Boa Noite, Amor.

Boa Noite, Amor.

15 de Maio de 2013.

Quarta-Feira.

Taís sempre fora uma menina sonhadora. Mantinha um diário escondido no travesseiro de bolinhas coloridas. Escrevia todas as noites sob a luz azulada da luminária rodeada de pequenas estrelas. Gostava de ler sempre quando acordava, era um hábito estranho. Espreguiçava sob o lençol amassado, teimava em não arrumar a cama, ia logo preparar o chocolate quente acompanhado de bolinhos de chuva. Encostava-se ao balcão de granito e abria o livro. Ela gostava de tomar café em pé, sempre folheando folhas amareladas e cheias de segredos. E sorria. Otávio vivia dizendo que ela tinha o "sorriso de livro", aquele que as pessoas apaixonadas por leitura estampam no rosto, um sorriso fraco, de canto. As pessoas sorriem enquanto leem, na maioria das vezes, ela não acreditava muito.

_Vai ler para sempre? - Ele perguntou esticando os braços para trás.

_Só mais um capítulo. - Ela sorriu sem olhar em sua direção.

Ele gargalhou e desapareceu pelo corredor. Provavelmente, fora dormir. Ele era preguiçoso. Taís olhou por cima do livro ainda aberto, admirando a meia luz que cobria o pequeno corredor. Otávio já tinha ido.

Ela colocou a xícara na pia e enfiou o livro na bolsa que estava pendurada em uma das cadeiras. Olhou a que estava arrastada, onde Otávio tinha se sentado poucos minutos antes. Apagou a luz da cozinha e saiu.

Ela trabalhava relativamente perto. No caminho, encontrou sua amiga de infância, Ananda.

_Como você está? - A garota morena perguntou, preocupada.

_Perfeitamente bem e você?

_Também.

Ananda suspirou. Taís olhou sem entender, ela detestava aqueles suspiros rasgados, como se algo estranho estivesse acontecendo, ou como se dizer "estou bem" não fosse certo.

_Amanhã teremos discussão no grupo do livro, você irá?

Taís nem pensou.

_Terei que perguntar ao Otávio.

_Mas...

Não deu tempo de nada, Taís saiu andando rápido, depois de sair do trabalho, quando a noite já começava a cair, voltou ao apartamento. Ofegante, jogou as coisas no chão e correu para o quarto. Não viu Otávio. Escutou o chuveiro ligado.

_Terei que perguntar ao Otávio. - Repetiu, como um mantra.

Viu as roupas dele jogadas no chão, sujas de poeira. Olhou melhor, pegadas de terra contornavam a cama. Olhou o porta-retratos quebrado em cima do criado-mudo. Suspirou.

Agarrou-se ao travesseiro, colocando as pernas sobre a cama. O choro veio logo.

_Preciso perguntar ao Otávio. Ao Otávio. Eu preciso. - Sussurrava contorcendo as bordas do travesseiro.

As lágrimas caíam velozes, um sorriso brincava nos doces lábios de Taís.

O chuveiro foi desligado. Ela escutou os passos dele vindo em sua direção. O colchão subitamente se movimentou, um cheiro de camomila se espalhou pelo pequeno quarto. O hálito quente de Otávio percorreu a pele de Taís, ele beijou a curva de seu pescoço e sussurrou.

_Boa Noite, Amor.

Ela congelou. O colchão voltou ao normal, o silêncio predominou.

Retirou o diário de dentro do travesseiro e leu a última folha que havia escrito.

03 de Maio de 2013.

Sexta-Feira.

Hoje foi o dia em que perdi meu amor.

Taís.

Ana Luísa Ricardo_1
Enviado por Ana Luísa Ricardo_1 em 29/05/2013
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