UM PASSADO MARCANTE

Carlos puxou a manga de seu agasalho, pousou o seu olhar sob o relógio de pulso que marcavam as horas seis e meia. Andava um tanto quanto apressado. Estava um pouco meio atrasado para o Ônibus o qual apanharia as sete em ponto. Pela calçada parou para exercer a sua função de benevolência que lhe era peculiar, em doar uma moeda ao pobre velho maltrapilho que jazia naquela chão frio de inverno chuvoso.

Com a sua mochila sob as costas, apressou o seu passo e ao virar a esquina veio a abalroar com uma pobre senhora vindo quase a joga-la sobre aquela calçada úmida e encharcada. Ouviu ainda da pobre velha, palavras de baixo calão, ao se desculpar de seu ato vindo quase a perder o seu Ônibus. A rodoviária estava abarrotada de transeuntes à procura de seus devidos box em busca de seus, óbvios, Ônibus.

Carlos adentrou o seu Ônibus a procura da sua poltrona de número onze, ao lado da janela. Sentou-se, logo a seguir uma senhora um tanto quanto elegante, perfumada, sentou-se a seu lado. Ele por sua vez não havia prestado muito atenção nos movimentos daquela senhora de fino trato. Queria no entanto, que o seu ônibus criassem asas para que se chegassem ao tão esperado destino com maior rapidez. Ao visualizar as paisagens que passavam pela sua janela, seu pensamentos fora vagando ate os idos quando sobre um altar de uma nave de Deus, com um guitarra em punho, executava músicas sacras quando os seus olhos cruzaram com os dela pela vez primeira. Coisas espontâneas. Recordava ainda enquanto o padre dissertava sobre a homilia, ele absorto, olhava para aquela menina de olhos negros, cílios destacáveis aos olhos, boca amoldurada por um batom suave de menina moça com traços suaves puros e inocentes. Por várias vezes, aquela sena se repetiria ao longos de mais ou menos um ano.

Carlos agora havia se mudado daquela cidade em busca do aprimoramento de seus estudos e ao mesmo tempo de um trabalho também. Nunca mais a vira. Seus sonhos ate então de uma aproximação, se perdera pelos invernos e verões de sua vida.

Em uma tarde fria e sentado em sua mesa de trabalho com o seu No-Book, ainda absorto, olhava os gotículas da chuva que escorriam pela sua janela, como naquele momento escorriam -lhes as saudades daquela que não fora e tão pouco lhe havia dirigido uma sequer palavra em um passado um tanto distantes. O platonismo tomara o seu ser desde então. Seu violão permanecia inerte em uma canto da sala. Vez ou outra eram vibradas as suas cordas, buscando através de seu trinido, a imagem de sua musa bela de outrora. Ao voltar o seu olhar para o seu Notebook, onde estava focado em um site de relacionamento, visualizou fotos postadas por alguém de várias pessoas, mas, que dentre aquelas Carlos destacara de imediato uma pessoa. Reconhecera aquela figura doce suave que sobressaia entre as demais. Ele atônito naquele mesmo instante, como havia parentes seus ainda em sua cidade de origem, ligou para uma de suas primas abordando sobre o paradeiro daquela moça de seu passado, que somente algumas semanas de seus primeiros olhares, veio ter conhecimento de seu nome, Ana Maria.

Ana Maria naquele momento lhe inundava a alma novamente após tantos anos. Sua prima lhe dissera que sim, ela ainda residia naquela cidade e trabalhava em uma repartição pública. Carlos, por sua vez, fez várias tentativas frustrante de contatos pela net, mas tudo em vão. Passado algumas semanas daquela visão fotográfica na mente de dele, resolveu não mais ficar nas expectativas daquele platonismo que lhe invadira a alma desde a primeira troca de olhares entre ambos. Já se passaram vários anos desde então. Agora trêmulo, desce de seu ônibus chegando finalmente ao seu destino. A velha e bela cidade de sua origens estava ali. Intacta e tudo parecia como antes. A mesma pracinha com pequenos insignificantes retoques e ao seu lado, ainda, a feirinha livre. Seus pensamentos agora já não eram os mesmos. Em um repente pela vez primeira a realidade lhe toma conta. Sabatinou-se por várias vezes o seu eu. O que fazer, para onde ir, como procurar, haveria ela casado?!Se casada o fosse?

O que o remeteu a estar ali entre laços e traços. Nós atáveis ou não desatáveis?! Um sentimento de tristeza expectativas e misto de aflição agora era o seu dono.

Um vazio imenso cobriu-lhe a alma como uma escuridão desértica. Tudo naquele momento lhe passara pela sua cabeça. Não suportaria a veracidade de que aquela, que era a sua musa eterna, estivessem unida a outrem pelos laços de um matrimônio.- Teria filhos?! Não, não poderia de forma alguma esta concepção a roer-lhe as entranhas. Elevou o seu olhar para torre da igreja que ficava de fronte a pracinha e o relógio apontavas dezoito horas da tarde quando os sinos começaram o seu badalar repercutindo uma tristeza imensurável a Carlos.

Já havia duas horas de sua estadia naquela rodoviária. Um grande desapontamento jorraria por terra todos os seus sonhos de anos de expectativas que naquele momento poderia tornar-se em sofrimentos.

Ao se arguir resolveu por fim aquele angustiante e inquietante entardecer. Caminhou ate o guichê de passagens, comprou o bilhete e dando assim prosseguimento as suas vontades. Adentrou novamente aquele Ônibus começando assim a dar fim a um ciclo de sua vida de uma só vez. Sentou-se novamente naquela poltrona fria, não mais tão acolhedora como dantes. Pela janela mais uma vez, agora as imagens era de um passado, que tinha como epílogo, um jovem que amou uma jovem em uma passado marcante.