Ah, a vida...

A vida é mesmo uma caixinha de surpresas...

Conta-se uma história de uma princesa que morava num castelo cor de rosa, no alto de uma colina onde o vento, quando soprava, cantava uma música suave aos ouvidos.

Um dia, um príncipe apareceu e levou dali a princesa, mostrando pra ela um mundo de conto de fadas muito maior que o castelo em que ela morava. Porém, o mundo maior era limitado e, ao acabar de percorrê-lo, ele simplesmente a deixou, pois não havia mais nada que quisesse conhecer ao lado dela. Ele partiu para outro mundo e ela teve de fazer o caminho de volta sozinha.

Ao percorrer o trajeto, deu-se conta de que era tudo muito mais diferente, duro, frio, difícil do que imaginava. Teve muitas vezes vontade de desistir e viver a esmo, mas, por uma força inimaginável ela foi guiada, a passos cansados, de volta ao seu lugar. No início foi assim: ela não reconhecia nada, nem as pessoas, nem o rosto que a olhava assustada no espelho. Até que, aos poucos, ela foi entendendo que acostumara-se tanto tempo num mundo fechado no alto de seu castelo que a vida já tinha mudado as formas várias e várias vezes. Até seu castelo cor-de-rosa não era exatamente rosa. Ela pintou-o de solidão, tristeza, luto.

A medida em que o tempo foi passando, algumas coisas foram mudando. O castelo já não lhe cabia, e o mundo que já não era desconhecido - porém, ainda era um fardo doloroso - mostrou-se muito além do que seus olhos puderam ver um dia. E ela tomou coragem. Sacudiu as mágoas, trancou o medo numa caixa, vestiu-se de uma luz vibrante e partiu.

Ao longo de sua jornada, encontrou muitas pessoas. Algumas a fizeram rir, outras a fizeram chorar. Algumas não causaram nada. Outras, deixaram pedaços de seus corações para ela, assim como levaram um pedaço do seu.

E quando mais uma vez o destino lhe pregou uma peça, trazendo um cavalheiro de armadura dourada, o brilho mostrou-se apenas como latão e não como ouro, ou seja, logo, logo, enferrujou, estragou, perdeu o brilho.

Diante da dor que sucumbia seu peito, a princesa, agora acostumada a construir cartelos no ar, se viu prostrada, inerte, sem forças, sem vez, sem voz. Rogou a Deus por uma chance, por um refresco, por um pouco de paz. Adormeceu entre lágrimas. Acordou com uma quintura no peito que parecia um fogo a consumir por dentro.

Ela tomou sua bagagem, tirou o que não pretendia mais usar e levou o mínimo necessário. Foi quando o milagre aconteceu: um doce cavalheiro, vindo de uma terra distante, caiu em suas graças - e ela nas dele - criando um laço tão bonito, como aqueles de fita de cetim, grandes, brilhosos, vermelhos, que todo mundo gostaria de saber como fazer. Laços, não nós. A vida, outrora sombria, foi tomando novas cores, mais intensas, brilhantes. A princesa agradecia a Deus todos os dias pelo presente que lhe fora dado, justamente quando ela, já descrente de tudo, decidiu não esperar mais nada da vida. E a cada instante, outra flor florescia, outro encanto, outro beijo, outro abraço, outra forma de amar. Um amor bonito, com gosto de infinito... ousava dizer.

Mas ainda não acabou. Ainda não foi este o seu final feliz. Seu amado cavalheiro do laço de cetim vermelho precisou partir. Seus sonhos novamente sucumbiram à dor - quase. Já conhecedora dos caminhos da tristeza e solidão, ela se fez forte. Permaneceu de pé, quando todas as suas forças a jogavam contra o chão.

Hoje, seu castelo não é cor-de-rosa, nem construídos no ar. Seu castelo é o mundo, neste ela pode ousar. Não se sabe o que virá, se seu cavalheiro retornará ou se outros amores irão invadir seu peito vazio. Ela sabe apenas que seu último cavalheiro, aquele mesmo do laço de fita de cetim vermelha, anda por aí. Sabe Deus - apenas Ele - o que irá acontecer daqui por diante...

Essa história não tem um final. Não foi escrita por mim. Essa história é contada por Papai do Céu, que nos mostra a todo instante que seus planos são muito, muito loucos... mas sempre em nosso beneficio.

Aguardemos, então, o final (feliz) dessa história...