Codinome Beija-flor - cap. 16

Marcos acordou, estava sozinho na cama, chamou por Pablo, não ouve resposta. Levantou e foi procurar pelo namorado. O encontrou sentado no sofá, com o olhar distante.

Marcos se aproximou.

- Ei, já acordado, não são nem seis da manhã?

Pablo não respondeu. Estava com olhar vago e triste. Parecia está em algum tipo transe.

- O que foi querido? - Marcos sentou ao lado dele. - Fala comigo, Pablo.

Pablo o encarou, seus olhos estavam inchados e vermelhos, denunciando que havia chorado por horas.

- Eu não conseguir dormi. Eu vim pra sala para não te incomodar. - Pablo falava com a voz triste e abafado pelo choro contido.

- Por que você não dormiu? Você precisa dormir, meu amor, senão, não vai aguentar...

- Eu não consigo parar de pensar, Marcos... - Pablo fechou os olhos, estava visivelmente casado. - Minha mãe... Foi ela, só pode ter sido ela...

- Pablo, para de pensar nisso. É a polícia que tem que achar o culpado, não você.

- Você não entende, eu já sei quem é o culpado. - Pablo se levantou, e ficou andando de um lado para outro. - Foi ela. Mas ninguém queria tirar o Kaio de circulação.

- Tá bom, e se foi mesmo ela, você vai entregar sua mãe para a polícia?

- Lógico, o Kaio é meu melhor amigo, não posso perdoar alguém que fez mal pra ele. Até mesmo minha mãe... - Pablo voltou a sentar, e segurando a mão de Marcos, continuou a falar. - Marcos, se foi minha mãe que mandou matar o Kaio, eu nunca vou me perdoar.

- Você não tem culpa de nada...

- Claro que eu tenho. Eu sou o motivo...

- Você não tem culpa de nada. Você não poderia adivinhar que sua mãe é uma diaba. - Marcos estava morrendo de pena de Pablo, mas não sabia como ajuda-lo. - Vou fazer um café, você vai tomar e depois vai dormir...

- Eu tenho que ir para o escritório, agora só tem eu para tomar conta dos projetos...

- Não, Pablo, você não vai sair daqui... Vou ligar para a Melissa e avisar que não irei trabalhar também.

- Marcos, eu preciso ir.

- Você não vai! - exclamou Marcos irritado pela teimosia do namorado. - Poxa, deixa eu cuidar de você.

- Desculpa, Marcos, estou sendo um peso pra você, neh. - choramigou Pablo.

- Eu te amo, seu bobo. Você nunca será um peso para mim. - Marcos abraçou Pablo. - Agora, vai tomar um banho, enquanto eu faço café.

Pablo sorriu.

- Obrigado por está na minha vida, Marcos. Eu te amo demais.

Os dois se beijaram.

Dora entrou na sala de espera, Jussara estava sentada próxima a janela. Não havia mais ninguém no lugar.

- Cadê o Pablo?

- Em casa.

- Você ficou sozinha aqui a noite toda?

- Minha mãe ficou aqui comigo até a pouco.

- Por que você não foi para casa também?

- Não vou abandonar o Kaio.

Dora nunca gostou de Jussara, mas naquele momento sentiu apreço pela garota.

- Jussara.

- Hmm?

- Não me leve a mal, mas tenho que perguntar uma coisa...

- Pode perguntar.

Dora buscou a melhor formar de falar aquilo, mas não saiu da forma que queria:

- O que você sente pelo Kaio é sincero ou é por dinheiro?

Jussara já esperava aquele tipo de pergunta. Era até aceitável que pensassem assim.

- Dora, você acha que fosse por dinheiro eu estaria aqui sentada nessa sala, sem comer e sem dormir por horas a fio? - a voz de Jussara era calma, sem rancor pelas suspeitas de Dora.

- Desculpa Jussara, mas eu precisava perguntar, entende? Você convive a anos com nossa família, e nunca mostrou interesse pelo Kaio, e agora do nada aparece dizendo que é loucamente apaixonada.

- Eu sempre amei o Kaio, mas sentia medo de ser rejeitada. Ele sempre foi frio comigo, nunca tinha dado brechas... Até aquele dia... - ela começou a chorar.

Agora Dora tinha certeza que era verdadeiro o sentimentos da moça, ficou mais tranquila em relação a isso. Pelo menos, Kaio teria alguém que o ama ao seu lado.

- Não chora, vai ficar tudo bem... Vou buscar um café para você.

- Obrigada Dora.

Pablo e Marcos ficaram na cama o dia inteiro.

Mesmo com todos os problemas, Marcos estava contente por ter Pablo ao seu lado. Por poder cuidar e proteger seu amado, sem o medo de perde-lo. Sonhara uma vida inteira com aquilo, e por mais que o momento fosse triste e complicado, Marcos sentia seu coração leve.

Já passava das 18hrs, Pablo despertou assustado por causa de um pesadelo. Olhou para o lado, Marcos estava dormindo tranquilamente. Pablo não pode evitar o sorriso no rosto ao admirar seu amado, dormindo como um anjo. Pablo se sentiu o cara mais sortudo do mundo por ter alguém que o ama tanto, como Marcos.

Levantou devagar, para não acorda-lo. Foi tomar um banho. Trocou de roupa. Marcos ainda dormia. Colocou os sapatos, se debruçou com cuidado sobre o namorado e lhe deu um beijo no rosto.

Pegou a carteira e as chaves, e saiu sem fazer nenhum barulho.

Murilo passara o dia inteiro trancado no quarto. Dona Isabel várias vezes bateu na porta, mas não recebia nenhuma resposta. Murilo estava deitado na sua cama, com o pensamento correndo longe.

Ele tentava achar uma forma de atingir a Marcus e Pablo, e acabar com o casalzinho feliz. Mas dessa vez seria mais cuidadoso, não poderia cometer erros.

Uma luz se acendeu em sua cabeça!

Certa vez, Alisson tinha comentado que Pablo trabalhava para a empresa da noiva, e que o casamento dele seria o golpe do baú do amo. Murilo precisava descobrir tudo sobre aquele noivado.

Pegou o celular e discou.

- Alô?

- Oi, Alisson, sou eu, o Murilo... Tudo bem?

- Ah é você, seu maluco... O que você quer?

- Podemos nos encontrar?

- Não. - Alisson foi categórico. Aquele garoto era um abusado em procurá-lo, depois de ter ameaçado o Marcos. - Escuta aqui, Murilo, o Marcos é o meu 'best friend' e você o fez mal, logo, estou te odiando.

- Alisson, eu sinto muito, tudo que eu fiz foi por amor... Olha, vamos sair para conversar. Juro, que não quero fazer mal a ninguém.

- Tenho nada pra falar contigo...

- Por favor... - Murilo fez uma voz de choro. - Estou muito mal com tudo isso, só queria conversar e ouvi alguns conselhos, estou tão perdido.

- Aff, tudo bem... Onde vamos nos encontrar?

Bianca chegou em casa cheia de sacolas de compras. Ramiro que estava sentado na sala, estranhou aquilo.

- Onde você estava? E que sacolas são essas? - indagou o pai.

- Fui ao shopping, descarregar as tensões. Fazer compras me acalma, sabe pai...

- O seu irmão no hospital, e você dando voltinhas no shopping. Nem parece que você liga para o sofrimento do seu irmão. - Ramiro nunca ligara para o jeito fútil da filha, mas aquilo lhe pareceu muito errado. - Beatriz, você nem passou no hospital hoje.

- O que ia fazer lá, papai? Ficar sentada naquela sala fria, chorando pelo Kaio. A gente nem pode vê-lo, e se for para chorar, choro em casa. - Beatriz estava inpaciente. O pai não conseguia entender que aquela era a forma que ela lidava com a dor, fazendo compras. - Pai, eu amo o Kaio, e estou sofrendo muito também. Mas, não vou ficar presa em casa ou num hospital, chorando. O Kaio não ia gostar disso.

- Talvez você tem razão...

- Vou subi, tenho que guardar essas coisas. Se o Pablo ligar, diga que estou bem, mas não quero conversar. - ela sabia que ele não ia ligar, mas dizer aquilo dava um alívio em seu coração.

Marcos abriu os olhos, o quarto estava todo as escuras. Esticou a mão a procura do corpo de Pablo, mas ele não estava ali.

Levantou, e procurou pelo namorado por todo o apartamento. Nada dele.

- Droga, onde ele foi? - Marcos tinha a clara ideia de onde Pablo tinha ido. - Espero que dei tudo certo.

Sem poder fazer nada para ajudar, Marcos se sentou na sala, e ficou ali esperando Pablo voltar.

Pablo estacionou o carro em frente ao prédio, onde tinha passado quase toda sua vida. Agora parecia uma moradia estranha, como se ele nunca tivesse estado lá.

Pablo estava ainda dentro do carro, olhando para o prédio, quando viu um estranho cara saindo do prédio. Pablo encarou o homem, ele teve a leve impressão de já ter visto ele, mas não se lembrava de onde.

- Que bom, você veio mesmo. - Murilo abriu belo sorriso.

- Sejamos rápido, nem sei por que estou aqui...

- Alisson, eu amo o Marcos, e sei que fui rude com ele. Mas, foi por amor... É dificil aceitar, que o cara que você ama tem outro... Você tem que me ajudar a tê-lo de volta.

- Você nunca teve o Marcos, seu idiota... O Marcos e o Pablo se amam, você não tem chance nenhuma... Murilo, você é jovem e bonito, deve ter um monte de cara afim de você. Parte pra outra e deixa o Marcos em paz.

- O Pablo ainda está noivo, né?

- O que você tem a ver com isso?

- O Marcos está de acordo com o golpe do baú? - Murilo estava jogando todas suas cartas, para conseguir o que queria.

- Lógico que não... O Pablo vai terminar tudo... Olha, tenho que ir...

- Qual é mesmo o nome da noiva do Pablo?

- Pra que você quer saber?

- Curiosidade...

- Beatriz... Satisfeito?

Alisson estava, sem querer, dando a informação que Murilo tanto queria.

- Por acaso, essa Beatriz, não é a herdeira da "Borges & Cia." - Murilo não podia acreditar, seria mais fácil do que ele pensava.

- É ela mesma... Você está muito curioso, hein. - Alisson estranhou o jeito do Murilo, mas não via problema em dar aquelas informações.

- Desculpa, tomar seu tempo... - disse Murilo, dando a entender que não tinha mais nada para dizer.

- Tchau, Murilo, se cuida.

- Tchauzinho...

Murilo ficou observando Alisson se distranciando, com um sorriso no rosto.

- Beatriz... - disse ele, saboreado cada letra do nome da moça. - Agora já sei como vou destruir o Pablo.

Pablo abriu a porta do apartamento da mãe com a chave que ainda tinha. Ela não estava na sala. Ele seguiu para o quarto.

Ao abrir a porta do quarto, Pablo encontrou ela sentada na cama, arrumando algo numa caixa.

- Foi você! - ele não conseguiu segurar a acusação.

Ela se virou assustada.

- Pablo, o que você está fazendo aqui? - Petála tentou controlar a supresa. Fechou a caixa, e sorrindo continuou. - Sentiu falta da sua casa e da sua mãe.

- Foi você que mandou matar o Kaio, não foi? - Pablo quase gritava.

- Isso é uma acusação muito grave... - Petála não se mostrava ofendida ou assustada com a acusação. - Vamos tomar um café, e aí conversamos como duas pessoas civilizadas e educ...

- CALA A BOCA! - ele gritou.

- Que isso? Que modos são esses, gritando com sua própria mãe... - ela fez cara de descrença. - Isso que dar ficar se envolvendo com aquela bixa de baixo escalão.

- Chega, Petála... Eu quero a resposta. Foi você?

- Petála? Eu sou sua mãe, Pablo!

- Responde, droga!

- Você acha que eu ia fazer uma coisa dessa?

- Você é a única pessoa que tinha motivos.

Petála não respondeu de imediato. Pegou a caixa, e a guardou no armário. Se sentou na cadeira que ficava ao lado da cama. E olhando para o filho, começou a falar:

- Sabe, Pablo, eu sempre quis o melhor pra você. Por acaso é pecado querer o melhor para o filho? - Petála tinha o olhar frio, não dava pra dizer que o tom triste de sua voz era verdadeiro ou falso. - O seu casamento é a chance da sua vida, ou melhor dizendo, é a nossa chance...

- Esse casamento não vai acontecer. Eu terminei tudo com a Bia. - disse Pablo nervoso.

- Você vai se casar! - Petála não se abalava com a notícia do fim do noivado, aquilo não tinha importância para ela. - Você vai fazer o que eu mandar.

- Eu não vou mais seguir suas ordens! Eu vou ficar com o Marcos.

- Só duas pessoas até hoje se voltaram contra mim... - Ela acendeu um cigarro, deu um tragada. - O primeiro, seu pai. E o segundo, seu amigo Kaio.

- O que você quer dizer com isso? - Pablo estava ficando sem chão, ele sabia a resposta de sua pergunta, mas precisava da confissão dela.

- As pessoas que se voltaram contra mim, sofreram as consequências, só isso. - ela sorriu e deu outra tragada. - Se você continuar com essa história de não querer se casar, os próximos da listra serão você e aquela bixa intrometida.

Pablo ficou pálido e sem ar, tudo era pior do que ele imaginava. Sua mãe acabara de confessar que matara seu pai, e que tentar fazer o mesmo com o Kaio. E ainda o está ameaçando.

- Você é um monstro... - a voz dele saiu como um sussuro.

- Dói ouvi isso do meu amado filho, sabia? - ela se divertia vendo o filho apavorado, conseguira o que queria, agora o teria nas mãos. - Você não tem escolha, meu querido. Ou se casa com a Beatriz, ou terei que matar o Marcos, e infelismente a você também - ela fez uma cara de dor seguida de um riso.

- Você é um monstro... Um monstro...

Pablo saiu correndo daquele apartamento, entre torpeços e saltos desceu as escadas, e saiu do prédio.

Estava muito nervoso, não conseguia parar de tremer e chorar.

Dentro do carro, ele tentou se acalmar e parar de tremer. Ligou o carro, e partiu. Uma certeza ele tinha, apartir daquele momento... Não tinha mais mãe.

Marcos ainda estava sentado na sala, esperando por Pablo. Quando a porta se abriu, ele não teve tempo para falar ou fazer nada, um desesperado Pablo se jogara em seu colo.

Por alguns longos minutos, Pablo apenas chorou. Marcos acariciava os cabelos do amado, não estava entendendo nada, mas preferiu não fazer perguntas. Pablo precisava daquele momento para se acalmar.

- Ela é um monstro, Marcos... Minha mãe é um monstro... - Pablo disse entre soluços, ainda deitado no colo de Marcos.

- Então foi ela mesmo? - Marcos não estava acreditando naquilo. - Ela confessou?

- Sim... Tem mais... - Pablo enxugou as lágrimas, que não paravam de brotar. - Ela matou meu pai... E quase fez o mesmo com Kaio.

- Seu pai? Meu deus, ela é um monstro mesmo. - Marcos sentiu um calafrio lhe correr por todo seu corpo.

- Marcos, você tinha que ver o sangue frio dela ao dizer essas coisas... Ela não demostrou remorso pelo que fez. - Pablo ainda tremia de nervoso. - O pior foi ela ter ameaçado a mim e você...

- O que??? - Marcos deu um pulo, ficou pavorado. - Ela quer me matar?

- Sim... E a mim também.

- Meu deus... Temos que ir na polícia agora... Pablo, essa mulher é perigosa.

- Espera, Marcos. Nós não podemos ir até a polícia e dizer tudo isso, sem provas.

- Você tem razão... - Marcos se jogou de novo no sofá. - Então o que podemos fazer?

- O único jeito é eu me casar com a Beatriz.

- Como assim? E nós?

- Marcos, ela quer que eu me case... Ela vai matar a gente e mais quem quiser impedir esse casamento, entende? Eu preciso me casar.

- Deve haver outra forma de nos livrar dela, Pablo... E se nós dois fugirmos para bem longe?

- Marcos, acho que ela já deve ter colocado gente pra vigiar a gente. Não conseguiriamos fugir...

- Então, quer dizer que estamos nas mão dessa cobra?

- Sim...

Marcos tentava pensar em algo, mas estava difícil montar um raciocínio lógico, tamanho era seu pavor.

- Pablo, da onde sua mãe tira dinheiro para pagar esses bandidos?

- Não sei...

- Precisamos descobrir isso, quem sabe conseguimos um jeito de parar essa mulher.

- Agora é você que está querendo fazer o papel da polícia. - Pablo disse, com indiferença.

- Eu só quero resolver as coisas. - Marcos se irritou.

- Desculpa, meu amor. Olha pra mim. - Pablo puxou Marcos pelo queixo, ficando cara-a-cara. - Marcos, ela já me tirou meu pai, quase me tirou meu melhor amigo. Não posso deixar ela me tirar você, entende? Vou me casar para garantir nossa segurança. Não aguentaria te perder.

Marcos não disse mais nada, estava muito confuso. Pablo pegou em sua mão.

- Não é tão ruim assim, meu amor. Eu me caso com a Beatriz, nós continuamos tendo nosso caso...

- Eu vou voltar a ser seu amante. - disse Marcos tristonho.

- Raciocina, Marcos... Melhor sermos amantes, do que dois defuntos.

Marcos não conseguiu segurar uma risada nervosa.

- Desculpa... - ele ficou com vergonha por ter rido num momento tão tenso. - Tudo bem, não tem outro jeito neh... Você pode se casar com aquela garota.

Pablo abraçou Marcos.

- Eu vou te amar pra sempre, aconteça o que acontecer, eu nunca vou deixar de te amar. - Pablo disse isso ao pé do ouvi de Marcos.

- Eu sempre fui e sempre serei teu, meu amor.

Os dois dormiram abraçados, dando carinho e proteção um ao outro.

Petrus Agnus
Enviado por Petrus Agnus em 05/07/2013
Código do texto: T4372704
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