A FONTE DA SEDA...

Arnaldo, jovem a brincar no quintal de sua casa. Um lugar do interior. Onde desfrutava do espoço de tempo entre a escola e a colheita de casulos de bicho-da-seda, num terreno que pertencia à fábrica de tecidos, que rendia alguns trocados para a sua família. Ele nunca havia saído da sua cidade e queria saber para onde levavam aqueles caçulos e o que faziam com eles. O seu pai já havia lhe contado, mas ele queria ver pessoalmente. Pediu várias vezes ao seu pai para leva-lo quando das entregas direto na fábrica de tecelagem que ficava próxima a saída da cidade.

Cansado de tanto vê-lo pedir, o seu pai no final da tarde lhe chamou para acompanha-lo até a tecelagem. Botou uma roupa mais arrumada e subiu na carroça conduzida por seu pai. No caminho seu pai foi explicando o que conhecia sobre a seda. Desde quando surgirá. As lendas que envolviam o tão precioso tecido, e a sua beleza e delicadeza. Que ele nunca haveria de ver igual ao seu toque e maciez. O Arnaldo fechava os olhos e tentava imaginar algo tão macio e delicado assim.

Antes de chegarem até a tecelagem, pararam em um barzinho, distante alguns quilômetros da dita fábrica, para tomar um cafezinho e comer algo. Enquanto o pai de Arnaldo conversava com o seu amigo Tenório, dono do bar, Arnaldo avistou de longe um grande galpão, reluzindo com a mistura do restar do sol e a chegada da lua, e gritou: “Pai! Olha que bonito. O que é aquilo?”. O Pai se virou e lhe disse que era, exatamente, o lugar para onde eles estavam indo.

O Arnaldo ficou ainda mais interessado e apressado em chegar. Puxou o pai pelo cinturão, “vamos, pai!”. O Pai pagou pelo café, quase que jogando o dinheiro, sem tempo de se despedir do amigo Tenório. E no caminho, um carro passou em velocidade pela carroça, assustando o cavalo. Quase derrubando Arnaldo e seu pai da carroça. Arnaldo começou a esboçar um grito, quando seu pai lhe disse: “Calma, filho! Não foi nada”. “Como não foi nada?” Perguntou Arnaldo. E seu pai, explicando, lhe disse: “Esse é o carro do patrão”. Arnaldo, embora zangado, se conteve e ficou calado, com um olhar enfurecido.

Ao chegar à frente da fábrica o Arnaldo, em função do ocorrido na estrada, já não aparentava mais a enfuria de antes. Começou a ajudar o seu pai a descarregar a carga preciosa para entregar no depósito. Por coincidência o patrão por lá passava. Parou e cumprimentou o pai do Arnaldo. “Olá, seu Fernando! Trouxe o filho, hoje, para trabalhar?” O seu Fernando, acanhado, lhe disse: “Não. É que ele estava curioso pra saber como era a fábrica”. “Ah! Então quer saber o que fazemos aqui, rapaz?” Perguntou o Patrão ao Arnaldo que, com uma cara de poucos amigos, nada respondeu. O pai do Arnaldo, lhe dando um cutucão, se desculpou ao patrão dizendo que ele era um menino muito tímido. E que era a primeira vez que saia para tão longe de casa.

Após as desculpas, o patrão, lisonjeado com a curiosidade do menino, o convidou para entrar. Arnaldo aos poucos foi esquecendo-se do incidente e abrindo ainda mais os olhos para o interior da fábrica. Ficou encantado com a quantidade de gente lá dentro que catavam, separam, e davam início ao processo de fabricação da seda. O patrão, todo orgulhoso, mostrava e demonstrava cada etapa do processo de produção e disse ao Arnaldo: “Quando chegarmos ao final da produção vou lhe mostrar o tecido mais lindo, mais valioso e macio que suas mãos já tocaram”. Continuaram a visita e, antes de chegar ao final da linha de produção, o patrão tratou de recortar um pedaço do tão falado tecido. E quando iria entregar nas mãos do Arnaldo, o pedaço de tecido, por encanto e pelo soprar de uma brisa cai ao chão. Quando o Arnaldo vai se agachando para pegá-lo, uma mão chega a tocar o pano e a mão de Arnaldo ao mesmo tempo. Era Carine, a filha do patrão. Arnaldo olhou para ela, meio sem jeito, continuou a segurar o pedaço de pano e a mão daquela linda menina. O encanto de Arnaldo se desfez com a voz do patrão: “Essa é minha filha, Carine”. O senhor Fernando, notando que o olhar do Arnaldo não desviava da moça, segurou o pedaço de seda e o entregou ao seu patrão e chamou o Arnaldo: “Vamos, filho. Tua mãe está esperando a gente”. O patrão, sem que nada notasse, insistiu para que eles o acompanhassem até o final da linha de produção para mostrar o acabamento a que era submetido o tecido. O pai de Arnaldo, com receio, disse que estava muito tarde e que tinham que voltar, e que ficaria para depois. Saiu se despedindo, acenando com uma das mãos e subiu na carroça em direção a sua casa.

No caminho de volta não tocou numa palavra com o Arnaldo, como se nada tivesse acontecido, temia ver o filho envolvido com a filha o patrão. Arnaldo, por sua vez, nem escutaria o que o pai lhe dissesse, estava pensando naquela menina, na maciez daquelas mãos, na beleza dos seus olhos. Um balançar da carroça, seguido por suspiros e sorrisos bobos, recheados de lembranças.

Já na sua chegada a sua casa, seu Fernando desce, amarra o cavalo e ajuda o Arnaldo a descer, seguindo juntos para a porta da frente. Neste instante, a mãe de Arnaldo sai à porta e vem correndo em direção ao filho, lhe dá um caloroso abraço e lhe tece as perguntas: “E aí, meu filho, viu a fábrica? Como é ela? Gostou?”. Arnaldo, com a imagem da bela Carine e do sentir das suas mãos e da beleza dos seus olhos, responde a sua mãe: “Mãe, agora eu sei de onde vem a seda, e o quanto ela é preciosa”. Depois que seus pais entraram, Arnaldo se sentou na frente de sua casa e voltou seu olhar para a direção da Fábrica, embora não a avistasse, sentia em seu coração, ao lembrar daquela menina, que havia descoberto a fonte da seda...

Inaldo Santos
Enviado por Inaldo Santos em 21/05/2013
Reeditado em 22/05/2013
Código do texto: T4302206
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