AMOR NÃO MORRE , ENTARDECE .
Lá estava ela na sempre ansiosa espera , mergulhada nos próprios pensamentos emaranhados tal qual os cabelos ao vento .
Olhava a vida passando na janela ora em disparada galopante ora em quase silenciosa prece .
Via homens e mulheres de todas as idades indo e vindo se espalhando em todas as direções e apenas olhava como se todas as imagens fossem apenas ilustrações insanas , incolores , insípidas e insossas.
Em sua alma havia saudade e em seu dia havia vazio .
Era dia dos namorados e ela estava em um momento de dor paradoxal, daquelas que chegam de repente e deixam nos deixam com cara de sei lá o que , meio que rindo em meio as lágrimas de felicidade ou meio que chorando de sorrir na tentativa de disfarçar a dor.
Se debruçou na abóbada da alma já envelhecida pelos anos que passam afoitos rumo a conclusão de cada carma .
Olhou para dentro de si mesma e (re)viveu dias iguais aquele em anos antigos de tempos já idos .
Viu -se de frente a uma jovem que sonhava , amava e sentia a vida pulsando no corpo ardente de paixão .
Reencontrou fotografias já amareladas , bilhetes em guardanapos , pétalas de rosas , rolhas de vinhos , saudades quase esquecidas ora requentadas .
Tudo ainda estava lá intactas recordações guardadas nas gavetas da alma.
Nesse mergulho nem sequer percebeu que o sol já havia se deitado no horizonte do dia e a lua nova já surgia no colo da noite em meio a uma trilha de estrelas cintilantes .
Quase que acordando de um sonho , olhou ao redor e viu as luzes acesas e o céu iluminado .
Fechou a janela , deitou-se na cama e só então depois de tantos anos , pode perceber em uma única tarde que reuniu quase toda sua vida uma verdade que ocultava em si ...
Teve a mais absoluta certeza de que o amor não morre , entardece .
MÁRCIA BARCELOS . 12/06/13.