Tentação ( parte LXXXVIII )
 
                         ( continuação do capítulo anterior )
 
Silveira  e Eugênio já estavam perto de Ouro Preto, descansaram numa vila além de Congonhas do Campo, onde encontraram pousada num hotelzinho simples mas asseado, em que dividiram o quarto. As camas ficavam encostadas nas paredes, em que as cabeceiras eram frontais à porta. Silveira estava dormindo na cama em que a lateral ficava junto da janela, o vento frio fez com eles se cobrissem com cobertor. Ele dormia profundamente , a escuridão era total. Então começou a sonhar que estava preso e acorrentado a um poste, em praça pública, com uma multidão observando, quando Maria Rosa entregou para Ana Luiza um látego e ela começou a açoitá-lo. O suor corria em sua face, cada chibatada cortava suas costas, e enquanto Ana Luiza o chicoteava, Maria Rosa dava gargalhadas... 
Ele deu um grito e acordou em sobressalto, enquanto Eugênio roncava na cama ao lado. Acordou assustado, sentou-se  lembrando-se das palavras da sua falecida mãe:
- Menino, a falta de sono é por peso na consciência, o que é que você fez de errado?
Ele pensou: Os meus velhos diziam grandes verdades com poucas palavras... Realmente não estou praticando o que eles me ensinaram.
Tenho uma mulher dedicada, ótima em tudo para mim, mãe sem igual e que me trata com todo carinho. Antes Maria Rosa me tentava, agora sou eu quem estou tentando à ela... Estou realmente fazendo tudo errado. Tenho que acabar com essa estória, coisas que começam errado nunca terminam bem!
Depois desse ato de contrição, ele se reequilibrou, parecia que a sua consciência havia lhe dado uma oportunidade de fazer uma correção de rumos, diminuindo a sua cobrança interna e ele voltou a dormir sem pesadelos.
 
Maria Rosa depois de romper com Silveira ao dizer-lhe que não aceitava trair a amizade que devotava a Ana Luiza, também estava mais tranquila, dedicava-se somente aos pequenos, mas volta e meia lembrava-se da conversa que tivera com sua mãe em que ela a aconselhara a procurar um namorado, começar a pensar em constituir uma família, cuidar dos seus próprios filhos e deixar de pular de galho em galho, porque a vida é curta e quando ela fosse perceber, a juventude haveria passado e não haveria mais tempo para iniciar uma vida a dois. Ela imaginou: será que mamãe percebeu que eu andei dormindo com o patrãozinho? De boba ela não tem nada, e essa conversa que ela teve comigo me deu a impressão que ela estava me alertando,  por ter percebido alguma coisa...
Então veio-lhe  à mente o fazendeiro que tentou entrar de madrugada na Importadora e pensou: todos os homens que conheci só me ofereceram sexo em primeiro lugar... E foi por isso que eu resolvi procurar sexo só nos homens que eu elegia... Assim foi com o patrãozinho, ele foi eleito por mim, me deu sexo, mas me dava carinho, conversava comigo, me considerava como gente... No momento em que a mulher dele também passou a me considerar, as coisas se complicaram, mas vou seguir o conselho da minha mãe, talvez algum amigo da Sinhá Moça seja um bom partido para mim...
 
De manhã Machadão não se levantou,  Ubirajara bateu no seu quarto e não ouviu a sua voz. Ele empurrou a porta e Machadão estava caído no chão, bem junto da porta, então  chamou Jurandir para ajudar a colocá-lo na cama, Machadão era um homem pesado. Jurandir chegou,  os dois o colocaram em cima do colchão e só então observaram que ele estava com o rosto retorcido, os olhos esbugalhados sem poder falar e ainda tinha uma grande contusão na testa, fruto da queda.  
Havia que se levar Machadão urgentemente para o hospital e foi uma tremenda correria, Jurandir teve de ainda ir ao pasto buscar um animal para atrelá-lo na charrete. Teriam que ser duas pessoas para levar Machadão ao hospital, uma para ampará-lo e outra para guiar a charrete. Assim foram, Jurandir e Ubirajara, este guiando e Jurandir apoiando Machadão para que ele não caísse. Numa grande curva, quando o corpo de Machadão deu uma guinada, Jurandir percebeu que ele já estava morto.
- Bira, pode ir devagar, meu irmão, Machadão já não pertence a esse mundo...
- E o que nós vamos fazer, agora?
- Vamos fazer que não percebemos nada e vamos levá-lo para o hospital, lá a gente vê o que vai ser feito... 
                                              ( continua no próximo capítulo )
 
elzio
Enviado por elzio em 21/05/2013
Reeditado em 23/05/2013
Código do texto: T4301078
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