SONHO REALIZADO

Matilde é uma jovem alegre e bonita de 18 anos, que vive com seus pais e mais dois irmãos numa cidadezinha pacata do interior. Lá as pessoas se conhecem e protegem-se umas as outras, pois foram criadas a vida toda nesse lugar aprendendo a valorizar a amizade e solidariedade. Ela como toda jovem acalenta dentro de si muitos sonhos que espera um dia que se realizem.

Estuda numa boa escola, apenas um tanto longe de sua casa.

Ela quer ser advogada e ir para a cidade grande conquistar o seu lugar. Já seus irmãos e seus pais, tem praticamente a mesma mentalidade, aceitando a vida como ela é. Matilde fica indignada com a falta de perspectiva dos seus irmãos ainda jovens, não se importarem com o futuro que os aguarda. Onde moram não há muitas empresas grandes, onde possam evoluir e ganharem um pouco mais do que atualmente recebem, trabalhando em serviço pesado desde manhãzinha até à noitinha. Para ela isso não era vida para alguém tão jovem, ela queria muito mais do que isso.

Por enquanto ainda trabalhava numa loja de tecidos como balconista. Estudava à noite para se graduar, porque seus sonhos a impulsionavam e ambicionava mais. Retornava da escola com mais alguns colegas que moravam nas imediações, assim todos ficavam mais tranquilos. Mesmo sendo uma pequena cidade, já havia relatos de furtos, agressões, etc.

Chegava à casa silenciosa, pois todos já dormiam, deixava sua mochila numa cadeira na cozinha e procurava algo para comer, tinha fome, mas comeu frugalmente, porque o cansaço era maior. Folheava uma antiga revista que estava por lá sem prestar muita atenção, apenas para matar o tempo enquanto terminava a ligeira refeição.

Lavou a louça que sujou e foi para o seu quarto, trocar a roupa para descansar.

Antes de pegar no sono, manteve seus pensamentos no futuro que quer para si. Adormeceu sorrindo com a ideia do sucesso. Pela manhã, todos acordaram. Cada um no seu horário e Matilde, por ter horário mais estendido fica um pouco mais na cama para depois ir tomar seu banho e trocar-se para o trabalho. Para ela era difícil aceitar que seus familiares tivessem tão pouca ambição e somente ela que pleiteava um futuro melhor e mais rentável. Enfim, nada poderia fazer e tinha que aceitar a escolha de cada um, mesmo que não entendesse como poderiam estar satisfeitos com a vida modesta que levavam!...Tomou seu banho, trocou de roupa e bebeu apenas um café preto. Olhou no relógio, já estava na hora de ir para a loja; Enquanto caminhava pensava: “se pelo menos nesse momento eu tivesse um pouco mais de reconhecimento, meu patrão poderia me dar um aumento e um cargo melhor na loja, afinal tenho inteligência pra isso”.

Chegou à loja e já estavam por lá os demais funcionários, o gerente da loja e o patrão que era uma pessoa correta, honesta e tratava a todos com respeito e atenção. Matilde gostava do que fazia, mas queria muito mais do que aquilo que desempenhava porque sabia que tinha capacidade para realizar. Todo o dia alimentava seus sonhos com detalhes que enriqueciam ainda mais seus devaneios e ambições. Estava um tanto entediada com a rotina que seguia dia após dia... Queria que alguma coisa acontecesse para dar um novo ânimo aos seus dias, já que ir para a capital ainda estava um pouco longe de se realizar. Enquanto pensava distraída, alguém chamou sua atenção... Era seu patrão que queria falar-lhe. Imediatamente foi até seu escritório sem sequer imaginar o que iria acontecer. Ele a fez sentar-se e com sua já conhecida educação disse-lhe:- Matilde, fico sempre atento no desempenho dos meus funcionários e noto que você se destaca dos demais, talvez por ser uma pessoa com um pouco mais de visão e almejar um futuro melhor e ter ambições que essa cidade não podem suprir, mesmo assim eu gostaria de propor-lhe se for da sua vontade, que venha trabalhar aqui no escritório, juntamente com Dona Heleninha que está conosco há muitos anos e pretende aposentar-se em breve. Ela poderá ensinar todo serviço para você e certamente aprenderá rápido, pois sua mente é ágil e isso é muito importante... Então, o que você diz, aceita minha oferta? É claro que em termos de salário, ele obviamente será aumentado. Matilde foi pega de surpresa e era evidente seu contentamento com aquela proposta feita pelo Sr. Rangel. Sem perder muito tempo, disse que sim, imediatamente. Estava muito contente, aquela notícia alegrou todo seu dia.

Enfim, reconheceram seu valor e não subestimaram sua inteligência e capacidade de trabalho. Seu patrão era uma pessoa de boa índole e muito justo com tudo, agora lhe dava uma oportunidade de evoluir naquele estabelecimento. Claro que pensava no tanto que seria invejada pelas demais e que causaria certo mal estar entre elas, mas com o tempo teriam que aceitar que ela dali por diante, trabalharia na parte administrativa da loja.

Agradeceu muito a confiança que o Sr. Rangel depositava nela, no fundo ambos sabiam que ela era capacitada para muito mais funções. Saiu do escritório, com um baita sorriso nos lábios e desceu as escadas quase flutuando de felicidade. As outras, ao verem sua feição tão radiante, de pronto perguntaram: -“Nossa, o que foi que aconteceu, o Sr. Rangel lhe propôs casamento?”.

Ela só se divertindo com a curiosidade das colegas de trabalho e para acabar com aquele interrogatório, disse o que devia ser dito... Ela notava enquanto falava, a mudança nas fisionomias das colegas, um misto de surpresa e desencanto, pois sabia que era vontade de todas irem trabalhar no escritório, porque lá, além do salário ser melhor, também trabalhava-se menos horas, sendo sábados e domingos livres, ao passo que na loja trabalhavam aos sábados até as dezoito horas.

No geral todos os funcionários cumprimentaram Matilde, mesmo que a decepção amargasse por dentro delas, nada poderia ser feito, a escolha fora do Sr. Rangel.

Fim do expediente, todos saindo acelerados e Matilde mais ainda, pois tem aula; Agora com um novo estímulo, já antevia o seu futuro grandioso e não iria desistir por nada.

Mesmo que Matilde tivesse ambição e desejasse um futuro melhor, não tratava ninguém com indiferença ou superioridade pois entendia que todos eram iguais perante o Criador, não importando condição financeira, social ou de educação. Ela simplesmente teve uma chance de mostrar seu valor e capacidade e aproveitaria o máximo que pudesse para seguir sempre em frente. Seu curso noturno seria concluído em mais alguns meses e ela pretendia fazer outros mais, porque sabia que quanto mais capacitação tivesse, melhores as chances de conseguir um bom emprego, embora soubesse que em cidades grandes, era dificultoso, mas isso não a intimidava, estava decidida a morar na capital, não importando o tempo que demorasse, ela iria.

E nesses devaneios o tempo foi passando, sua eficiência no escritório era muito bem vista pelo Sr. Rangel que estava satisfeito com sua destreza em lidar com certos assuntos, ela parecia ter um conhecimento de comércio nato. Lidava muito bem com cálculos, além de ser muito organizada em tudo, isso para ele era muito importante. Além de ser uma pessoa boa, era um solitário que passava seus finais de semana, lendo em sua biblioteca bem arrumada. A casa era bem cuidada, tudo muito limpo e arejado, mas faltava-lhe uma companheira para compartilhar tudo aquilo e ele às vezes, ressentia-se já que a solidão não era algo que ele merecesse e desde que sua esposa falecera há 6 anos, dedicou-se somente ao trabalho para tentar amenizar sua grande dor. Dessa união não teve nenhum filho para lhe dar um pouco de alegria; Mesmo sozinho não havia se tornado uma pessoa amargurada, porque compreendia que, se Deus a chamou tão cedo era chegada sua hora e isso acalentava seu íntimo que sangrava.

Com o passar do tempo, sua dor foi se tornando mais amena e ele trabalhando bastante, não tinha muito tempo para pensar no seu infortúnio. Somente entristecia nos finais de semana quando em sua casa, não havia ninguém para conversar, para sorrir com ele. Sua alegria e satisfação era aquela loja que seu pai deixara-lhe antes de partir e ele com muita competência a fez crescer, tornando-se uma rede de lojas espalhadas pela cidade e adjacências.

Pretendentes interesseiras para ele não faltavam e ele com sua educação e gentileza, as dispensava sutilmente. Gostaria muito de encontrar alguém que o amasse pelo que é e não pelo que possuía.

A rotina na loja havia sido alterada com as ideias inovadoras, implantadas por Matilde, sempre com o aval de Rangel que há admirava cada dia mais. Pensava consigo: “Realmente não me enganei quando chamei Matilde para o escritório, ela tem muito tino comercial e leva tudo muito a sério mesmo com a pouca idade”.

Rangel ainda não havia percebido que quando falava dela ou a olhava, seus olhos refletiam um brilho especial. Aos poucos foi se dando conta de como ela fazia falta quando precisava ausentar-se por algum motivo. Dentro de si seu coração já havia dado sinais de uma paixão, mas ele por achar-se velho para ela tentava em vão negar aquilo que estava sentindo. Rangel não era velho como se achava, ele tinha apenas 38 anos, o seu medo maior era de que Matilde percebesse seu comportamento mudado por causa dela. Sempre que possível, disfarçava sua admiração porque no íntimo temia que ela um dia pudesse rejeitá-lo.

Pensava nela quando em sua casa, deitado na cama devaneava várias situações hipotéticas de declarar-se para ela... Será que algum dia iria aprová-lo?... Ele tinha dúvidas e nem sabia se ela nutria algum sentimento. No silêncio do seu quarto poderia até falar em solilóquio já que ninguém poderia ouvi-lo. Adormeceu com Matilde no pensamento e no coração.

Novo dia, esperanças renovadas e cada qual atuando na vida com suas obrigações.

Matilde agora já com 19 anos, possuía uma força em si que chamava atenção... Seu corpo bem torneado e proporcional causava certo despeito nas mulheres da loja. Era naturalmente bela, não usava nada para enaltecer sua beleza e porte imponente. Rangel quando a via andando pela loja orientando o pessoal sobre determinado assunto, parava para contemplar aquela bela mulher que a cada dia florescia e encantava seu coração.

Rangel não percebia que Matilde também tinha certo interesse na sua pessoa e assim como ele, temia uma rejeição, afinal ele tinha dinheiro, posição social e ela o que tinha para oferecer-lhe?... Conjecturava sentada na sua cadeira confortável. Estava tão distraída e nem viu que Rangel entrara no escritório. Ele queria muito aproveitar aquele momento à sós com ela para declarar o seu amor, mesmo que ela não o quisesse, ele precisava acabar com aquela angústia de uma vez. Aproximou-se da mesa dela e súbito ela o viu, seus olhos brilharam, não dava mais para disfarçar. Ele sentou-se a sua frente, olhou-a nos olhos e disse timidamente: -“Adoraria ter você como minha companheira para o resto da vida”.

Nada do que havia ensaiado dera certo, na hora H seu coração quem falou. Matilde sem fala e muito surpresa, olhava para aquele homem diante de si com tanta ternura que suas lágrimas desceram sem que ela as reprimisse. A resposta estava dada no entender dele. Levantaram-se e lentamente como num sonho bom, abraçaram-se e beijaram-se, marcando uma nova etapa nas suas vidas, agora juntos.

Depois desse encontro de almas, parecia a Matilde que sua vontade de ir para a capital, abrandara. Agora amando e sendo amada, sentia-se mais segura, menos inquieta... Talvez fosse a maturidade que chegara para acalma-la. Ela desconhecia que Rangel tinha três lojas também na capital.

Os dias pareciam correr... Ela levou Rangel até sua casa para sua família conhecê-lo. A empatia foi tão grande que parecia já conhecer a tempos toda família. Fez o pedido formal da sua mão em casamento, no qual foi bem recebido. Todos estavam contentes e a humildade de Rangel, encantara a todos... Realmente era um dia importante e feliz, em especial para o casal.

“Dias depois, após saírem para providenciar enxoval e coisas afins, Rangel comentou com Matilde que conhecia seu desejo de morar na capital e contou-lhe que tinha lojas por lá, ela então sorriu como uma criança que ganha um doce e respondeu-lhe:” já não me importa muito morar na capital, pois o maior bem que eu recebi, foi o seu amor... “Ele todo sentimental, beijou-a ternamente.”

Passado um mês, sentou-se em frente à mesa de Rangel no escritório e disse que desistira da ideia de morar na capital mas que não abriria mão de estar por lá pelo menos alguns dias, como um presente que daria para ela. Ele assentiu com a cabeça e sorrindo respondeu: - “o que me pede é tão pouco!”...

Para ela aquilo era considerado um sonho que demorou alguns anos para ser realizado.

Mesmo depois de casada, continuaria seus estudos e não desistira do intuito de formar-se em direito. Agora mais do que nunca ela tinha plena certeza que conseguiria, pois Rangel era tudo de mais lindo e maravilhoso na sua vida e a incentivava bastante.

Sabia no íntimo que se completavam e que Deus abençoara aquela união com seu amor infinito de Pai.

Três meses depois, casaram-se numa cerimônia bonita sem muitos aparatos, como era da vontade dos dois. A festa estava linda e perfeita, tudo era felicidade! A alegria do casal contagiava a todos, principalmente seus pais que brindavam a isso.

Rangel era a pessoa ideal que se moldara àquela família como parte integrante de seus dias e anos até quando Deus permitisse.

Matilde e Rangel, após a festa estavam exaustos, mas muito felizes. Viajaram para a capital e hospedaram-se num lindo hotel que reservara por quinze dias. Ele sentia-se feliz igualmente ao ver os olhos de Matilde brilhando. Sabia que ela era merecedora, porque sempre fora uma mulher de fibra e muito trabalhadeira. Foram para a suíte que a deixou ainda mais atônita... Não esperava que a vida trouxesse algo assim tão lindo para ela... Estava muito feliz e constantemente algumas lágrimas deslizavam na sua face corada pela emoção que Rangel lhe proporcionava.

Enfim, seu sonho se realizara muito mais do que ela pudesse ter imaginado, porque juntamente chegou para si, o amor que marcaria toda sua vida!

Denise Flor©

Denise Flor
Enviado por Denise Flor em 25/06/2013
Reeditado em 29/06/2013
Código do texto: T4357108
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