MARIA E O ERMITÃO

Maria subiu o morro, entre trilhas e pedras. Não tinha pretensão de se ir muito além.

Talvez avistar as linhas do horizonte a encontrar-se na imensidão daquele vasto mar que se perdia na sua direção como se estive a procura de alguém.

Parou para mirar aquele descampado que abrigava algumas pedras em total solidão.

Ao olhar tal paisagem se perdia em pensamentos e de repente, por detrás daquele espaço vê surgir um ermitão.

De barbas quase ruivas, mal trapilho - com um cajado em sua mão, e os pés desnudos tocavam sua pele ao chão.

Maria já não sabia se tinha voltado aos tempos, se era realidade ou apenas ilusão...

E ele assustado, sem ter reação, o homem ergue a cabeça e sai em disparada.

Maria curiosa e sem ação, aproxima-se do local como que estivesse em imersão.

Abrindo a clareira com a palma de sua mão... Em meio ao matagal depara-se com aquele homem mais parecendo acuado a querer esconder-se, mesmo sem opção.

Maria reconhece aquele tom de voz que lhe implora para que não haja nova aproximação.

Assustado, meio que de costas, em posição de retirada espera a reação de Maria, que impiedosa não respeita o apelo do ermitão. Ao virar-se então de frente, não acreditava no que sentia. Sente um frio na barriga, ao depara-se com o que via...

Reconheceu aquele homem que há tempos não o via... E o coração de Maria agora também acelerado, fita aqueles olhos, que já não lhe era mais estranho.

Foi assim que Maria reencontrou aquele homem. Foram se aproximando como quem descontrolados... E os cantos dos pássaros em sinfonias os mantinham acordados.

Maria toca-lhe a face com a mesma ternura de alguém cujo tempo jamais tivesse se afastado...

E aquele homem, agora rude, de tez queimada do sol, com suas vestes quase rasgadas, em total abandono, ajoelha-se a sua frente e segura-lhe firme sua mão, a implorar que vá embora.

Maria não entende como pode estar ali , diante daquele homem, que um dia lhe fez juras de amor e por uma desilusão, alojou-se naquela caverna afastando-se da civilização.

Foram anos de procura, de vazio em seu coração, pois o homem que amava agora segurar-lhe a mão...

Viajou por tantos lugares, a procurá-lo em cada canto e quando não mais acreditava, estava ali na sua direção.

Ainda meio sem jeito, a perguntar-lhe os motivos, o homem de voz bonita diz que foi tudo ilusão... Que o amor o desacomodou-lhe, tirando-lhe a razão...

E agora já mais calmos, desbravando aquela caverna Maria escuta de longe o alarme do despertador anunciando que já era hora e que o sonho acabou.