O HOMEM CERTO
Ele se apaixonou desde o primeiro dia em que a viu entrando na escola, quando ainda não passavam de duas crianças. Fazia de tudo para estar próximo a ela na sala de aula. Na hora do lanche, procurava se sentar num lugar onde havia uma vaga a mais, na esperança que ela ficasse ao seu lado. E sempre fazia parte do seu grupo nos trabalhos de pesquisa. Mas seu sentimento jamais foi recíproco, e ela simplesmente o ignorava. Na formatura do colégio, ele se deixou dominar pelos hormônios da adolescência, e lhe declarou todo o seu amor. Ela o olhou com soberba e retrucou:
_Eu quero estar com uma pessoa inteligente e culta, com quem eu possa conversar sobre qualquer coisa. Não vou namorar um bobo como você.
A partir daquele dia ele se dedicou integralmente aos estudos. Leu todas as obras dos grandes mestres, devorou os volumes de todas as enciclopédias da biblioteca municipal, entrou para a universidade e se formou com louvor no curso que a seu ver mais lhe agregaria conhecimento. E mesmo sabendo que ainda tinha muito o que aprender, chegou à conclusão que já era uma pessoa suficientemente culta. Então, com o coração aceso, voltou a procurá-la. Encontrou-a ainda mais linda que antes, postou-se diante dela e novamente declarou o seu amor. Mas ela, quase sem lhe dar atenção, simplesmente retrucou:
_Eu preciso de um homem forte, másculo, com quem eu me sinta protegida. Não vou ficar com um frangote como você.
Diante do espelho, completamente nu, ele constatou toda a sua debilidade física. E se propôs a mudar aquela situação. Começou a frequentar as academias, fez aulas de natação, aprendeu todas as artes marciais, ganhou campeonatos de luta, de ginástica e de atletismo. Transformou-se num jovem esbelto e cheio de energia. Então pensou que era hora de novamente buscar o seu amor. Procurou-a com o coração cheio de esperança. Contudo, diante de sua nova declaração de amor, ela lhe mirou seus olhos frios e disse:
_Eu quero alguém com dinheiro bastante para me dar o conforto que necessito. Não pode ser um pé rapado como você.
Concordou que realmente não tinha condições de proporcionar uma vida confortável a ninguém. Então concentrou todos os seus esforços no sentido de fazer fortuna. Constituiu várias empresas, fez muitos negócios, realizou grandes investimentos e empreendimentos, usou de todos os artifícios, inclusive os mais ilícitos – pois verificou que de maneira inteiramente honesta seria impossível enriquecer como desejava – e acabou sendo um dos maiores e mais poderosos empresários da região. Enfim, tinha toda a riqueza que precisava. E mais uma vez seu coração se acendeu. Encontrou-a numa festa que concentrava toda a alta sociedade local. Seus olhares se cruzaram por diversas vezes, mas ele, assediado por um sem número de falsas amizades, não conseguia aproximar-se dela. Até que um garçom pôs-se a seu lado, enfiou um bilhete em seu bolso e, indicando-a com os olhos, disse-lhe ao pé do ouvido:
_Senhor, a madame deseja conhecê-lo.
Ele olhou para ela, que tinha um convidativo e provocante sorriso nos lábios, e teve uma profunda decepção. Dedicara-se integralmente àquele amor, tendo-a no pensamento todos os momentos de sua vida, e ela não havia nem ao menos guardado o seu semblante na lembrança. Então tomou o bilhete do bolso, escreveu algo no verso, entregou-o ao garçom e falou:
_Diga-lhe que não se interesse por mim. Estou certo de que não corresponderei às suas expectativas.
E com o coração despedaçado, saiu daquele recinto sem olhar para trás.