, por se dirigida por um conhecido diretor. Os três atores estreantes estavam empolgados pois a peça seria um divisor de águas pra eles, e nada poderia sair errado.

- Pra vocês se beijarem de novo? - Léo soltou aquela pergunta em tom de acusação. Bruno ficou envergonhado, Ingrid sorriu. - Vocês estão brincando com fogo, sabia?!

- Não estamos fazendo nada demais. O beijo está no roteiro. - disse Ingrid, insinuando uma indignação.

- Você pode não está fazendo nada demais, Ingrid. Mas, o Bruno está.

Bruno ficou com a cabeça baixa, e nada falou.

- Você não tem nada a ver com isso, Léo... Vamos embora.

Ingrid levantou, pegou suas coisas e foi para a porta, chamando Bruno para ir também. Ela saiu da casa sem se despedi. Bruno também se levantou e já ia saindo.

- Bruno, pensa bem no que está fazendo. - disse Léo, segurando o amigo pelo ombro. - A Denise não merece isso.

- Eu sei... Bem, vou nessa. Depois conversamos.

- Amanhã tem show da minha banda, dá uma passada lá no bar.

- Não sei se vai dá pra ir. Amanhã vou ajudar o Lipe e a Camila com as mudanças.

- Tudo bem, então até segunda.

- Até... Tchau.

Os dois trocaram cumprimentos, e Bruno saiu.

Léo acabara de fechar a porta, quando a mesma se abriu. Claúdio entrou, puxando uma pesada mala.

- Olá.

- Oi, pensei que você só ia voltar no domingo.

- Ah, não. Estava cansado daquela feira.

- Hum sim.

Claúdio tinha viajado pra São Paulo, para participar de uma feira de Gastronomia. Desde do episódio na boate, os dois mal se falavam. Léo estava envergonhado por ter beijado seu tio, e fazia de tudo pra fugir dele desde de então, e Claúdio estava fazendo o mesmo.

Léo se deitou no sofá, ligou a tv. Claúdio sentou no chão, abriu a mala e tirou um presente dela.

- Toma. - estendeu o embulho para Léo.

- Que isso?

- Um presente, oras.

- Por que? Não é o meu aniversário.

- Preciso de datas especiais pra presentear alguém que eu gosto? vai, abre logo.

Léo desembulhou o presente, era um óculos escuro Calvin Klein. Ele ficou hiperfeliz, adorava ganhar presentes, e fora que matinha um certo vício por óculos.

- Nossa, obrigado. É lindo. - Léo esborçou um sorriso encabulado.

- Olhei pra ele na vitrine e lembrei de você.

- Não precisava, tio...

- Coloca pra eu ver como fica.

Léo colocou o óculos. Claúdio sentiu novamente aquele arrepio por todo o corpo, como na boate, estava novamente encantado por seu sobrinho. Na verdade, aquele beijo não saia de sua cabeça, várias noites sonhando com ele e com o gosto bom de seus lábios. O tempo estava estagnado, os dois se olhavam sem dizer nada. Claúdio se aproximou de Léo, acariciou seu rosto.

- Para... - sussurou Léo, sabendo bem o que o outro queria. - Isso não é certo.

- Você tem razão, desculpa. - Claúdio se afastou.

Silêncio. Os dois ficaram parados, olhando para o chão. Não sabiam o que dizer, não dava pra negar o desejo, mas é errado o que queriam. O silêncio estava os suforcando.

- Eu... - os dois falaram juntos. Sorrisos envergonhados.

- Fala você primeiro. - disse Claúdio.

- Claúdio, vamos esquecer essa história. Rolou o beijo? Rolou. Mas, foi um erro, causado pelo efeito da bebida. - ambos sabiam que aquilo era mentira, o efeito do álcool já tinha passado, e o desejo continuou neles.

- Você tem razão... Vamos fingir que nada aconteceu. - disse Claúdio, forçando um sorriso amarelo. - Está com fome?

- Como sabe? Estou morrendo de fome. - os dois riram. Léo encarou o tio. - Vai cozinhar pra mim?

- Passei duas semanas numa feira de comida, não quero nem olhar pra cozinha... Pensei em pedi uma pizza.

- Legal! Vou ligar. - Léo pegou o telefone. - Sua parte é de Calabresa, né?

- Com certeza!

Oito horas da manhã, e todos já estavam acordados na república. Todo mundo ia ajudar na mudança de Lipe e Camila, depois teria um churrasco no novo apê. Estavamos reunido na cozinha, tomando o café da manhã.

- Quem diria que um dia eu ia ver meu amigo casado?! - exclamou Bruno pela milésima vez.

- De novo isso, Bruno? Tá parecendo disco arranhado. - resmunguei.

- Deixa, Denis. O Bruno está com ciúme do amigo. - disse Marcelo.

- Vai te ferrar, Celo... Eu não tenho ciúme do Lipe, eu sei dividir o que é meu.

- Eu também te amo. - Lipe deu um beijo na bochecha do amigo, deixando uma mancha de manteiga no rosto dele.

Já estavamos terminando o café quando Kiko chegou, dando bom dia a todos. Kiko continuava a morar com s. Pacheco, mas voltou a trabalhar na acadêmia, para alívio de Lipe, e a frequentar a república.

- E ai, Lipe, tá animado pra começar sua vida nova? - perguntou Kiko.

- Estou nervoso... Não sei se serei um bom marido e um bom pai.

- Claro que você vai ser, não tenho dúvida.

- Gente, vocês ainda estão tomando café?

Camila estava uma pilha, acordou às seis da manhã, para começar a arrumar suas coisas pra levar para sua nova casa.

- Oh louca, são oito horas ainda... Deixa a gente tomar café em paz. - resmungou Agatha.

- Estou ansiosa, poxa... Não vejo a hora de ver aquele apartamento todo arrumado.

- Tá, mas agora vamos tomar o café. - disse Denise, fazendo sinal para a amiga se sentar.

Camila sentou, e se serviu de café, pão com manteiga e bolo. Comia com pressa, sobre reclamações e advertências de Agatha e Denise. Paula entrou na cozinha reclamando da agitação. Já estava a uma semana na república e não acostumara com ritmo das companheiras.

- Você dorme demais, Paula. - disse Camila, mastigando um pedaço de bolo.

- Mastiga primeiro, Camila, depois fala. - Agatha chamou sua atenção.

- Não enche...

Passamos a manhã toda carregando caixas, montando os móveis, pregando quadros na parede (Camila adora quadros), arrumando as roupas no armário. O quarto do bebê foi o que deu mais trabalhos, era tantos detalhes, mas no fim, ele ficou incrível.

Terminamos tudo antes do meio-dia, Kiko e Lipe foram acender a churrasqueira para começar o churrasco. Marcelo, Bruno e Paula ficaram responsáveis pela carne, enquanto, eu, Agatha e Denise faziamos o almoço. Camila foi descansar um pouco.

- Então, como vai seu namoro? - perguntei a Agatha, enquanto picavamos as coisas do vinagrete.

- Está ótimo. A Paula é divertida, com ela não tem marasmo, sabe.

- Oh se sei... - disse, lembrando o agito que a amiga faz nas aulas.

- E você, como está?

- Feliz... Simplesmente feliz.

- Que bom.

O dia em companhia dos meus amigos foi magnífico. Todos estavam alegres e comunicativos, como não se via há tempos. Às seis da tarde todos já estavam um pouco embriagados, nos sentamos na sala, Bruno pegou seu violão e começou a tocar animadamente.

Camila saiu da sala e foi para seu quarto, como o papo e a música estavam animados, ninguém reparou que ela estava meio estranha. Me levantei para ir no banheiro, já estava fechando a porta quando ouvi um gemido vindo dos quartos. Corri para onde vinha o barulho. Camila estava jogada na cama, gemendo de dor.

- Camila, o que está acontecendo? - me aproximei dela.

- Estou sentido uma dor muito forte na barriga, Denis... Estou com medo.

Comecei a gritar por socorro, todos se alarmaram e correram para o quarto. Marcelo começou a fazer alguns procedimentos padrões de socorro. Lipe e Denise ficaram desesperados. Agatha ligou para o Samu.

Dez minutos depois o resgate chegou. Camila foi levada de maca para o hospital, Marcelo e Lipe foram com ela na ambulância. Os outros foram de carro.

No hospital, ficamos juntos na recepção, enquanto Camila era levada para a emergência.

- Marcelo, você não pode entrar e saber o que está acontecendo? - perguntou Lipe, que chorava feito criança.

- Não, Lipe. Fique calmo, logo eles vem dar notícias.

- O que você acha que é? - indagou Denise, que estava sentada abraçada com Bruno.

- Acho que foi um aumento brusco de pressão... Mas, não tenho certeza.

- Droga, eu falei pra ela não fazer muito esforço. - resmungou Agatha.

- E nem comer feito uma louca. - completou Paula.

- Ela abusou demais hoje... - disse Bruno.

- Eu não podia deixar ela fazer tanto esforço. - choramingou Lipe.

- Para gente. Não adianta ficamos agora se condenando... Vamos esperar e torcer pra tudo dar certo. - falou Kiko, sério.

- O Kiko está certo... Agora só podemos esperar por boas notícias.

Yago estava nervoso e confuso, enquanto andava pela rua pensava no que ia dizer e fazer. Começou a se perguntar se estava fazendo a coisa certa, mas agora era tarde, não voltaria atrás. Queria que o Marcelo estivesse com ele naquela hora, ele o daria mais coragem, além de controla-lo caso fizesse merda. Mas, ele não estava ali, e talvez Marcelo nunca mais queira falar com Yago.

Chegou, sentou numa mesa no canto, de onde podia ver todo o bar. Uma moça bonita veio o atender:

- Boa noite, o que deseja?

Yago olhou para a moça, e sorriu simpático.

- Uma cerveja e uma porção de mandioquinha, por favor.

- Já trago.

A moça sorriu e saiu. Yago olhou ao redor, o bar estava começando a encher. Um grupo de pessoas, trazendo instrumentos musicais, entrou no bar. Eles se organizaram num palco improvisado, e começaram a tocar samba. A cerveja e a porção chegaram, e Yago ficou no seu canto, olhando o movimento do bar. A dona do bar chegou, e Yago voltou todas as suas atenções para ela, controlando todos seus passos.

- Mais uma cerveja?

A moça bonita parou em frente a sua mesa, com um largo sorriso. Ela estava se insunuando para ele, Yago a encarou com um sorriso sacana na cara, deixou seu olhos correm pelo corpo da moça, voltando a encara-la deu uma piscadela, ela se derreteu toda. Ótimo, ele já tinha a nas mãos.

- Claro, por favor.

- Já trago.

Ela se virou e já ia saindo. Ele a chamou:

- Qual é seu nome mesmo?

- Dara.

- Bonito nome. Prazer, Dara, eu sou o Yago. - ele piscou novamente pra ela, a garota estava encantada. - Posso te fazer uma pergunta?

- Pode. - ela tinha certeza que ele ia convida-la pra sair, e ela com certeza ia aceitar.

- Aquela senhora é a dona do bar? - Yago apontou pra mulher ao longe.

Dara não escondeu seu desapontamento.

- É sim... Por que? - ela ficou irritada.

- Maria Piedade, não é?

- Dona Pie, ela gosta de ser chamada assim.

- Ah, sim... Você poderia chama-la?

- Pra quê?

- Queria conhece-la, falam tão bem dela.

Dara fez uma cara feia, virou-se e saiu andando. Yago continuou olhando ao redor. Estava tremendo, mas tentava se controlar, não podia desmostrar que estava nervoso.

- Olá. - disse dona Pie, se aproximando. - Olha que estranho,um jovem tão bonito, querendo me conhecer.

Yago riu, tentando parecer simpático.

- Um amigo frenquenta aqui e fala muito bem. Resolvi vim conhecer.

- Ah sim, quem seria seu amigo? - dona Pie se sentou na cadeira em frente a Yago.

- O Denis, o namorado do Silas, você se lembra deles? - Yago ouvira uma vez Denis falar do bar da Pie, e ele agora estava usando essa informação pra fazer um contato imediato.

- Oh claro. Eles são ótimas pessoas, tadinhos estão passando por tantas provações. - ela fez uma cara triste. - E como eles estão, não os vejos há tempos?

- Estão bem... - mentiu Yago, não sabia nada de Denis à semanas. - Esse bar é bem animado, um ambiente muito agradavel. - disse ele, tentando conquistar a confiança daquele senhora.

- Obrigada... Mas, você não é redondezas, né... Como se chama?

- Yago... Tem razão, eu morro numa república lá na baixada.

- Então é universitário? Que bom.

- Oh não. Eu sou dj, fui morar na república por ser mais barata...

- Entendi... Mas, o que te fez subi o morro?

Yago fez uma cara tristonha.

- Bem, estava sozinho e triste em casa, e não tinha pra onde ir. Ai me lembrei que o Denis tinha falado daqui. - ele lançou um sorriso amarelo pra dona Pie.

- Eu pensei que um dj vivesse cheio de amigos e convites pra festas...

- Amigos... Não tenho nenhum. - Yago lamentou, ficando triste. - E festas não acaba com a solidão.

- Nossa, não fica assim. Você é um jovem tão bonito e simpático tenho certeza que existe alguém que goste de você.

- Ninguém gosta de mim... Todos um dia me abandona... Ninguém nunca me amou de verdade, nem minha mãe me quis. - ele deixou as lágrimas brotarem nos olhos.

- Como assim?

- Minha mãe me abandonou na porta de um orfanato quando eu era um bebêzinho. Passei quase minha infância inteira nesse orfanato, fui adotado por uma família que não me dava a mínima, eu era deixado de lado enquanto eles cuidavam do meu irmãozinho... Sair de casa, e quando pensei que tinha encontrado amigos verdadeiros, eles me viraram as costas na hora que eu mais precisava de apoio.

Yago começou a chorar baixinho. Dona Pie também estava com os olhos rasos d'água, a história daquele jovem lhe abriu velhas chagas. Ela pousou a mão sobre as dele, e acariciou, sem conhecer aquele garoto ela já sentia um grande apreço por ele.

- Não fique assim...

- Desculpa por está te enchendo com os meus problemas. Eu precisava desabafar, e você tem uma energia tão boa que dar vontade de ficar horas conversando com você.

- Fique tranquilo, eu adoro ouvi os outros. E óh, você acabou de ganhar uma amiga.

- Obrigado. - ele deu um beijo na mão dela. - Adoraria ter uma mãe como a senhora. - Dona Pie corou com o elogio. - Seus filhos devem ser muito felizes por ter a você... A senhora tem filhos, né?

Pronto, chegara no ponto crucial.

- Tenho sim. Três meninas... - e apontando as meninas que atendia as mesas, nomeou-as. - Aquela é a Valeska, aquela é a Dara, e aquela é a Michele... São meus três tesouros.

- Ah sim, são lindas... Mas, você não teve nenhum filho homem?

Dona Pie ficou tensa, aquela pergunta mexeu com ela. Yago tinha acertado o ponto certo, agora era esperar a reação dela.

A reação foi o que ele esperava. Ela se levantou:

- Desculpa, mas preciso atender os outros clientes. - disse ela, visivelmente incomodada. - Fique a vontade.

- Espera, o papo estava tão legal... Desculpa se falei alguma coisa que você não gostou.

- Está tudo bem... Olha, eu não posso mesmo ficar aqui conversando, tenho que cuidar do bar... - vendo que ele ficou triste, ela completou: - Olha, volta amanhã e almoça comigo.

- Sério?

- Sim. Você será bem vindo.

- Então eu venho. - disse ele sorrindo.

Ela voltou ao trabalho. Yago pagou e saiu dali. Tinha sido melhor do que ele imaginou, aquele almoço seria inesquecível, isso ele tinha certeza.

- O que você e aquele cara tanto conversaram, mãe? - perguntou Dara.

- Nada demais, filha... Coisas sem importância.

Dona Pie não conseguiu se concentrar mais naquela noite, ela tinha a nítida certeza que já tinha visto aqueles olhos em algum lugar, mas onde?

Léo saiu do banho, e foi para o quarto se trocar. Colocou a calça jeans, e quando estava escolhendo uma camisa. Claúdio bateu na porta.

- Pode entrar.

- Oi, a Diana ligou e... - Claúdio ficou sem fala, admirando Léo. Sempre viu o garoto sem camisa, mas agora sentia uma coisa estranha toda vez que o via sem camisa pela casa.

- Perdeu a voz? - indagou Léo, vestindo uma camisa preta do Metallica. - O que a tia Diana disse?

- Ah sim, ela só vai voltar na segunda... Você vai sair?

- Vou tocar, esqueceu?

- Ah tah...

Claúdio ficou um tempo parado ali, sem palavras. Léo arrumava uma bandana na cabeça, e passou um deliminador nos olhos. Estava lindo, pensou Claúdio. Devia dizer algo...

- Onde vocês vão tocar hoje?

- No bar da fábrica. Por que?

- Por nada.

- Quer ir?

Claúdio ficou encabulado, estava deixando muito na cara seus desejos. E Léo estava se divertindo internamente, em saber que estava sendo desejado. Mas, aquilo não passaria de um jogo de sedução, Léo dizia isso pra ele mesmo.

- Devo ir? - insinuou Claúdio, com um sorriso.

- Claro, oras.

- Então eu vou.

As horas passavam e ninguém vinha nos dar notícia. Lipe e Denise estavam hipernervosos, andando e reclamando sem parar. Eu e Kiko no sentamos no pátio.

- A uma semana eu estava aqui com a família do Silas. Acho que eu nunca vou esquecer aquele dia.

- Imagino como deve ter sido difícil...

- Mas, agora já passou... Espero que esteja tudo bem com a Camila.

- Também espero. Essa demora é uma tortura, por que ninguém vem dar notícia?

- Não sei...

Ficamos conversando mais um pouco. Paula veio se juntar a nós, fumando. Ela era a mais calma ali, sempre dizendo que essa histéria não levava a nada, no fim ela estava certa. Depois de um tempo voltamos para a recepção.

Acabamos de entrar, e apareceu o médico, todos se aproximaram.

- Como ela está? - perguntou Denise, quase gritando.

- E meu filho? Está tudo bem?

- Calma, calma gente, deixa o doutor falar. - disse Marcelo.

Todos se calaram e olharam para o médico.

- Fiquem tranquilos, a paciente e o bebê estão fora de perigo.

Todos respiraram aliviados.

- Mas tem algo... - continuou o médico. - A grávidez que já era de risco, passou para uma de alto risco. A paciente terá que fazer repouso total até o parto, além de ter uma dieta especial.

- Sim, sim... Vamos fazer tudo para que ela fique bem. - disse Lipe mas calmo.

- Eu vou cuidar dela. Não vou deixa-la sozinha nenhum minuto. - disse Denise.

- Ótimo. Bem, tenho que ver outros pacientes.

- Quando ela vai ter alta?

- Talvez amanhã de manhã, ela tem que ficar de observação.

O médico retirou-se. Todos estavam mais tranquilos, já estavamos nos preparando pra irmos embora. Denise ficaria de acompanhante.

Lipe, Kiko e Bruno voltaram para o apartamento, para arrumar as bagunças do churrasco.

Eu e Marcelo chegamos na república. Me joguei no sofá.

- Que tal um chá? - Marcelo perguntou.

- Quero... Estou morto de cansaço, e pior que amanhã tenho que acordar cedo, para o almoçar na casa do Silas.

- Eu sei, também irei. A Sisa me convidou. - ele lançou um sorriso pra mim.

- Então, vocês estão namorando?

- Ainda não... Vou pedi-la amanhã.

- Boa sorte então!

- Ai, acho que bebi demais...

- Só acha?

Léo e Claúdio desabaram no sofá. Ambos estavam bêbados, depois de uma noite muito animada. Os dois riam sem parar.

- Você canta muito, cara... - disse Claúdio, soluçando e rindo.

- Eu sei que sou incrível!

- Devo concordar... - Claúdio se jogou sobre Léo, seus olhos se encontraram, os dois riam. O álcool deixava aquela situação mais aceitável. - Estou apaixonado!

Léo parou de rir e olhou espantado para o tio. Claúdio também não ria mais. Os rostos estavam quase colados, as respirações ofegantes. O passo seguinte era inevitável.

Claúdio colou seus lábios nos de Léo, que se deixou envolver pelo clima, abriu a boca dando passagem para a língua do outro. O beijo foi se intensificando, aos poucos já estavam grudados e se despindo com volúpia.

- Isso não é correto... A gente não pode... - dizia Léo entre sussurros e gemidos de prazer. - Você é meio tio...

- Eu não sou seu tio... - resmungou Claúdio ao pé do ouvido de Léo, seguindo de uma mordida no lóbulo da orelha. - Deixa eu te dar prazer?

Léo suspirou um sim.

Nada mais foi dito, os dois se entregaram a todo aquele desejo. Trataram ali mesmo no chão da sala.

Petrus Agnus
Enviado por Petrus Agnus em 19/07/2013
Código do texto: T4395084
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