Codinome Beija-flor - cap. 13

Marcos estava impaciente, andando de um lado por outro no quarto. Já passava da meia-noite e nada do Pablo, o celular dele só dava fora de área. "Onde será que ele se meteu, droga?", resmungou. O telefone tocou, saiu correndo para atender, rezando que fosse ele.

- Pablo!? - exclamou eufórico.

-Não.

- O que você quer, Alisson? - disse, reconhecendo a voz do amigo.

- Liga a tv.

- Eu não quero ver tv, estou  muito nervoso.

- Tem haver com seu amadinho.

Marcos ligou a televisão, morrendo de medo do que poderia ter acontecido com Pablo. Na tela apareceu uma repórter em fente ao hospital.

"Estamos aqui em frente ao hospital Copa D'or, em Copacabana, onde o jovem arquiteto Kaio Borges e Bargança, filho do empresário Ramiro Borges, passa por uma delicada cirurgia. O jovem foi baleado na noite de hoje logo depois que saiu de seu escritório, Kaio foi atingido na cabeça por um tiro quando parou no sinal. Testemunhas relatam que o tiro teria sido disparado por um homem que estava em um carro, que parou ao lado do carro de Kaio. A ação foi rápida, os criminosos fugiram. A polícia já está cuidando do caso..."

Marcos despencou no sofá, agora entendia o porquê do sumiço de Pablo. Sabia que Kaio era o melhor amigo dele, "ele deve está péssimo", pensou. Marcos queria correr até o hospital e consola-lo, mas sabia que não podia. Ouviu a voz de Alisson, que ainda estava no telefone.

- Estou desnorteado com essa notícia. O Pablo deve está sofrendo muito.

- Tadinho do 'sapo'...

- Guarda sua irônia, Alisson, o assunto é sério.

- Tá, foi mal...

- Vou desligar, tentar dormir. Amanhã será um dia tenso.

- Eu também tenho que dormir, amanhã tenho que fazer uns exames de rotina.

- Então, tchau.

Marcos desligou o telefone, continuou vendo o noticiário que ainda falava do caso de Kaio, agora estavam na cena do crime, dando detalhes do caso. Marcos não prestou atenção na matéria, só pensava no que a família de Kaio estava passando. Apesar de tudo, tinha um apreço por Bianca, "Amanhã irei no hospital dar meu apoio a Bianca e os outros", disse ele pra si mesmo.

- Droga, o desgraçado não morreu.

Pétala desligou a tv, furiosa. Pegou o telefone e ligou.

- Alô?!

- Ele não morreu... Seu idiota, ele não morreu.

- Calma, madame. Nos fizemos o serviço como combinado, se ele resistiu ao tiro, não é culpa nossa.

- Calma, o caramba... Vocês só vão receber depois que ele morrer, tão me ouvindo?

- Mas, nós fizemos nosso serviço, isso não é justo!

- Dane-se, só vão ver o dinheiro quando ele estiver no caixão.

Pétala desligou. Tentou se acalmar, e pensar no que fazer.

- Agora, é rezar pra esse maldito morrer. - abriu um sorriso e completou - Acho que foi lá dar minhas condolências...

O silêncio imperava naquela sala de espera, apenas se ouvia os soluços de choro vindos de Bianca. Ramiro estava calado, encontrado num canto, quase imóvel ao lado de Dora. Pablo estava impaciente andando de um lado por outro, vez em outra tinha que se sentar ao lado de Bianca pra acalma-la.

- Essa cirurgia está demorando demais. - disse Dora com Pablo

- Também acho...

- Pablo, até agora não entendo quem poderia fazer isso com meu irmão.

- Nem eu, Dora. Nem eu...

- Com licença, sou o delegado Júlio Trindade.

O delegado entrara na sala acompanhado de dois policiais.

- Boa noite. - disse Pablo, cumprimentado o delegado.

- Sinto muito pelo o ocorrido... Bem, eu fui designado pra cuidar do caso, queria saber da família se há alguma suspeita de quem possa ter feito esse crime.

- Não temos suspeitas de ninguém. - respondeu Pablo.

- Ah sim. O que o senhor é da vítima?

- Sou genro e melhor amigo da vítima.

- Hum... Bem, os familiares tem alguma suspeita? - o delegado falou se dirigindo para Ramiro e Dora, desfazendo de Pablo.

- Não. - respondeu Dora, secamente.

- Tudo bem. Era só isso que eu queria saber, vou deixa-los em paz...

O delegado se despediu e saiu.

- Ai, que demora! Ninguém vem dar notícias, droga. - resmungou Bianca.

- Calma, Bia, essas coisas demoram. Vai ficar tudo bem. - disse Pablo, tentando tranquiza-la.

- Tenho medo de ter dado algo errado, e o Kaio...

- Para, Bia. Nada de pensamentos negativos aqui. - disse Dora, séria.

Ramiro deu um gemido sofrido.

- O que foi pai? - perguntou Dora, assustada.

- Nada, só uma tontura.

- Vou chamar uma enfermeira. - Dora saiu para o corredor atrás de uma enfermeira.

Pétala desceu do táxi e adentrou no hospital. Entrou na sala de espera, onde a família de Kaio estava. Pablo se espantou ao ver a mãe.

- Oh, querindinha, sinto muito. - ela abraçou forte Bianca, depois foi até Ramiro - Eu imagino o que você deve está sentindo, mas tenha fé, o Kaio é forte e vai...

- O que você está  fazendo aqui? - perguntou Pablo, puxando a mãe para longe de Ramiro.

- Oras, estou aqui pra dar minhas condolências, tem algo de errado nisso?

- Vai embora.

- Isso são modos de tratar sua mãe? - disse Pétala irônica.

- Achei uma enfermeira! - Dora chegou acompanhada de uma enfermeira.

A enfermeira tirou a presão de Ramiro. O medicou e saiu. Dora e Bianca se sentaram juntos do pai, e o abraçou.

- Acho que deviamos rezar. Trouxe meu terço. - disse Pétala, tirando um terço da bolsa - Reza comigo, filho?

- Vou dar uma volta lá fora. - disse Pablo, ignorando Pétala.

Pablo já saindo quando o médico apareceu. Todos se juntaram em frente ao doutor, o enchendo de perguntas, o médico pediu silêncio para falar.

- Calma, a cirurgia correu na mais perfeita ordem. Conseguimos tirar a bala.

Todos comemoraram alegremente, menos Pétala, que não conseguiu esconder o desapontamento. O doutor pediu silêncio novamente. eles param e prestaram a atenção no doutor.

- A cirurgia foi um sucesso, mas devo alertar que o paciente ainda corre risco de vida.

- Oh não... - exclamou chorosa Bianca.

Ramiro sentiu uma tontura, e foi amparado por Dora.

- Qual é o estado dele, doutor? - perguntou Pablo.

- A bala se alojou numa parte delicada do cérebro, o estado dele nesse momento é estável. Temos que esperar pra ver como o paciente vai responder ao tratamento. Agora é só tempo que dirá se ele vai sobreviver ou não.

- Ele vai sobreviver, tenho certeza. - disse Dora.

- Ah, só mais uma coisa, o paciente poderá fica com algumas sequelas, visto a região do cérebro atingida.

- Que sequelas? - perguntou Pablo, apavorado.

- Não dar pra saber ainda, isso só com o tempo... Bem tenho que ver outro paciente, qualquer novidade avisaremos.

O dia amanheceu nublado, Jussara fez uma força danada pra se levantar da cama, estava cansada e sonolenta. Ainda se sentia péssima com o 'bolo' que o Kaio tinha lhe dado, ela nunca ia perdoa-lo.

Depois de se arrumar, foi para cozinha tomar seu café. Sua mãe já estava sentada na sua máquina de costura, concentrada no trabalho. Jussara sentou à mesa e começou a tomar seu café.

- Bom dia, filha. - disse a mãe.

- O que tem de bom? - resmungou Jussara.

- Não precisa ficar azeda assim, querida.

- Doi demais ser feita de boba. Ele não precisava fazer isso.

- Talvez ele tenha uma explicação.

- Acho dicifil.

Murilo entrou na cozinha, deu um beijo na mãe e um bom dia alegre. Sentou ao lado de Jussara.

- Que cara azeda maninha. - disse ele, irônico.

- Não me enche, seu doente mental.

- Xii, tá estressadona...

Jussara não respondeu, levantou e já ia saindo.

- Já vai lá consolar sua amiguinha? - perguntou Murilo, com um sorriso no rosto.

- Consolar? - perguntou Jussara, sem entender.

- Não tá sabendo ainda? Que amiga desinformada.

- Fala logo, o que aconteceu com a Bia? - quase gritou Jussara

- Não foi diretamente com ela, mas sim com o irmão dele...

- O quê??? - Jussara sentia seu mundo desabando, Kaio estava com problemas, ou ele tinha... Não! Aquilo não pode ter acontecido. Sentiu uma aperto forte no peito. - O que aconteceu com o Kaio? - aquela pergunta saiu como uma suplíca, como pedindo que não fosse nada grave.

- Ele foi baleado ontem a noite, agora está entre a vida e a morte. - Murilo falou com indiferença, como se tivesse contando uma banalidade.

Jussara sentiu todo seu corpo falhar, o ar lhe faltou, sua cabeça rodopiou como furação. Sentiu as mãos protetoras da mãe a segurando, enquanto seu corpo ia escorrendo até o acento do sofá, guiado pela mãe.

- Calma filma. Ele deve está bem, o tiro pode ter pego de raspão...

- O tiro foi na cabeça, acho que ele não tem chance.

- Para, Murilo! - falou a mãe brava.

- Eu sabia que ele não tinha esquecido de mim. Ele não pode vim, mãe. - a moça sussurava quase em delírio - Ele não teve culpa, ele não estava brincando comigo...

- Hum, você estava pegando o riquinho... Que pena, maninha, queria dar o golpe, mais agora o cara está morren...

- Cala a boca, Murilo! - gritou Isabel, estava ainda abraçada a filha, que chorava - Sua irmã, ama esse rapaz. Respeite a dor dela.

- Que seja... - Murilo se levantou da mesa - Tenho que ir pra faculdade.

- Me leva no hospital?! - disse Jussara entre soluços.

- Não dar, eu vou me atrasar.

- Você, vai nos levar agora. E sem reclamar. - Isabel disse com firmeza

- Tá. - resmungou ele.

- Pai, vamos pra casa, o senhor precisa descansar um pouco.

- Eu vou ficar aqui até meu filho acordar.

Dora tentava em vão convencer o pai a ir para casa, descansar um pouco. Todos passaram a noite acordados, Ramiro estava muito abatido, e a horas não se alimentava.

- Mas, Pai, o Kaio vai demorar acordar. Eu concordo com a Dora, o senhor tem que ir dormir. - disse Bianca, sonolenta - Eu também estou morrendo de sono.

- Vocês todos estão cansados, e precisam descansar. - Pablo estava encostado no parapeito da janela, seus olhos estavam fundos e vermelho - Eu fico aqui, e qualquer coisa eu aviso vocês.

- Eu não vou sair daqui, já disse. - resmungou Ramiro.

- Trouxe café pra todos. - Pétala entrou na sala carregando uma bandeja - Vocês estão com umas carinhas abatidas...

- O que você ainda está fazendo aqui? - censurou Pablo.

- Estou ajudando, não está vendo? - Pétala respondeu, irônica - Tome Ramiro, você está precisando.

- O papai precisa ir pra casa. - disse Dora

- Eu não vou!

- Seu Ramiro, vá pra casa, descanse e se alimente. O Kaio não irá gosta de vê-lo assim abatido, quando acordar. - falou Pablo, calmamente - Eu fico aqui, e os avisarei se algo acotecer.

- Não vou conseguir voltar pra casa, sabendo que meu filho pode...

- Nada de mal vai acontecer. Ele vai acordar, e logo, logo ele vai está junto da gente... E ele vai querer ver o senhor bem quando despertar desse pesadelo.

- É, você está certo. Então vamos, filhas.

O carro parou em frente ao hospital, Jussara desceu correndo, seguida da mãe. Murilo já ia dando partida, quando viu Marcos se aproximando. Deu um sorriso, e desceu do carro, indo ao encontro de Marcos.

- Ôh destino! - exclamou sorrindente.

As espinhas de Marcos gelou, sentiu um pânico invandi todo seu corpo. Murilo se colocou em frente dele. O rapaz tinha um sorriso estranho no rosto, Marcos olhou para os lados, procurando um ponto de fuga, viu uma viatura da PM em frente ao hospital. Criou coragem para encarar Murilo, então.

- O que foi? Vai tentar me agarrar de novo? - disse Marcos com um certo ar de prepotência - O que você ainda quer de mim?

- Me desculpe por ontem, eu estava fora de mim...

- Não desculpo, agora me dei licença.

Marcos tentou passar, mas Murilo não deixou.

- Sai da frente, ou eu vou chamar a polícia. - Marcos apontou com a cabeça as viaturas.

- Você não sente nada por mim? - seu sorriso sumira, agora ele tava com uma cara triste.

- Eu tenho desprezo por você, e só!

- Você vai se arrepender de falar assim comigo.

- Para de me ameaçar, e sai da minha frente.

- Eu...

- Deixa o moço em paz!

Murilo se virou, e encarou Isabel.

- Anda, deixa ele em paz. - ela falou de forma firme - Você não está atrasado pra faculdade?

Murilo resmungou algo bem baixo, que não deu pra entender, e foi para seu carro. Marcos estava confuso, Murilo ia embora em seu carro, obedecendo a ordem da mulher. Aquela mulher ainda estava ao seu lado, mas, não sabia ainda de quem se tratava.

- Isabel. - disse ela, estendendo a mão para Marcos.

- Ah, sim. Marcos - ele apertou a mão da desconhecida - desculpa, mas quem é a senhora? E de onde conhece o Murilo?

- Ele é meu filho!

- Sério? - Marcos ficou espantado.

- Sei que é difícil de acreditar, mas ele tem mãe, e sou eu! - ela esbouçou um sorriso.

- Desculpa, eu não pretendia ofender a senhora...

- Fica tranquilo. Sei que meu filho é meio maluco, mas acredite, ele tem um coração maravilhoso.

- Coração? Tenho minhas dúvidas sobre isso.

- Bem, vamos tomar um café, e eu respondo suas dúvidas?

- Acho bom.

- Bia, como ele está?

Jussara entrou na sala chorando, Bianca a abraçou, também chorando.

- Por que do desespero? Nem sabia que você gostava tanto assim do Kaio. - disse Dora, irônica. Não estava com paciência para aquela patricinha do subúrbio. - Se isso for teatro, acho melhor parar...

- Eu amo o Kaio. Eu sempre o amei. - Jussara jogou as palavras entre soluços. Todos ficaram de cara com a revelação.

- Isso é novidade! - exclamou Dora, espantada - Sabia dessa Bia?

- Não... Estou boba.

- Ninguém sabia... Eu tinha me declarado pra ele hoje pela manhã, íamos nós encontrar, mas... - Jussara voltou a chorar.

- Então era com você que ele ia se encontrar? - preguntou Pablo

- Como você sabe? - perguntou Bianca

- Ele me contou.

- Sim, era comigo que ele ia se encontrar. - choramigou - Então, como ele está?

- Está num coma induzido, seu estado agora é estável. - Respondeu Pablo

- Bem, vamos pra casa agora, não adianta ficar aqui. - disse Dora, seca. - Você devia fazer o mesmo.

- Não podemos vê-lo?

- Não. Jussara, ele pode levar dias para acordar, então pode ir pra casa. - Pablo disse, com gentileza.

- Eu posso ficar? - perguntou ela. - Eu preciso me senti próxima a ele.

- Tudo bem, você pode me fazer companhia. - Pablo sorriu gentilmente para a garota.

Ramiro e as filhas se foram. Pablo se sentou ao lado de Jussara. Os dois se conheciam há tempos, e nunca tiveram empatia um com outro, mas agora era diferente, Pablo estava diante de uma mulher que ama seu melhor amigo. Estava agora a vendo com outro olhar, mais complacente. Segurou as mãos de Jussara, que chorava baixinho.

- Jussara, eu fui a última pessoa a conversar com o Kaio antes disso acontecer... Acredite, eu nunca tinha visto meu amigo tão contente e animado para um encontro. Ele gosta de você, e espero que quando tudo isso passar vocês possam ficar juntos.

- É o que mais quero... Ficar pra sempre com o Kaio.

Petrus Agnus
Enviado por Petrus Agnus em 31/05/2013
Código do texto: T4319368
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