Tentação (parte XCIV )
( continuação do capítulo anterior )
Jurandir e Ubirajara voltavam para casa, cansados e decepcionados, foram levar Machadão para o hospital na esperança de voltar com ele recuperado, imaginando que havia algo de milagroso nos remédios que os doutores aplicavam, tinham ouvido estórias fantásticas de recuperação, e mesmo vivenciado uma situação em que o filho da dona Beth, a condessa que foi patroa de ambos, tendo caído do cavalo e ficado desacordado por mais de duas semanas, voltou perfeitinho para casa, graças aos remédios milagrosos dos doutores. Mas Machadão não deu sorte, não chegou a tempo de ser medicado.
Agora o que Jurandir mais queria era se encontrar com Sinhá e esquecer toda aquela estória.
Ubirajara lamentava e se recordava do Machadão, um homem sério e trabalhador e que sempre agradecia a Deus por ter conhecido o senhor Silveira. Ele era de uma fidelidade inigualável ao patrão, sempre se antecedendo aos problemas, se antecipando para evitar que eles acontecessem e pudessem prejudicar Silveira. Essa dedicação se transferiu também para dona Ana Luiza e para os pequenos, a quem ele idolatrava.
Mas agora restava a lembrança, as boas recordações que todos tinham dele, e a saudade.
Se a dona Ana Luiza não estivesse no hospital, certamente faria uma novena para que Deus guardasse sua alma num céu iluminado...
- Jurandir, não quero criticá-lo, sei que você fez com a melhor das intenções, mas ao invés das velas para iluminar a alma do Machadão, não seria melhor uma prece?
- Eu vou fazer uma prece e me penitenciar pelo que fiz.
- Eu faço a prece junto com você...
De manhã Ana Luiza acordou, ficou preocupada por ver seu corpo cheio de marcas, e pediu para falar com seu marido. Quando Silveira chegou, ela ainda se queixava de dores, mas não eram dores de parto, que bem ela conhecia, então ela disse:
- Meu marido, estou com o corpo todo marcado, mas o que mais me preocupa foi o sonho que tive.
- Qual foi o sonho, minha mulher?
- Sonhei estar passando por uma multidão barulhenta, então no meio da balbúrdia eu vi o senhor, quis me aproximar e não consegui, depois eu vi os dois irmãos, Ubirajara e Jurandir, mas a multidão impediu que eu falasse com eles, foi quando depois, vi o pior,
senhor meu marido, apareceu, caído no chão, com os olhos esbugalhados e com a língua para fora, fazendo careta para mim, o senhor Machadão, que me chamava para ir com ele...
- Não pense mais nisso, minha mulher, a gente não deve ficar se fixando nos pesadelos... Eles não acrescentam nada, só atrapalham.
- Mas vou lhe pedir novamente, em nome do amor que temos aos nossos filhos, me prometa outra vez, não os separem de Maria Rosa! Prometa-me em nome do Criador!
- Eu prometo, minha mulher, mas prometa-me também uma coisa. Agora que você já está melhor, quero que não pense mais nesses pesadelos, nem em coisas que não vão dar certo, promete?
- Prometo também em nome do Criador!
Chegaram então a senhora dona Augusta e o senhor Adalberto, e Silveira fez um sinal e pediu para lhes falar para passar as recomendações médicas, quando se afastou de Ana Luiza, lhes relatou sobre o pesadelo e pediu que não contassem o verdadeiramente ocorrido.
( continua no próximo capítulo )