ESTRADA

Trafeguei em via de mão única. Por muitas noites ao longo de um precioso tempo. Só eu ia, ela nunca vinha. Sempre a encontrava visualmente pronta para me receber. Todavia, eu sempre estava como que sozinho quando dos encontros com ela. Mostrava-se receptiva mas...
Até que, certa vez - a última em que percorri o itinerário -
ao chegar de volta, rasguei minha CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO, fui à casa de um vizinho, entreguei a chave do meu carro e disse que a partir daquele momento o veículo era dele. Antes de ouvir qualquer palavra, assinei o documento de transferência de propriedade do auto e lhe estendi.

Estupefato, afirmou: - mas não posso pagar sequer metade do valor do carro.

Respondi: - o valor, você arbitra, mesmo que seja apenas um preço simbólico.

No outro dia, um telefonema dela, perguntando se na noite seguinte, justamente aquela para a qual estava previsto o próximo encontro, eu poderia antecipar o horário da chegada. Queria ficar mais tempo comigo - afirmou.

- Vendi o carro e estou sem o documento de habilitação para dirigir.

- E como virá?

- Não irei.

- Como? Você não vem amanhã?

- NUNCA MAIS!

Poucas horas mais tarde, um táxi parou em frente à minha casa. Ela desceu. Bela, perfumada, esbanjando ternura nos olhos e no sorriso.

 
Alfredo Duarte de Alencar
Enviado por Alfredo Duarte de Alencar em 29/06/2013
Reeditado em 18/03/2016
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