O amor entre a Tristeza e a Alegria
Contam que certa noite o Pajé sentou-se a frente da fogueira e convidou o restante da tribo para ouvir uma história. Pitava seu cachimbo, olhava para a fogueira e observava a expressão de curiosidade de cada membro sentado à sua volta. Fez muito suspense e finalmente decidiu falar:
- Havia dois deuses na Terra: a Tristeza e a Alegria. Eles se amavam, porém outro deus, o Destino não concordava com a vontade dos dois de permanecerem juntos. Mas como o sentimento era muito forte, eles criavam oportunidades para estarem unidos, sempre que possível. A explicação dada pelo Destino era que um poderia tirar o objetivo do outro. A Tristeza colaborava com os humanos, porque os fazia refletir, chorar e aprender com a dor. A Alegria, por sua vez, vinha acalmar os corações tristes, trazendo paz e esperança. Se permanecessem casados trariam confusão às pessoas, porque elas não discerniriam os sentimentos necessários à sua evolução e crescimento espiritual. Inconformados com a decisão final do Destino, Tristeza e Alegria resolveram fugir. Procuraram em todo o Planeta um lugar especial onde pudessem conviver. Mas o descontentamento crescia à medida que eles percebiam que onde quer que fossem ocorriam confusões e os seres humanos perderam a fé no Destino. Entristecidos, humilhados e acima de tudo envergonhados decidiram se apresentar ao Destino e foram punidos pela desobediência. Da mesma forma que o Sol e a Lua apenas numa fração de segundos se tocam e acenam um para o outro, os dois foram condenados a viver separados.
Um indiozinho muito curioso, não esperou o Pajé terminar a história e perguntou apressado:
- Mas se o amor é o sentimento mais sublime da Terra porque o Destino os condenou a viverem distantes?
Como era costume do Pajé, a fim de criar expectativa, fumou seu cachimbo, pigarreou e calmamente disse:
- Meu filho, o amor e a ternura entre eles continuam a existir, porém eles aprenderam que pode ser vivenciada a distância. Quando a Tristeza toma conta de algum de vocês, a Alegria aparece para suavizar e tranquilizar o ser. E é neste momento que eles aproveitam para trocarem seus olhares e juras de amor.