Tentação ( parte LXXXV )
( continuação do capítulo anterior )
Em Magé, numa grande extensão de terra, que beirando a Serra dos Órgãos se estendia junto ao fundo da Baía da Guanabara, Moacir estava instalando um carneiro hidráulico, ainda faltava estender e instalar as tubulações para que as caixas d'águas recebessem o primeiro jorro de água. Ele estava com sede e fazia um calor infernal, o suor corria-lhe pelo rosto e o serviço não rendia como esperava. Ele foi até à cozinha e pediu a uma jovem um copo d'água:
- Você pode matar a sede de um homem sedento?
Ela riu com a pergunta, pegou o copo d'água, lhe deu e disse:
- Você parece um poeta...
- Você gosta de poesia?
- Gosto...
Moacir lhe satisfez a vontade:
- Queria fazer uma rima,
Mas não sou um poeta,
Embora de perna fina,
Eu sou mesmo um atleta...
A moça deu uma sonora gargalhada e Moacir pegou o copo, bebeu a água e perguntou:
- A quem eu posso pedir para dormir aqui na fazenda, porque pelo andar da carruagem só devo terminar essa obra amanhã à tarde.
Ela sorriu novamente e lhe disse:
- Meu irmão é o encarregado e o senhor está sendo convidado para ser nosso hóspede, poeta...
- Qual é o seu nome, moça?
- Maria, e o seu?
- Poeta Moacir às suas ordens!
Á noite, Moacir ficou até tarde conversando com Maria, enquanto Márcio, seu irmão e encarregado da fazenda, tocava violão e cantava. Moacir sentiu-se em casa, e lá pelas tantas ele aparteou:
- Desafinou... Canta novamente...
- Não, quem vai cantar agora é você, que não desafina.
- Só se for em dueto com Maria.
Mas a música que ele conhecia, ela não sabia cantar, o que ela sabia, ele não... Então cantaram em separado e dormiram já tarde.
Quando terminou a obra, ao se despedir, Moacir perguntou à Maria?
- Quando posso vê-la novamente?
- No final da semana? Ela perguntou, e em seguida lhe disse:
- Vem para dormir, vamos tomar um banho de cachoeira, está bem?
- Combinado Maria... E ficou durante muito tempo segurando a mão da moça.
Quando Silveira voltou das andanças pelas fazendas, encontrou em casa o senhor Adalberto e a senhora Augusta, que vieram visitar a filha e os netos.
Dona Augusta ainda mostrava preocupações em relação à saúde da filha, por estar longe do hospital e do médico, achava que Silveira devia tomar providências, e como chefe da casa, exigir que Ana Luiza voltasse para a Fazenda das Pedras, porque a sua gravidez já estava avançada, chegando a hora da criança nascer, já havia tido complicações e ela não era uma parturiente nova, o que implicava mais riscos.
- A senhora não deixa de ter razão, mas há de convir que a sua filha é de uma teimosia sem igual. Se o hospital lhe fez tanto bem para melhorar sua saúde, lhe dar cor e aspecto saudável, por outro lhe aumentou a teimosia em não aceitar voltar para lá.
Mas vou voltar a falar com ela, lhe prometo, porque também ficarei mais tranquilo, principalmente agora que terei de ir a Ouro Preto...
- Então faça uso da sua autoridade de chefe de família, senhor Silveira!
Silveira voltou a falar com Ana Luiza, que pressionada também pelos pais, resolveu que seria melhor acatar a opinião da maioria.
Ubiratan chegou à porta da casa da senhora Alzira às vinte horas de domingo, conforme o combinado. Dessa vez as luzes estavam acesas e ele badalou o sino, e a própria senhora Alzira veio atendê-lo.
- Pontualidade britânica, Ubiratan, entre , por favor. Acredito que você conheça todos os convidados.
Estavam na sala, além dele e de dona Alzira, mais seis pessoas, todas frequentadoras do sarau onde ele conheceu a anfitriã.
- Todos vocês, conhecem o nosso poeta Ubiratan, aliás, o meu querido poeta Ubiratan?
Ubiratan sentiu todos se olharem entre si, sem que houvesse nenhum comentário. Mas a mudez nas pessoas parecia falar mais alto...
- Este, é o meu namorado, Ubiratan, o nosso poeta...
Na sessão, uma senhora gaguejou, esqueceu o texto na hora de recitar, e a jovem harpista interrompeu seu recital, pediu desculpas e recomeçou a tocar, mas deveras atrapalhada.
O sarau realmente começou, quando os convidados saíram, ficando somente os dois, recitando, se tocando, amando, se desmanchando entre gozos e prazeres.
( continua no próximo capítulo )
( continuação do capítulo anterior )
Em Magé, numa grande extensão de terra, que beirando a Serra dos Órgãos se estendia junto ao fundo da Baía da Guanabara, Moacir estava instalando um carneiro hidráulico, ainda faltava estender e instalar as tubulações para que as caixas d'águas recebessem o primeiro jorro de água. Ele estava com sede e fazia um calor infernal, o suor corria-lhe pelo rosto e o serviço não rendia como esperava. Ele foi até à cozinha e pediu a uma jovem um copo d'água:
- Você pode matar a sede de um homem sedento?
Ela riu com a pergunta, pegou o copo d'água, lhe deu e disse:
- Você parece um poeta...
- Você gosta de poesia?
- Gosto...
Moacir lhe satisfez a vontade:
- Queria fazer uma rima,
Mas não sou um poeta,
Embora de perna fina,
Eu sou mesmo um atleta...
A moça deu uma sonora gargalhada e Moacir pegou o copo, bebeu a água e perguntou:
- A quem eu posso pedir para dormir aqui na fazenda, porque pelo andar da carruagem só devo terminar essa obra amanhã à tarde.
Ela sorriu novamente e lhe disse:
- Meu irmão é o encarregado e o senhor está sendo convidado para ser nosso hóspede, poeta...
- Qual é o seu nome, moça?
- Maria, e o seu?
- Poeta Moacir às suas ordens!
Á noite, Moacir ficou até tarde conversando com Maria, enquanto Márcio, seu irmão e encarregado da fazenda, tocava violão e cantava. Moacir sentiu-se em casa, e lá pelas tantas ele aparteou:
- Desafinou... Canta novamente...
- Não, quem vai cantar agora é você, que não desafina.
- Só se for em dueto com Maria.
Mas a música que ele conhecia, ela não sabia cantar, o que ela sabia, ele não... Então cantaram em separado e dormiram já tarde.
Quando terminou a obra, ao se despedir, Moacir perguntou à Maria?
- Quando posso vê-la novamente?
- No final da semana? Ela perguntou, e em seguida lhe disse:
- Vem para dormir, vamos tomar um banho de cachoeira, está bem?
- Combinado Maria... E ficou durante muito tempo segurando a mão da moça.
Quando Silveira voltou das andanças pelas fazendas, encontrou em casa o senhor Adalberto e a senhora Augusta, que vieram visitar a filha e os netos.
Dona Augusta ainda mostrava preocupações em relação à saúde da filha, por estar longe do hospital e do médico, achava que Silveira devia tomar providências, e como chefe da casa, exigir que Ana Luiza voltasse para a Fazenda das Pedras, porque a sua gravidez já estava avançada, chegando a hora da criança nascer, já havia tido complicações e ela não era uma parturiente nova, o que implicava mais riscos.
- A senhora não deixa de ter razão, mas há de convir que a sua filha é de uma teimosia sem igual. Se o hospital lhe fez tanto bem para melhorar sua saúde, lhe dar cor e aspecto saudável, por outro lhe aumentou a teimosia em não aceitar voltar para lá.
Mas vou voltar a falar com ela, lhe prometo, porque também ficarei mais tranquilo, principalmente agora que terei de ir a Ouro Preto...
- Então faça uso da sua autoridade de chefe de família, senhor Silveira!
Silveira voltou a falar com Ana Luiza, que pressionada também pelos pais, resolveu que seria melhor acatar a opinião da maioria.
Ubiratan chegou à porta da casa da senhora Alzira às vinte horas de domingo, conforme o combinado. Dessa vez as luzes estavam acesas e ele badalou o sino, e a própria senhora Alzira veio atendê-lo.
- Pontualidade britânica, Ubiratan, entre , por favor. Acredito que você conheça todos os convidados.
Estavam na sala, além dele e de dona Alzira, mais seis pessoas, todas frequentadoras do sarau onde ele conheceu a anfitriã.
- Todos vocês, conhecem o nosso poeta Ubiratan, aliás, o meu querido poeta Ubiratan?
Ubiratan sentiu todos se olharem entre si, sem que houvesse nenhum comentário. Mas a mudez nas pessoas parecia falar mais alto...
- Este, é o meu namorado, Ubiratan, o nosso poeta...
Na sessão, uma senhora gaguejou, esqueceu o texto na hora de recitar, e a jovem harpista interrompeu seu recital, pediu desculpas e recomeçou a tocar, mas deveras atrapalhada.
O sarau realmente começou, quando os convidados saíram, ficando somente os dois, recitando, se tocando, amando, se desmanchando entre gozos e prazeres.
( continua no próximo capítulo )