Baile da Frustração

Ela o olhava, mas não o via. Seus pensamentos estavam imersos no mundo que havia sido criado pelas palavras por ele proferidas. Um mundo criado em cima de outro, que essas mesmas palavras haviam acabado de destruir. Sentiu vontade de inventar uma desculpa e voltar pra casa. Sentiu vontade de mergulhar no abismo aquático à sua frente. Ficou desconcertada, destruída. Havia tido a ousadia de pensar que talvez pudesse acontecer alguma coisa entre os dois. Que ilusão, que imbecilidade. Sentou-se ao lado dele, morta. Ele falava e ela ouvia. Não porque minha namorada etc. Morta. A minha namorada acha isso e aquilo. Morta. No percurso ela morreu aproximadamente mil vezes. Cada vez que lembrava de como burra e imbecilmente tinha acreditado que talvez aquela simpatia apresentada nas “carinhas felizes” e na aparente aproximação dos dois significasse algo mais do que nada. Na verdade significava menos do que nada. Não havia surpresa nenhuma nisso tudo na verdade, já que ela estava acostumada com esse tipo de desfecho para suas pretensões amorosas, embora as causas variassem. Ela era um prego que a cada malogrado levava uma marretada e diminuía, cada vez mais, de tamanho. Era cada vez menor, cada vez menos gente. Cada vez mais caco, retalho, fiapo. Era cada vez mais coração sangrando e menos coração batendo.