Nunca mais

Era fim de tarde, na praça pôr-do-sol é incrível como fica lindo olhar o céu. Todas as cores mais lindas e graciosas são vistas dali, o rosa, o lilás, o laranja. Vejo o sol indo embora e encontrando a lua no meio do caminho, seu grande amor, segundo minha visão infantil. É, esse céu me transmite amor, em todas as suas melhores formas. A lua é minha amiga, minha confidente, olho pra ela e conto em segredo tudo que posso contar e tem dias que ela sorri pra mim, sei que sorri.

Estava esperando ele, com o coração disparado, não sabia o que esperar daquele momento, fazia tanto tempo que não nos víamos, até o sorriso dele, que um dia fora tão conhecido, havia se tornado um mistério naquele ponto. Meu coração acelerava mais a cada homem alto que passava, eu sempre achava que era ele. Mas ele era inconfundível, com seus cabelos negros, olhos mais negros ainda. E aquele sorriso devastador, quase como um veneno aos meus olhos.

Até que alguém senta do meu lado e diz “Hoje vai chover.”, era ele, com aquele ar de quem se acha, aquela jaqueta de couro velha, aquela calça rasgada e o sorriso envenenado. Meu coração deu um salto e eu disse “Não acho, o céu está lindo.” Mas ele sempre estava certo e como sempre, olhou pra mim com um ar de quem sabe que está certo e sabe que envenena.

- Estava com saudades. - Ele disse.

- Eu não, você não me causa mais esse tipo de sentimentos.

- Mentira. - Ele estava certo de novo e que raiva me dava, mas eu era forte e tentava mostrar indiferença.

- Você pensa que sabe tudo né.

- Sobre você eu sei.

Meu ar de deboche de nada adiantou, ele sabia que meu coração estava pulsando forte naquele momento. Parecia que ele ouvia, sentia, algo assim.

Ele deitou na grama e ficou olhando o céu..

-Você não vai deitar comigo?

Deitei ao lado dele e dei um suspiro, pensando se aquilo era realmente saudável, me fazia um bem estar ali de novo, do lado dele, olhando o céu, como antes; mas o mal atingia meu coração, quando lembrava de todos os erros do passado.

- Você está linda hoje. - Ele me disse sorrindo. Segurei o meu sorriso.

- Você não. - Disse com ar de deboche, como se fosse possível ele não estar bonito.

Conversamos e rimos, como sempre. Sempre foi muito bom falar com ele. Ele sempre foi o cara que mais me entendeu, aquele que mais me falava verdades, o que me conhecia mesmo quando eu disfarçava quem eu realmente era. Ele sabia o que significavam os meus sorrisos, os verdadeiros e os falsos. E ele sabia que estar ali com ele, era quase como um sonho. Eu nunca acreditei, mas ele sempre dizia que eu era especial pra ele, que eu era única. Que eu fui a única que cuidou dele e que ele era grato por isso. Ele pegou na minha mão e ficou brincando com meus dedos, com as minhas unhas. Ele sempre fez isso e não sei como ele não sentia minha mão tremendo quando ele enroscava os dedos dele nos meus. Meu coração ainda o amava, mas eu tentava tanto esconder isso dele e de mim.

Começou a chover. Fiquei com raiva, dele, da chuva, do céu que tinha perdido sua cor. E saímos correndo, tentando achar algum abrigo para nos proteger. Ele me cobriu com sua jaqueta de couro, estava com saudades dela. A jaqueta dele abraçou o meu corpo, até ele gritar meu nome, dizendo que tinha achado um lugar coberto. Era uma árvore, que não nos cobria muito bem e nos obrigava a ficar colados, respirando a mesma respiração. Tão perto que a minha boca me puxava inteira pra ele. Nossos corações estavam tão colados, que era confundível qual estava batendo lá e qual cá.

Ele riu e disse:

- Ás vezes a chuva é uma grande aliada.

Sorri.

- Adoro seu sorriso, senti tanta falta dele. - Ele murmurou no meu ouvido.

Foi difícil resistir aos lábios dele passando lentamente pelo meu rosto. Estávamos molhados e ainda caiam gotas em nós. Caiu uma gota na ponta do meu nariz, ele limpou e beijou meu nariz. Diretamente eu dei um beijo nele, um beijo desenfreado, um beijo desesperado, aquele beijo que você está segurando há horas e finalmente se solta. Estava errado, soltei ele e fui me virando pra ir embora. Ele me segurou e me puxou pra perto dele dizendo “Não vou te deixar embora de novo.”.

Meu coração amoleceu e eu respondi “Que bom”. Fiquei com ele o dia inteiro, fui embora com o coração mole, me perguntando se aquilo realmente tinha sido sincero. Eu sabia que não, mas aquilo eu levaria pra sempre, aquele dia em que a chuva nos uniu.

Eu estava certa, nunca mais choveu.

Tati Simões
Enviado por Tati Simões em 17/06/2013
Código do texto: T4344981
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