Solidão

No fim de uma segunda-feira quente, me pego pensando: ‘’Não quero ser sozinha. Não quero ficar sozinha.’’ É muito assustador isso, sabe? Fico olhando para o teto, com os olhos ardendo, mil livros jogados em cima da cama, pensando em como estou sozinha enquanto La Valse des Monstres ecoa pelos meus ouvidos. Eu não quero ficar sozinha. Não quero ficar sozinha. Não quero ficar sozinha. Talvez seja esse o motivo das pessoas praticamente se jogarem em cima das outras, das famosas periguetes, ou até de quem fica em um relacionamento mesmo sem gostar da outra pessoa. Solidão. Fazia tempo que ela não me visitava, viu? Eu estava muito ocupada, sentindo outros gostos, outros cheiros, outras vozes. Mas ela nunca vai embora, não… Ela só fica ali, quietinha, sem deixar você perceber que está ali. E então, quando menos esperamos, puf, ela aparece. E as noites de risos e conversas são trocadas pela nostalgia, vazio e solidão.

Eu aprendi a parar de pedir para as pessoas não irem embora. Todos irão, eventualmente. Aprendi que realmente nascemos sozinhos e morremos sozinhos, mas o meio entre o nascimento e a morte pode ser desfrutado com uma boa companhia. Mas nem sempre. Nem todo dia. A solidão sempre aparece para dar um susto na gente, e quer saber? Até acho bom. Porque só quando a solidão aparece que damos valor na companhia da outra pessoa. Mas aí, meu amigo, já é tarde demais. Nós precisamos enfiar uma coisa na cabeça: Nada dura para sempre. Nem a alegria, nem a tristeza. Um dia passa. Um dia acaba. Um dia…

Talvez sejam apenas devaneios de uma mente conturbada, mas eu realmente acho que a vida seja isso mesmo. Não cheia de momentos, como todos os baladeiros costumam dizer. Mas cheia de pessoas. De histórias. De idas e vindas. Pessoas chegam e partem o tempo todo, principalmente na nossa vida. Ainda tento achar um jeito de lidar com isso, principalmente com as partidas. Não que as chegadas sejam fáceis, porque não são nem um pouco. Há insegurança, medo, timidez… Sentimentos que podem ser tudo, menos agradáveis. Mas as partidas são terríveis. Porque as pessoas partem antes de irem embora fisicamente. Elas simplesmente vão embora, deslizam pelos nossos dedos e se vão. E nós, bobos como só conseguimos ser, tentamos nos agarrar ao máximo. Tentamos puxar as pessoas de volta. Nos grudamos até o último fio de cabelo delas irem embora também. E quando elas vão, nada parece real. Tudo parece da nossa imaginação, como em um pesadelo, e criamos a fantasia de que aquela pessoa irá voltar a qualquer momento. Mas não é isso que acontece. E então temos que lidar com a sua ausência.

Mas eu não tenho essa coisa de ‘’Ah! Ele foi embora… Tudo isso para nada’’, não penso assim. As pessoas sempre vão ir embora, mas não é por isso que o tempo em que ficaram na nossa vida devem ser subestimados. Cada pessoa que passa pela nossa vida deixa algo deles em nós. Somos colhedores de histórias, palavras, histórias e piadas. Não podemos nos lembrar só das coisas boas, porque se o fizéssemos seríamos extremamente masoquistas, mas também não podemos nos lembrar só das ruins. Tente se lembrar de como realmente foi. De tudo. E perceba que com isso você aprendeu. Cresceu. E se tornou mais você ainda. Isso vale muito a pena.

Não culpe a sua solidão. Ela é subestimada e incompreendida. Mesmo que no começo ficar completamente sozinha seja bem assustador, só nesses momentos que conseguimos nos conhecer. Que pensamos no que realmente gostamos por nós mesmos. Que fazemos as escolhas mais importantes. E sim, ficar olhando para o teto em uma segunda-feira quente não é nada legal, principalmente com tanta gente interessante pelo mundo, tantas conversas para serem realizadas, tantos abraços, tanta coisa. Mas para isso tudo precisamos de um tempo com nós mesmos. E isso só a solidão pode proporcionar.