Tentação ( parte XCII )
 
                               ( continuação do capítulo anterior )
 
 
Maria Rosa tinha dado a refeição para as crianças e colocou-as para dormir durante a sesta da tarde, depois foi dar atenção para o visitante. Como tinha visto o violão acondicionado e protegido por uma capa, ela perguntou:
- Márcio, quem sabe tocar o violão, você ou a Maria?
- Nós dois, aliás, ela leva vantagem, porque além de tocar bem, ela tem uma voz muito afinada, ela canta muito bem...
- E como vocês aprenderam a tocar?
- Foi na igreja, como eu ficava admirando o senhor Walter tocar, um dia ele me perguntou:
- Menino, você quer aprender violão?
Eu disse que sim e ele passou a me dar aulas nos finais das missas. O que mais me incomodava era ter de assistir a todas as missas para então depois ir para as aulas.Acho que eu hoje sei mais latim do que violão.
- Então diga-me alguma coisa em latim.
-Antigamente eu tinha trechos da missa decorados, mas é muito chato, vou lhe dizer então, não da missa:
- Amor vincit omina...
- Ah, diz o que significa!
- O amor vence tudo.
- Diz mais alguma coisa, eu gostei...
- Ama est quod vis fact ! : Ama e faz o que quiser !
- Tem muitas palavras iguais às nossas, não?
- Tem sim, o português é derivado do latim...
- E o que você faz, ensina latim?
- Não, do latim só sei o que decorei, sou encarregado de uma fazenda em Magé, o patrão gosta muito de mim porque sei ler e escrever... E faço os outros trabalhar!
Antonio João começou a resmungar no quarto e Maria Rosa foi dar uma olhada nas crianças, e pensou:
- ( Rapaz simpático, quem sabe se será ele quem vai me fazer feliz? )
 
Silveira estava chegando ao hospital para procurar Ubirajara e Jurandir, e saber notícias de Machadão.
Havia muita gente e confusão na porta do hospital, uma mulher gesticulava e falava alto enquanto Jurandir discutia com ela, um cabo da polícia também estava entre eles e tentava acalmar os ânimos. A mulher dizia:
- O senhor sabia que ele estava morto e o trouxe para cá! Aqui não é cemitério , é um hospital!
- Jurandir retrucava:
- Quando eu o trouxe, ele estava vivo, bem vivo, mas vocês demoraram a atender e ele morreu...
- O defunto já estava duro, o que o senhor queria que eu fizesse, o ressuscitasse?
- Eu não sei o que a senhora tinha de fazer, mas a senhora negou atendimento ao meu amigo...
- Atendimento a um defunto?
Silveira foi cortando caminho entre o povo que estava aglomerado e disse:
- Jurandir, se ele morreu vamos enterrar, não discuta mais...
- Mas tem de ter uma declaração de óbito, patrão!
A mulher novamente voltou a falar:
- Eu não posso dar nenhuma declaração de óbito! 
O cabo interferiu:
- A senhora pode sim, porque já deu pra outros!
Alguém do povo disse:
- Se já deu, tem que dar!
A mulher, irritada, disse aos berros:
- Ele não pode é deixar o defunto já duro e fedendo aqui na porta do hospital, leva ele lá pra sua prisão...
- Lá não é necrotério nem cemitério! Dá logo essa droga desse atestado e acabe com essa pendenga...
Ubirajara resmungou:
- Bem que lhe disse pra gente voltar com ele e enterrar lá no quintal!
E o cabo:
- Não pode, senhor, a igreja necessita de um atestado para enterrá-lo no cemitério. 
Silveira voltou a intervir:
- Se a senhora não quer dar esse atestado, vamos levar o defunto  lá para a porta do  consultório do doutor Darci, afinal ele é o diretor do Hospital e tem que resolver isso.
Nisso aparece uma charrete e alguém diz:
- Dá passagem, que  a mulher  vai dar à luz!
Dois homens levantam uma cadeira onde está Ana Luiza cheia de dores, e vão abrindo passagem e ela vê no meio do tumulto, Silveira, Jurandir e Ubirajara, e deitado no chão do corredor, Machadão morto, com os olhos esbugalhados e a língua para fora da boca...
Ela começa a chorar, nervosa e cheia de dores, e desmaia...
Silveira grita para a mulher do hospital:
- Atenda logo à minha mulher!
                                                                      (continua no próximo capítulo )
elzio
Enviado por elzio em 25/05/2013
Reeditado em 04/06/2013
Código do texto: T4308056
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