{ Em meio ao seu nada }
{ Em meio ao seu nada }
Thaís Falleiros 11-07-2013
Ele mirou-a por um longo tempo. Ela estava ali, sentada na montanha olhando para o horizonte, calada, concentrada no nada. O verde a rodear-te por toda a parte e mais ao alto, um céu azul com algumas nuvens a floreá-lo. Alguns pássaros faziam barulho e pareciam brincar na imensidão do ar.
De maneira mansa foi se aproximando. Queria ajuda-la, mas não sabia ao certo como fazer. Nem sabia se Sua presença seria benéfica ou maléfica àquele ser.
Tomou coragem e sentou-se ao seu lado.
- Você quer conversar?
Ela respondeu sem virar a cabeça como que se falasse consigo mesma. Como que se suas palavras fossem apenas uma extensão de seu pensamento:
- Estou sentindo tanta solidão.
- Mas olhe, repare bem, há tanta coisa nesse mundo, tanta beleza nesse momento. Tanta poesia nessa paisagem.
- Aqui dentro está tudo tão vazio.
Nada preenchia a falta que ela sentia. Era uma ausência, uma saudade, um medo do futuro.
O passado já tinha ficado para trás, tantos acontecimentos e nada mais existia. Ela acabara de se separar de um grande amor. E não era um simples amor, desses de adolescentes que quando se separam cada um vai para seu lado e vive sua vida como se nada tivesse passado.
Não. Era uma história real. Dessas que nenhum livro se interessaria em registrar. Era uma história do dia-a-dia, da vida como ela é. De um relacionamento que sempre fora calmo, pacífico, rotineiro. Um casamento sem grandes emoções. De duas pessoas adultas que resolveram um dia formar uma família, juntar os sonhos, os dias.
E eles eram felizes. Tinham seus cachorros, sua casa, seus móveis que foram comprados com muito suor e aos poucos. Viviam numa cidade pacata. Tinham uma rotina que consistia em acordar cedo, ambos irem trabalhar, voltarem para almoçar juntos, e no fim da tarde sentarem para assistir às novelas, aos programas de tv e brincar com os cachorrinhos que, diga-se de passagem, eram seus filhos.
E nesses seis anos de união sempre faltara algo. Talvez a própria emoção. A solidão que ela sentia em morar numa cidade desconhecida, longe da família. A sensação ruim de se ver dependente do carinho, da atenção daquele homem a dilacerava por inteiro. Ela precisava sonhar, viver intensamente, rir com mais fúria, amar com mais fúria. Ela precisava sentir-se sua.
- Agora estou aqui, no meio de meu nada.
- Olhe, pense bem... Esse nada que te parece nada, mas que na verdade é seu tudo, é o caminho que você tem para chegar novamente em você. Você perdeu muito ao se afastar dele, ao deixar seus filhos que é como você gosta de chamar os cachorrinhos. Mas agora é justamente a hora de se auto reencontrar.
Ela continuou parada, olhando para a paisagem linda como que se não tivesse ouvido uma só palavra.
Era como se o mundo não compreendesse sua dor. Como se não houvesse ninguém a fazer-te companhia. Como se todos a tivessem esquecido. Como se ela mesma não soubesse mais quem é.
Ele continuou ali ouvindo as vozes do coração daquela moça tão bela, tão jovem, tão cheia de sonhos, tão desejada de um amor. Acariciou-a lentamente em seu rosto. Mas ela não se mexeu. Ofereceu-a uma rosa que estava ao seu lado. Mas ela não notou. Continuava ali parada, entregue a seus pensamentos e ao nada.
Ele pacientemente a esperou. E ela finalmente percebeu que não estava sozinha. Ele sempre a acompanhara, desde a eternidade, até a eternidade. Ela sabia, lá no fundo que o nada do mundo sempre era preenchido pelo tudo Dele.
O dia foi se despedindo aos poucos. E os pássaros continuavam a brincar. Agora pareciam cantar mais e mais alto. O sol foi dormindo até que chegou o momento de se levantar e ir em busca da própria vida. Já não era possível ficar ali por todo o tempo.
Ele a ajudou, gentilmente a levantar. E ela foi, caminhando, calma, pelo caminho de estrada de terra. Agora sentia uma paz que não sabia de onde vinha. Como se algo tivesse recarregado suas forças.
Ele a acompanhou.