Na sombra de um verão.
Como toda história tem um começo, essa também possui um. O que, entretanto, não significa dizer que se começará exatamente por ele. Pois bem, Eliza cursava faculdade de direito e surgira a oportunidade de ir para um congresso internacional que se realizaria em uma cidade distinta da dela. Ao ter conhecimento do congresso, planejou com seus amigos mais próximos de irem assistir o mesmo. Quando falo assistir ao congresso, não necessariamente significa que esse era o principal objetivo da alegre viagem. Congressos as vezes são meio repetitivos e cansativos e.. Além do mais, a cidade era litoral, havia praia, sol - um sol mais brilhante e atrativo que o de outros lugares, veja só! - então meio que o congresso perdeu a preferência. Além de Eliza e seus amigos, outras pessoas de sua turma também realizaram a mesma viagem para, também, "assistir ao congresso". Eis que desse outro grupinho, havia Jorge. Homem muito bem apessoado, de um sorriso bonito e um espírito enérgico. Eliza tinha os cabelos negros, pele branca e uma sobrancelha que a tornava conhecida na - pequena - cidade onde morava. Ela não reconhecia sua beleza externa. Era a única. Talvez, quem sabe, modéstia. Eis que, durante as idas dos estudantes às praias, - não tão estudantis assim - Eliza e Jorge se encontraram. O fato de terem se encontrado, não muda muita coisa, eles se encontravam todo dia na aula, na lanchonete, nas reuniões da faculdade. Acontece que, pelo que pude ouvir de ambos, havia realmente algo de peculiar naquela outra cidade. Talvez fosse o mar ou o sol, que emanava um calor e uma vontade de sentir novos temperos na vida ou, quem sabe, até as palestras empolgantes - dessa última tenho minhas dúvidas, aposto mais no belo sol. Não sabemos, mas algum desses fatores motivaram que esse encontro fosse diferente dos demais. Eliza acredita que talvez tivesse sido o jeitinho meio maladro de Jorge, somado a um sorriso de canto de boca. Jorge impressionado com o encanto de Eliza, resolveu se aproximar dela fofamente, e ela correspondeu com a mesma medida de fofura. Dessa aproximação, resultou um efêmero romance, porém, um romance romântico, delicado, meigo e gentil. Com o término da viagem, ambos decidiram que aquilo tudo havia sido mágico, mas que essa magia deveria se limitar às fronteiras daquela quente cidade. De volta ao ambiente rotineiro da cidade que haviam esquecido por cinco dias, Jorge e Eliza se encontraram. Encontraram-se na aula, na lanchonete, nas reuniões da faculdade. Aquela outra aproximação especial ainda acontecera algumas vezes. Eliza, sem dúvidas, gostava do jeito descompromissado, porém sempre carinhoso, de Jorge. Ela, talvez, se admirasse de algumas coisas que ele lhe falava. Ele dizia umas coisas bonitas, de alguém que se importa apesar de querer demonstrar não se importar. Eliza, - acredito que, por reflexo de acreditar que algumas coisas não podiam acontecer com ela - desconfiava que fosse apenas uma conversa do galanteador que ele era. Ele demonstrava gostar dela, se preocupar com ela e ela sentia o mesmo, apesar de não admitir nem para si mesma. É que Eliza estava vivendo aquele momento sempre lembrando de outro que estava em estado latente. Confusa e indecisa, ela precisou de algum tempo para refletir sobre suas possibilidades. Jorge realmente gostava dela, era uma boa pessoa, com fortes ideais, com opiniões formadas e não absorvidas de qualquer forma, uma pessoa que instiga curiosidade, em alguém curioso. Mas eu disse que havia sido um romance romântico, delicado e meigo, porém, efêmero. Jorge e Eliza gostavam da companhia um do outro. Só que se encontravam em fases diferentes da vida. Pelo menos por enquanto, Eliza desejava algo que Jorge não estava disposto a oferecer e Jorge desejava algo que Eliza não estava disposta a oferecer. As demandas eram diferentes. Eliza, como faz as grandes mulheres, tomou a decisão de sair à francesa dessa história que não havia começado do começo. Aquilo tudo, pelo menos por ora, havia sido um intervalo, um meio, um momento intermediário de sua vida. No início havia um conforto maior, uma comodidade, uma amizade bem fundamentada, uma rotina cômoda, - mesmo que vezes estressante - um amor, uma paixão já consumada. No início havia um lar. Um lar em um outro alguém. Pesadas as balanças, um lar prevaleceu ao ser pesado com aquela casa de praia que possuía aquele tão ardente sol. Entre o calor efêmero, Eliza preferiu aquela gostosa sombra, que tanto a fez e que tanto a fará feliz.
Sempre existirá a possibilidade de outra possibilidade, Eliza sabe disso, assim como Jorge, assim como eu, assim como você. Mas por ora, é bom ter uma aconchegante escolha feita.