Dê amor antes que seja tarde
Naquela manhã acordei atrasada, olhei para o lado e você já não estava lá, levantei preocupada, andei até a sala e ao passar pela cozinha pude notar você coando o café com os olhos ainda inchados. Eu passei depressa nem notei que você estava preparando uma surpresa para mim, meu tempo era curto, tanta coisa a fazer que eu entrei no banho sem nem ao menos um bom dia lhe dizer.
Eu me arrumei tão rápido que nem acreditei, olhei para o relógio e percebi que ainda dava tempo de entrar no segundo tempo da faculdade, passei por você ainda vestindo o casaco dizendo aos berros que nos víamos nos jantar, você me pediu um abraço, mas, a minha pressa não me deixou lhe dar, lá de baixo eu te gritava que mais tarde eu iria compensar que o dia estava corrido, que eu tinha prova nem poderia faltar…
Lembro-me que nossas brigas eram sempre a respeito do tempo, o tempo que eu nunca tinha para passar com você, hoje eu me arrependo dos abraços que te neguei, do tempo que perdi.
Naquela tarde tive a oportunidade de voltar pra casa mais cedo, mas, você não estava lá.
Me emocionei ao chegar ao nosso quarto e encontrar um buquê de rosas vermelhas acompanhado de uma caixinha e um cartão.
No cartão havia um pedido: Case-se comigo amor que prometo lhe amar até a ultima rosa murchar.
Na caixinha duas alianças. Lindas, exatamente como eu sempre quis você sempre soube como me agradar.
Ainda com lagrimas nos olhos, caminhei até a sala, me sentei no sofá de frente a porta e esperei você voltar.
Intermináveis horas já haviam passado e você não havia chegado, passei a ficar preocupada, atitudes como essa não eram de seu feitio. Eu liguei repetidas vezes para seu celular e deixei inúmeros recados na sua caixa postal você não retornou.
De repente meu celular tocou, era você me ligando.
- Alô Guto.
- Olá quem fala?
- Quem é?
- Por gentileza a Dona Fernanda.
- Sou eu, mas quem é você? O que faz com o celular do Gustavo?
- Senhora eu sou o oficial Bryan.
- Oficial? O que o Gustavo fez?
- Não se trata do que ele fez se trata do que fizeram com ele.
- O que fizeram com o Gustavo?
- Senhora eu estou enviando uma viatura até a sua residência e eles irão traze-lá até mim ok?
- Eu não vou sair daqui até saber o que houve com ele.
- Não posso passar este tipo de informação pelo telefone espero que me entenda.
- Ele esta bem?
- Senhora não seja teimosa, apronte-se, pois a viatura já deve estar chegando ai.
Eu relutei meu amor, juro que não queria entrar naquele carro, algo me dizia que a noticia não seria boa, mas eu fui afinal eu me preocupava com você e precisava saber onde você estava.
Os policiais me levaram até uma delegacia, me fizeram esperar uns dez minutos enquanto conversavam entre si… O tempo parecia não passar, o TIC-TAC daquele relógio e a falta de informações estavam me levando à loucura.
Já estava impaciente quando comecei a gritar, todos a minha volta me olhavam perplexos como se gritar fosse crime, os policias me trouxeram um pouco de água com açúcar para tentar me acalmar só que tudo aquilo me deixava ainda mais irritada, eu resolvi acender um cigarro foi quando o oficial Bryan apareceu e apagou meu cigarro dizendo:
- É proibido fumar em lugares fechados… Principalmente na minha delegacia.
- Preciso de noticias e ninguém me dá sendo assim, com licença vou fumar um cigarro.
- Senhora me acompanhe até minha sala.
- Quem é você?
- Eu sou o oficial Bryan. Entrei em contato com a senhora hoje para falar a respeito de seu… Amigo?
- Namorado, marido, esposo, Minha vida. O que houve com ele? (eu ainda estava visivelmente alterada)
- Controle-se senhora. Ocorreu um acidente na avenida principal e…
- Acidente? Como foi este acidente?
- Um carro a toda velocidade atingiu um pedestre…
- Mas o Gustavo não estava de carro hoje.
- Senhora não me interrompa. O Gustavo foi atingido pelo carro em alta velocidade ao atravessar a pista com o farol vermelho, pelo visto ele tinha pressa de chegar em casa, no local encontramos um vestido de noiva, ele estava vestido com um Smoking e carregava uma carta na qual a senhora era a destinatária.
- Cadê o Gustavo? Em que hospital ele está?
- Senhora infelizmente ele não resistiu e faleceu no local, eu a chamei aqui para que fosse feita a identificação do individuo. Você se sente bem para isso? É capaz de identificar o senhor Gustavo D’Prado?
- Claro que sou capaz de identifica-lo.
- Tem certeza que não prefere que isto seja feito por outro familiar?
- Eu preciso me despedir dele.
- Tudo bem senhora neste caso acompanhe o policial que ele irá te levar até o IML.
É impressionante o quão fria eu fui, eu não chorei, não naquela hora, não tanto quanto devia, eu caminhava em direção à porta do necrotério ainda sem acreditar que você estaria lá, mas você estava.
Abriram a porta vagarosamente e me convidaram para entrar, minhas pernas haviam travado, meus olhos insistiam em se fechar, mas meu coração desejava incessantemente tocar teu corpo… Então eu entrei, era como se a pouco houvesse aprendido a andar, ia devagar, passo a passo, como se tivesse medo de perder o chão, ia analisando o caminho até chegar a você que se encontrava no meio daquela sala mórbida, fétida, sombria.
Fiquei por um tempo em pé, intacta, encarando teu rosto totalmente desfigurado, seu corpo desfalecido. Algo me fazia querer deitar ali com você, te sentir por mais que já estivesse gelado eu precisava disso, deitei cuidadosamente ao teu lado, me ajeitei calmamente em teus braços e ali repousei, fechei os olhos na tentativa frustrada de ao abri-los constatar que tudo aquilo havia sido apenas um pesadelo e nosso belo dia estava apenas começando… Isso não deu certo.
Sentei na maca, segurei tua mão, te beijei a boca e fechei teus olhos enquanto lhe dizia: Amo você e jamais lhe esquecerei, por favor, me espere onde estiver.
Peguei uma tesoura que havia numa mesa ao lado, mas os policiais interviram com medo de que a minha falta de lucidez me fizesse cometer alguma loucura, eu só queria um pedaço de seu cabelo para guardar de recordação, eles não entenderam me arrastaram para fora, me deram alguns tranquilizantes e me levaram para casa.
Não tenho a mínima ideia de como entrei em casa, sei apenas que acordei de banho tomado e com aquele baby doll que você comprou pra mim… Sim o seu preferido.
Levantei sonolenta, vasculhei a casa e não te encontrei na mesa alguns papéis me trouxeram para a dura realidade: Você se foi… Me arrependo pelo abraço que não te dei, pelas juras de amor que não pronunciei, e por tudo que nos privei por falta de tempo. Quando algo assim acontece a gente arruma um tempo, incrível como não consegui isso antes.
Talvez eu tenha ficado uns meses trancada em casa depois deste incidente, me isolei de todos, não mereciam minha companhia… Lembro-me que você costumava dizer que sou coisa rara, eu sabia que não era verdade, mas entrava no seu jogo só pra poder lhe dizer que eu era toda sua e então te ver abrir aquele sorriso largo, o sorriso mais lindo que eu já vi.
Você não faz ideia do quanto sinto sua falta e como esta sendo difícil se adaptar ao meu mundo sem você, eu costuma dizer que você era meu mundo, mas agora você se foi… O que será de mim?
Minha família tentou entrar em contato comigo depois de descobrirem o que aconteceu isso levou exatamente cinco meses, tempo demais… Sua família ainda me culpa por tudo, como se eu pudesse prever o que iria acontecer.
Eu parei de trabalhar, as nossas contas acumularam, ainda te ligam lá de Paris oferecendo aquela vaga de emprego, outro dia encontrei duas passagens anexadas na sua agenda e um plano, pelo visto nós moraríamos lá… Ótima escolha.
Ontem revirando os armários encontrei nossas fotografias, eu não sabia se ria pelo que passou ou se chorava por saber que não volta… Resolvi chorar, era um choro contido há alguns meses, eu havia chorado pouco desde que recebi aquela triste noticia.
Hoje já faz um ano que não o vejo, um ano que você partiu um ano que foi sepultado e eu não estava lá… Precisei ser hospitalizada, não pode te dar um ultimo adeus.
Precisei deste tempo só pra mim, pra me adaptar a uma nova “vida”, a toda esta solidão só agora me dou conta da importância desse adeus, você gostaria que eu seguisse em frente, provavelmente me diria zangado:
- Fernanda larga de drama, a vida passa depressa não temos tempo para lamentações, anda levante-se daí enxugue as lagrimas… Vamos sair?
E eu responderia:
- Gustavo não enche isso não é drama, eu sinto, eu choro é normal quando se sente.
Você me faria cócegas, me daria forças pra continuar.
Você não está mais aqui para me animar, mas tenho a impressão que onde estiver esta torcendo pra que eu consiga me levantar sozinha por este motivo resolvi te visitar.
Sinto sua falta sabia? Foi difícil encontrar seu tumulo, foi engraçado entrar no cemitério com um vestido de noiva manchado de sangue, toquei o terror aqui muitos fugiram pensando ser assombração, mas eu vim mesmo assim… Vim dizer que independente de tudo eu te amo que quero lhe encontrar quando for minha hora e que ainda me culpo por não ter sido boa o bastante pra você, eu trouxe aquela carta que você carregava naquele dia triste em que a sua pressa te levou de mim, eu não tive coragem de ler antes, a mantive intacta mas pensando bem talvez seja esta a forma de me libertar de vez deste sentimento de vazio que se alojou em mim desde o dia de sua morte.
Nanda meu grande amor,
Estamos juntos há quanto tempo? Um ano? Dois? Três?
Três anos, cinco meses, trinta dias e algumas horas para ser mais exato… O que este tempo significa para você? Pouco?Muito?nada ou tudo?
Para mim isto é pouco comparado à vida que quero ter ao seu lado, a família que quero construir com você, aos sonhos que quero tornar realidade…
Sei que pode parecer precipitado isso, mas, um amigo me ensinou que nunca é tarde demais e nem cedo demais, tudo tem a hora certa e esta é a hora…
Fernanda Diaz, eu quero que você seja a mãe dos meus filhos (vamos montar um time de futebol ok?) , a rainha do meu lar, quero que você seja a mulher que vai acordar ao meu lado todas as manhãs até o dia da minha morte, que vai me ajudar a levantar e seguir em frente e me dar uns puxões de orelha quando necessário; Eu quero ser o homem que você vai ter orgulho de chamar de esposo, que vai pedir ajuda quando precisar e que vai te amar além da vida, quero ser capaz de fazer brotar um sorriso em seu rosto toda vez que ouvir meu nome.
Eu quero casar com você, já fiz planos para nós dois.
Desde o dia que te conheci soube que seria você a mulher da minha vida, a dona do meu coração… Não tive duvidas afinal você encanta a todos com seu belo sorriso. (Espero que ele nunca se apague, Sorria Fernanda eu te amo, Sorria por estar viva, Sorria por tudo que vivemos e que ainda vamos viver).
Se você disser que sim, hoje vamos nos casar, eu planejei tudo, a capela nos aguarda o vestido está lá no quarto junto com as alianças, eu comprei até um Smoking você disse que fico elegante assim.
Te espero no altar, Não esqueça as alianças…
Ps: Fernanda com você eu sou o cara mais feliz do mundo, eu te amo, mas, entenderia perfeitamente caso a resposta fosse não… Espero que pense bem, nosso futuro depende de você. A cerimônia é as 23:00 não se atrasa.
Ps²: Em caso de duvida pense nos momentos que tivemos Tudo que enfrentamos todas as alegrias e tristezas, pois nem só de alegrias se constrói uma história… Afinal ninguém é feliz para sempre
Ps³: Independente de qualquer coisa meu maior sonho é ver você feliz, seja com quem for… Seu sorriso é muito lindo para ficar escondido.
Te amo Nanda, sorria sempre meu amor.
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Então é esse o fim guto? Porque será que eu tive a impressão que você já estava se despedindo? então é isso? Acabou? É acabou… Pela primeira vez depois da sua morte me sinto mais leve, feliz, completa, de alguma forma estou te sentindo mais presente em mim, tenho certeza que este não será o fim da nossa historia afinal, Você me ensinou que nada nem ninguém é capaz de separar um grande amor… Nem mesmo a morte hoje
Vou embora sorrindo, pois sei que um dia ainda vou te reencontrar…
Eu te amo Guto… Nem a morte será capaz de mudar isso.