O refúgio dos apaixonados
As almas apaixonadas não querem se separar, as almas apaixonadas não querem se perder na escuridão. Pobres almas que não esperaram o suficiente pra descobrir o amor, o amor verdadeiro. Tudo começa quando aqueles dois jovens do colegial se unem, eles começam trocando olhares e depois sorrisos, sem que percebam já estão presos, acorrentados, sempre pensando um no outro, eles não querem saber se o mundo vai desabar, eles esqueceram daqueles outros que os amam, eles são apenas lobos em busca de sangue querendo se devorar. Começa com um abraço apertado e uma entrelaçada de dedos, um beijo profundo e fortes arranhões, eles querem se possuir, mas não podem. Eles são selvagens e isso é perturbador e insano.
De mãos dadas o jovem casal está indo ao cinema ver um filme de romance, na espera da fila eles observam atentamente qualquer olhar que ameace a sua existência, voltando o olhar um ao outro estão se olhando diretamente nos olhos, querem enxergar seu reflexo, querem viver na íris. Descendo a mão da bochecha até a boca, o beijo é inevitável. Quando o filme começa os olhos estão atentos e as mãos dadas, eles não querem que os personagens do filme os decepcionem, a cada sinal de erro vem a vontade de chorar, ninguém quer sentir dor no coração. Aquele filme romântico é puro terror. Maldita morte, inimiga da paixão, por mais que queiram, sabem que não vai durar pra sempre, sabem que no final não vão ficar juntos e isso é agoniante. Não é um filme pessimista, o casal protagonista ficou junto até o final, até o final dos tempos. Velhinhos estão em uma enfermaria, um ao lado do outro, morrendo juntos e de mãos dadas. Nesse momento aqueles jovens não querem que isso lhes aconteça, eles querem imortalidade, pois o curto tempo de uma vida já não é mais suficiente.
Existe um penhasco, e existe uma lenda por trás dele que circulou por longos anos, segundo habitantes da região dois jovens de famílias inimigas se apaixonaram, as famílias porém não aceitavam qualquer união entre os dois. Desesperados, em uma noite foram até o penhasco e juraram amor eterno, em seguida pularam abraçados. Desde então dizem que qualquer casal de apaixonados, loucamente desesperados para permanecerem juntos, ao se jogarem daquele penhasco poderão ficar juntos na morte, por toda eternidade. E então, uma vez ou outra, desaparecem pessoas, sejam jovens da região, pessoas de meia idade ou mesmo alguns que vem de outros locais, e só resta julgar que são eles novas vítimas da paixão que se jogaram do penhasco, ou porque o tempo que a vida os oferece não parece o bastante para a paixão ou por algum motivo mais específico. E eles então se deixam levar pelo puro desespero, pela crença, pela possibilidade.
Nunca se comprovou nada, corpos não foram encontrados na região, talvez porque abaixo do penhasco existam enormes pedras pontiagudas cercadas por água, os corpos dilacerados seriam levados pelas correntezas fortes e alguns dos poucos restos ainda poderiam ser devorados por corvos. O que sabemos é que logo temos pessoas desaparecidas, famílias preocupadas, amigos e quaisquer outras pessoas próximas chorando, agoniadas, elas ligam sem parar procurando por notícias, mas não conseguem nada. Talvez é apenas um sinal de que uma paixão egoísta está fazendo pessoas sofrerem, mais uma vez.