Nicoly
Em uma cidade pequena e rural, bem no topo de uma colina, havia uma casinha simples, mas bela, poderia até se dizer encantadora. Lá vivia Nicoly, uma moça singela e meiga, era linda, mas não se dava conta disso. Quando era criança se achava feia e desengonçada, magra demais, e quando cresceu não percebeu que virara uma moça realmente formidável. Era de natureza melancólica e calma, tinha grandes olhos expressivos, castanhos, cabelos cacheados também castanhos, tinha a postura ereta e graciosa. Tinha grandes sonhos impossíveis, que sabia que nunca se realizariam, mas se alegrava pensando neles.
Certo dia, perto da hora do por do sol, Nicoly estava em seu quarto escrevendo uma carta para seu amor, ela ainda não o conhecia, não sabia nada sobre ele, mas sabia que ele existia e que estava procurando por ela. Colocava suas cartas em uma antiga lata de biscoitos, que já estava cheia de cartas apaixonadas só esperando por um destinatário. Por um instante Nicoly parou de escrever e olhou pela janela, sentiu uma vontade incontrolável de observar atentamente o que se passava com a natureza lá fora, abriu a janela, o sol estava se pondo deixando um lindo tom alaranjado sobre a colina, o dia estava extremamente frio e sombrio, formando assim um delicado quadro. Ela avistou um rapaz sentado em uma pedra, olhando na mesma direção que ela, estava imóvel e parecia em profunda contemplação, ela nunca tinha visto ninguém estranho por aqueles lados, ficou curiosa, mas não ao ponto de ir conversar com o rapaz.
A partir daquele dia, todos os dias Nicoly via o mesmo rapaz, parado na mesma pedra, algumas vezes contemplativo e outras vezes escrevendo ou desenhando, não sabia bem, só sabia que o rapaz segurava uma prancheta e com um lápis rabiscava algo. Ela já estava intrigada com a situação, precisava descobrir quem era o rapaz, o que fazia lá todos os dias. Esperava ansiosa a hora que ele estaria lá, passou a pensar muito nele, a imaginar como seria sua vida, inventava um passado, amigos, família, e até um amor.
Um dia enquanto observava o misterioso rapaz, percebeu que quando ele foi embora deixou sua prancheta para traz. Seu coração batia furiosamente, enquanto saia de sua casa e ia até o local onde estava a prancheta, segurou-a em suas mãos olhando avidamente o que estava no papel, deparou-se com um desenho delicado, de traços firmes e precisos. Era um retrato dela. Boquiaberta, as mãos tremulas, olhava os outros desenhos, todos dela, em diferentes situações e com inúmeras paisagens de fundo.
Sentou-se sobre a pedra para se refazer do susto e da surpresa, logo avistou o rapaz que voltava, de certo para recolher a prancheta que esquecera. Quando o rapaz notou que ela estava lá, sentiu-se extremamente embaraçado, corou violentamente, mas continuou com passos firmes ao seu encontro. Nicoly se levantou e os dois olharam-se, olhos nos olhos.
- Via você em meus sonhos, não sabia se era real.
Disse o rapaz com voz embargada.
Nicoly sabia no seu coração, com uma certeza inabalável,que seu grande amor tinha enfim a encontrado e foi buscar uma certa antiga lata de biscoitos.