Histórias do Pátio
Olá, meu caro leitor. Aqui quem vos fala é o pátio de uma faculdade. Posso não ser as Termópilas, Waterloo ou a Normandia, no entanto já fui palco de inúmeras guerras. No meu caso, eram de estudantes contra o tempo, a fome, o cansaço, os prazos ou o mau humor dos professores. Já vi homens virarem heróis e infelizmente, muitas derrotas que no fim acabaram em outro palco: o bar.
Contudo a história que vou contar a vocês hoje é diferente.
Foi em um período de paz que um rapaz se sentou em uma cadeira e colocou sobre uma mesa o seu refrigerante gelado e olhava-o com um ar triste em vez de apreciar o seu conteúdo, vendo as gotas se acumularem na lata e escorrerem. Ele faria isto por mais tempo se uma garota da sua idade não se aproximasse e perguntasse:
— Oi, Vitor. Tudo bem?
— Ahn? Ah. Oi, Isadora. Tô legal. — respondeu o rapaz.
— Tá? Com essa cara aí..? — indagou a garota, enquanto se sentava à frente dele. — Fala aí o que houve.
É engraçado meu caro leitor como algumas mulheres têm o hábito de perceber quando um homem está mal. Vitor não teve escolha senão desabafar:
— É a Samantha.
— Sua namorada? O que tem ela?
— Terminou comigo.
— Ai... por quê?
— Disse que não consegue esquecer o ex-namorado.
— Puxa... sinto muito. Mas eu te disse que ela estava mal e não estava pronta para um relacionamento.
— E você estava certa. Ela e a Nicole não estavam.
— Você não esquece mesmo a Nicole, hein? — indagou Isadora — Ela foi a sua penúltima namorada. Não foi?
— Não. Antepenúltima. Depois dela veio a Bruna e aí sim a Samantha. – confessou Vitor.
— Eu me lembro das duas. A Nicole disse que não estava pronta para algo sério. Já a Bruna namorou contigo por um tempo e falou no fim de três meses que queria se focar nos estudos. — relembrou a garota.
— É. Só que nestes dois casos eu não fiquei tão mal assim. A Nicole você já havia dito que ela não é muito de compromisso com ninguém. E a Bruna você me falou que ela é muito insegura e prefere enfiar a cara em um livro do que falar com uma pessoa.
— E você mesmo assim namorou as duas.
— Ah, eu tava meio chapado quando fiquei com a Nicole. Vimos que tínhamos interesse e resolvi arriscar. Já a Bruna eu tava meio carente mesmo.
— E qual foi a sua desculpa para namorar a Samantha?
— Atração física. — confessou Vitor na maior cara de pau.
A maioria das mulheres torceria o nariz para tal justificativa. Entretanto Isadora era sincera em confessar que já havia namorado homens por achá-los bonitos. Os relacionamentos não duravam muito, porém ao menos ela saciava a vontade. Já presenciei muito disto. E em vez de repudiar, ela riu e disse baseado em sua experiência:
— Relacionamentos assim não duram muito tempo mesmo. Você brigou com ela quando terminaram?
— Não. Ela veio a mim e disse que não queria mais. Eu quis uma justificativa e ela me contou que não queria mais por não esquecer o ex. Só.
— Hum... sinto muito. Mas se você só queria ficar com ela por atração, por que está tão mal?
— É que no fundo eu estava começando a gostar dela. Sabe... ela é uma garota legal. Meio sem ideia, mas é legal.
— Ahahahahah... sei como é.
— E você e o Thiago, como vão? — perguntou o rapaz tentando não ser o único alvo de perguntas.
— Nós também terminamos.
— Jura? – indagou o rapaz, surpreso — Por quê?
— Ele não queria nada comigo. Disse não estar afim de um relacionamento entre outras coisas. — desabafou Isadora.
— Quais?
— Prefiro não entrar em detalhes. — disse a garota, que ao ver a cara preocupada do amigo, completou — O nosso relacionamento não era muito bom. A gente não conversava... entende o que quero dizer?
— Entendi sim. — disse o rapaz finalmente tomando um gole de seu refrigerante e oferecendo um pouco para a amiga. – E agora o que vamos fazer?
Ela tomou um gole e disse:
- Ah, eu não sei. Eu queria encontrar uma pessoa legal. Que quisesse algo e com quem eu pudesse conversar.
— Isto é fácil. O duro é eu achar alguém que queira um relacionamento. — desabafou o rapaz.
— Eu quero.
Nesta hora meu caro leitor, se eu tivesse uma boca teria rido. Os dois fizeram um silêncio que soava até cômico e se olharam como se nunca tivessem se visto antes. Depois deram um beijo caloroso e rápido, daqueles que até faz um barulho de um estalo e quando se afastaram, ela falou:
— Bem... o que foi isto?
E ele, concluiu com um sorriso tão grande quanto o dela.
— Se você não sabe, temos muito a conversar.