REVELAÇÃO

REVELAÇÃO

“Triiiiiiiiiiiiiiiimmmmm... alô, alô.... “Oi Conceição, lembra-se daquele caso que lhe contei da minha amiga e que lhe pedi que transformasse em crônica?” Vou chamá-la ao telefone para falar com você. Ela dirá os detalhes...”

Essa foi a minha conversa com uma amiga irmã.

Um pouco tímida pelo exagero afetuoso dessa minha amiga, que me tinha retratado como uma “grande escritora”, mas ao mesmo tempo fascinada pela idéia de escrever sobre aquele acontecimento, que fizera o meu líquido vermelho da emoção correr tão rápido a ponto de se tornar furta cor (vocês sabem que lindas histórias de amor me tiram os pés do chão e provocam abalos sísmicos na minha circulação venosa), aguardei na linha.

E aquela voz da amiga da minha amiga, ao começar sua narrativa, já me dizia tudo: ouviria e dialogaria com mais uma alma pura, intensa e que sabia usar o sorriso como só uma criança sabe, com a sua finalidade original: trazer a alegria de dentro da alma para os lábios, e por conseqüência transmiti-la ao mundo.

Ela começou a narrativa dizendo que o seu namorado também escrevera um pequeno texto sobre o acontecido, e me foi narrando assim, aquelas palavras, que apesar de condensadas, expandiam e explodiam em poesia. Já meio escabreada e me perguntando, o que diante daquilo, mais eu poderia dizer: comentei com ela que farejei ali o cheiro da poesia viva, ao que ela me respondeu: Sim, ele escreve e compõe canções.

E agora José? Se nem Drummond sabia o que faria o José, como iria eu saber o que fazer diante daquela incumbência, que ao mesmo tempo me fascinava e me assustava?(Escrever a pedido não é uma tarefa fácil, como derramar letras quando ninguém está solicitando).

Chega de introduções. Não sei se é o medo de não escrever à altura da beleza do acontecido ou se é para prolongar o meu devaneio sobre tão linda história de amor ... mas a verdade é que estou protelando chegar ao meio dessa crônica, para também não finalizá-la.Peço a paciência de vocês, e peço ainda que leiam até o fim, pois para quem gosta de histórias de amor asseguro que não haverá arrependimentos.

A minha interlocutora, Luana, esse é o nome que vou dar a ela, contou-me que acabara um namoro de dois anos e meio, e que aquele seu namorado era muito diferente dela, que entre outras divergências, uma gritava aos seus ouvidos: ele gostava de samba e ela de rock.

Assim, decidira, caso fosse construir nova história de amor iria pedir aos anjos como trilha sonora o som de uma bela guitarra.

Coincidência ou não, foi a uma casa de festas, à qual já tivera ido outras tantas vezes, e o som ali tocado era o seu amigo rock and roll.

Musicalmente alimentando a alma, de repente seu coração também resolveu se movimentar naquele ritmo, quando seus olhos tocaram num belo par de olhos verdes estampado numa face masculina bonita e bem barbeada.

Ela me disse que não sabe bem o porquê daquela dança, talvez aqueles olhos, ou aquele jeito todo próprio de se vestir... não... ela não sabia o que fez o seu coração informar que ali nascia um grande amor.

Conversaram por toda a noite (imagino que algumas vezes fora do recinto musical, porque na minha visão tão leiga, o rock fecha a boca e escancara o coração).

Em uma certa altura da conversa os dois confessaram que freqüentavam assiduamente aquele ambiente e ficaram abismados porque não se conheciam.

O espanto foi tanto que vestiram o garçom de testemunha (acho que os garçons de tanto testemunhar casos de amor terminam virando poetas)e perguntaram: ele(você já me viu aqui antes?), ela(e a mim, você também não já viu?) Entre sorrisos, e surpreso, ele respondeu:claro conheço bem os dois , estão sempre por aqui.

Maior que a surpresa do garçom, foi a dos próprios protagonistas desta crônica: “Por que será que sendo freqüentadores habituais daquele local, não se conheciam?

A amiga de Luana, para não atrapalhar o papo que fluía solto, fora pagar a conta : era hora de ir embora.

O belo par de olhos verdes, e aquela moça, minha interlocutora, que também tem beleza marcante (a conheço de vista), enquanto conversavam, descobriram que moravam na mesma rua ,dentro de tantas ruas existentes nessa nossa não tão pequena Salvador. Coincidência? Sim, uma pequena coincidência.

Ofereceu-se então o rapaz em ato de louvável cavalheirismo, para seguir o carro que ela ia dirigindo, para protegê-la de qualquer perigo que sobreviesse ao retorno as suas casas.

Um outra surpresa: Nossa querida Luana, aceitou a proteção, mas ao invés de seguir para sua residência, parou repentinamente o seu carro no Porto da Barra, e cercada da beleza de um mar que mendigava a sua presença, abriu a porta, respirou aquele ar puro da madrugada e disse ao seu par, que a esta altura também tinha parado o seu veículo: Vamos descer, passear na areia, tomar banho de mar?

Ele lhe respondeu: mas eu não estou de sunga, estou de calça comprida, ao que ela prontamente lhe respondeu: eu também não estou de sunga, digo de biquine, e também estou de calça comprida, o mar não vai se importar de molhar mais um pouquinho de pano...

E assim, andaram de mãos dadas, olharam-se nos olhos, falaram de profundidades e de bobagens, se riram e se alfinetaram com perguntas de praxe: ès Casada (o)?

.Ambos solteiros...

A promessa de amor saiu vencedora no ringue das perguntas, e misturou-se com a brisa do mar, que beijou os lábios daquele par, que sentia a sintonia do beijo de suas almas...

Acabado aquele momento, mas nunca a magia dele, que se imiscuiu aos sonhos de cada um dos protagonistas, foram para suas casas e nem ao menos o telefone trocaram (talvez porque soubessem que o facebook existe).

Assim, seguiram-se mensagens virtuais, e silêncios inquietantes, e mais mensagens... e mais silêncios...e mais mensagens...

Um dia, com a mente já cansada de conjecturas, diante de um dos hiatos de silêncio, Luana disse para sua amiga (a que estava na festa com ela): sabe quem aquele rapaz me lembrou? Ao que a amiga curiosa perguntou: Quem? _ “Um menino que encontramos uma vez no elevador daquele prédio em que fomos a um aniversário e tiramos uma foto dele, lembra?” _ Sua amiga então retrucou:_Está enlouquecendo Luana, não tem nada a ver, isso já faz tantos anos, éramos pré adolescentes, e aquele menino era muito magrelo, sua memória está péssima viu?

É acho que Luana poderia mesmo estar procurando tornar real, dar corpo ao que na sua mente só aparecia como uma fumaça mágica soprada naquele momento encantador em que viveu.

Foi para casa, e sentiu vontade de procurar a tal foto, mas a sua caixa de álbuns era enorme, cheio de caixas de pequenos álbuns dentro, iria ser um trabalho insano por uma idéia mais insana ainda.

Desistiu, e foi tirar um pequeno cochilo,quem sabe o telefone tocava(já tinham se permitido essa troca de números pelo facebook).

Cinco minutos depois acordou sobressaltada:caíra da estante sobre os seu pés um álbum enorme de fotografias(não o da caixa, , mas um outro , onde nunca poderia estar a tal foto, já que só tinha fotografias grandes).

Levada por um impulso, um quase instinto abriu aquele álbum...e na primeira página, uma foto pequena , com o seguinte título “menino do elevador”.

Essa foto, deixem- me explicar: foi tirada porque à época, onde não se tinha a digitalidade das fotografias, para se “revelar as fotos” precisava-se chegar ao fim do filme.E Luana estava com o seu filme prestes a acabar, faltando uma única imagem para “clicar”.Estava no elevador, quando entrou aquele menino simpático e magrinho, e então ela perguntou: posso tirar sua foto?e tirou...

Agora, caros leitores, dúvidas dissipadas, catorze anos depois, Luana toma muitos e muitos banhos de mar no porto da barra com o “menino do elevador”, e ao som de rock roll, se conhecem cada vez mais, dançam em pista livre o amor semeado um dia em papel fotografia, e... até descobriram que a mãe de um, foi professora da mãe do outro... Parabéns meninos!

Conceição Castro
Enviado por Conceição Castro em 08/06/2013
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