AMIGO INVISÍVEL

Quando pequena eu tinha um amigo invisível, foi um amigo muito querido. Confidenciava tudo com ele, minhas alegrias, minhas tristezas, enfim, tudo que acontecia comigo, ele sabia o que eu gostava comer, beber, do que eu gostava de brincar, de vestir etc. Desde o jardim de infância a gente não se largava. Eu ficava horas falando com ele, em todo lugar até quando por fim á noite quando ia dormir, é claro que ele esperava eu dormir primeiro. Um dia, no meu aniversário de dez anos, meu amigo simplesmente desapareceu, me abandonou sem me dizer Adeus... chorei muito, eu não tinha mais ninguém que eu poderia confiar.. Os anos se passaram, então faltavam dois dias para eu fazer 25 anos, eu trabalhava fora, me formei na universidade etc, estava andando pela rua quando um jovem muito bonito, olhos verdes, então esbarrou em mim e foi logo dizendo: que saudades minha amiguinha! Eu não entendi nada, aquele rapaz eu nunca tinha visto na cidade, eu morava num lugar pequeno em que quase todos se conheciam. Eu lhe disse: desculpe, não lhe conheço, nunca lhe vi antes por aqui. O jovem foi relatando algumas coisas sobre mim de quando eu era criança. Aí mesmo que fiquei apavorada, O que estava acontecendo? Conversa vai, conversa vem, descobri que ele era o meu amiguinho invisível da infância. Que alegria que senti, Perguntei o que ele fazia por ali e como isso tinha acontecido. Ele não foi muito claro nas explicações, começou a me fazer propostas para sairmos para passearmos em alguns lugares aonde íamos quando criança. Voltei no tempo, que bacana. Ele me relatou que não tinha lugar para ficar, que não tinha trabalho etc. Pensei em levar ele pra minha casa, mas também tinha um detalhe que eu não havia comentado com ele, eu estava de casamento marcado com um rapaz filho de um homem rido e influente da cidade. O meu noivo era um rapaz meio egoísta, sei La, só pensava nele, não observava o que eu gostava, não prestava atenção em nada que eu fazia ou desejava fazer. Confundia tudo, até as flores que me dava, eram as flores que ele gostava e não as que eu gostava. Meu amigo invisível sabia tudo. Eu teria que resolver se levava meu amigo para casa. Bom, levei. Ele sempre muito atencioso comigo, ficou em casa sozinho enquanto fui ao trabalho. Voltando a noite, quando cheguei em casa, estava tudo tão lindo, a casa parecia um jardim. Fez a comida que eu adorava para jantarmos. Jantamos, conversamos, ouvimos musicas. Que dia maravilhoso. Meu noivo resolveu aparecer, então, apresentei-o ao meu amigo. Vi no rosto dele a decepção. Meu noivo também achou estranho aquele rapaz, áquela hora na minha casa. Apresentados, meu noivo foi embora, dando-me, tipo, uma ordem, ou eu mandava meu amigo embora ou ele terminava tudo. Na mesma noite, meu amigo invisível ainda permaneceu em casa, afinal ele não teria para onde ir. Antes de dormir ainda fizemos uma guerra de travesseiro, a maior bagunça. No outro dia pela manhã meu amigo foi embora, Fiquei muito triste. Resolvi seguir em frente, eu tinha que preparar a minha festa de aniversário que seria também junto com meu casamento. Comecei a olhar as coisas, mas não conseguia escolher nada, só pensava no meu amigo. Quando ouço a voz do meu amigo dizendo exatamente do que eu gostava, até as flores, comidas e o vestido. Pronto, estava tudo resolvido. Meu amigo despediu-se novamente de mim e disse que iria embora para sempre. Passou-se algumas horas, eu estaria pronta para casar, vestida de noiva, os convidados na igreja e o noivo também. Fui até o altar, quando cheguei La, dei uma de louca, comecei a perguntar para meu noivo se ele sabia do que eu gostava, ele não deu uma resposta certa. Saí correndo da igreja e deixei todo mudo lá e fui correndo procurar meu amigo. O encontrei andando sem rumo pelas ruas. Então falei pra ele: você é o amor da minha vida. Vamos ficar juntos, ele sorriu e disse: um dia você chamou-me quando eras pequena e eu vim, fiquei com você até seus dez anos, depois você deixou eu ir. Agora tenho que desaparecer de sua vida e deixar você ser feliz. Mas eu disse: você voltou então pra que? Eu não te chamei? Ele com um olhar cheio de ternura, falou: Eu senti saudades de você vim porque não suportava mais viver sem você, mas vejo que tenho que ir embora. Chorei muito, em soluços fiquei ali na rua, vestida de noiva, parecendo uma louca, ele seguia sem olhar para traz e desapareceu. Sentei na calçada e fiquei alguns instantes... Quando ouvi a voz atrás de mim, colocou a mão no meu ombro e me disse: Não consigo ir embora, ficarei com você para sempre... meu amigo tornou-se meu amor e juntinhos estamos até hoje.

JANINE DA PALHOÇA
Enviado por JANINE DA PALHOÇA em 06/06/2013
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