ENCONTROS DA VIDA (PARTE 2)

Evelyn saiu andando com pressa. Perdeu a noção do tempo de tal maneira, que acabou esquecendo de uma reunião no trabalho.

Com passos rápidos lá foi ela equilibrando-se nos saltos altos, o que davam ainda mais graciosidade no seu jeito de andar.

A conversa com aquele estranho fez ela refletir sobre a sua vida.

De repente se sentiu só, com uma sensação desamparo tomando conta de si. Justamente naquele dia em que precisava estar forte e confiante para apresentar um trabalho aos diretores da empresa.

Por um momento praguejou por ter conversado com aquele homem desconhecido, mas por fim concluiu: a culpa não é dele.

Ultimamente ela era a primeira a chegar no escritório e a última a sair.

Segunda feira havia tornado-se o seu dia favorito, enquanto os finais de semana viraram verdadeiros castigos.

Ela fazia de tudo para ficar longe do marido, e estava cada vez mais difícil olhar pra cara dele. Evelyn percebia que ele sentia a mesma coisa, isso era muito claro nos seus olhos.

O silêncio era companheiro de ambos, nem brigar mais eles brigavam.

A impressão que ela tinha era a de que os dois haviam desistido da relação, e que ambos tinham pavor de conversar sobre isso.

No começo isso deixava Evelyn incomodada, agora virou um alívio poder chegar em casa e não ter que lhe dar com qualquer tipo de discussão.

Os dois ganhavam relativamente bem, sempre frequentaram os melhores restaurantes e fizeram viagens pra vários lugares do mundo. Pelo menos não tinha problema financeiro.

Ainda dividiam a mesma cama, apenas para dormir.

Ela nem lembrava quando foi a última vez que fizeram sexo.

Durante os três primeiros anos do casamento o sexo era muito bom.

Ela, que sempre precisou demais do sexo, agora estava acomodada de tal maneira que ficava assustada por ficar tanto tempo sem transar.

Trabalhando num ambiente quase todo masculino ela era constantemente assediada. Alguns eram discretos, porém, outros homens perdiam a noção do bem senso. De qualquer maneira nunca passou pela cabeça trair o seu marido, mesmo ele sendo o motivo de grande parte de sua infelicidade.

Evelyn sente a falta de uma amiga de verdade que possa realmente ouvi-la. Como todas as suas amizades vêm do trabalho, ela não se sente confortável em abrir seu coração nesse mundo excessivamente corporativo.

Até hoje ela lamenta profundamente por ter começado uma conversa com a sua mãe, sobre como estava infeliz no casamento. Em vez de ter compreensão, Evelyn teve que aguentar sua mãe chorando, aos prantos, toda preocupada que nunca teria netos.

Foi então que decidiu que nunca mais cometeria o mesmo erro.

Ela estava andando de forma tão automática, absorta em seus pensamentos que nem percebeu que havia chegado no prédio em que trabalhava.

Entrou no elevador, respirou fundo e tentou se concentrar em sua apresentação.

Durante um mês ela só fez isso, só pensou nisso, e queria que tudo desse certo.

O fato de trabalhar tanto acabou rendendo mais atenção por parte de seus superiores. Ultimamente ela tinha adotado um mantra: Há males que vem pra bem...

Isso lhe trazia um conforto disfarçado, não muito consistente, é verdade, mas servia para trazer algum sentido pra aquela vida que ela estava vivendo.

O trabalho não lhe dava carinho, não lhe dava colo, nem beijos de boa noite. Os relatórios empilhados em sua mesa também não a convidavam para jantares à luz de vela, não lhe mandavam flores nas datas especiais, mas ela estava decidida tirar algum proveito daquela sensação.

Mas negava-se a crescer a qualquer preço.

O seu diretor imediato era um homem na casa dos 50 anos, cabelos grisalhos, olhos verdes, e corpo atlético, que em nada lembravam a maioria dos homens que há muito passaram dos 40.

Separado, o cara parecia estar no cio, e Evelyn vinha sendo o seu alvo preferido. Não havia como evitá-lo, e ela sabia muito bem disso, mas o excesso de insistência dele estava a deixando bastante calejada.

Numa dessas investidas seu chefe sugeriu que eles fossem juntos visitar um cliente na Europa, um trabalho que sempre foi exclusividade do diretor, até por imposição da empresa que paga passagem e estadia apenas para os altos executivos.

Habilidosa, Evelyn lembrou ao digníssimo chefe que não poderia viajar porque precisava terminar um trabalho importante que seria apresentado pelo próprio diretor para os executivos da matriz nos EUA.

Ele ficou duplamente desconcertado, e ela mau conseguiu esconder o sorriso de vitória e satisfação por ver a cara de desânimo e desapontamento do grande chefão da empresa.

Enquanto olhava no espelho retocando a sua maquiagem, Evelyn disse em voz alta: Quem mandou você ser linda, inteligente, sexy e gostosa?

Não reclame mulher, entre naquela sala e mostr que você não precisa de bolas pra falar mais grosso que aquele monte gravatas enfeitadas por homens.

E assim foi ela para mais uma batalha. (CONTINUA)

Deep Blue
Enviado por Deep Blue em 24/05/2013
Reeditado em 27/05/2013
Código do texto: T4306740
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