Sinfonia de Ideias Prateadas

Iniciou-se na primeira rajada de vento, que veio como um abraço, envolvendo-me. Morno e aconchegante. Cheiro de flores. Poderiam ser gardênias. Ou eram jasmins? Não importava.

Respirei fundo mais uma vez e me levantei. Meus pés descalços me deram a sensação de liberdade e a textura sob eles era incondicionalmente macia, como se estivesse caminhando nas mais altas nuvens.

Tem uma música tocando e posso sentir o gosto das notas. Se olhar bem, também há cores vindo delas. Azul, amarelo, vermelho, verde, violeta, laranja e anil. Uma cor pra cada nota, dançando no ar, mesclando-se entre si e transformando o ambiente ao meu redor num arco-íris em constante movimento. Não adianta tentar tocá-las. Elas estão além da percepção do toque. Basta ouví-las e saboreá-las.

Olhei para o céu, porque era noite e sabia que a encontraria. Desprezei aquele mar de estrelas, todas ali, brilhando incandescentemente. Embora exista toda uma história por trás de cada brilho daquele, elas não me encantaram. O que me encantou foi o brilho e a imponência dela! Ela era mais que real, parecia estar diante de mim e tão perto como aquele vento que me envolvia. Quando meus olhos a viram, em todo o esplendor da sua beleza, me sentei para contemplá-la. Tão linda! Cinza? Não, cinza não. Prata. Com certeza! A Lua é da mais fina prata.

E fiquei ali, sentada, olhando para a Lua. Degustando o sabor e vendo as cores da música ao meu redor, sentindo a maciez sob meu corpo, com aroma de jasmins (sim, eram jasmins!) no vento ao meu redor.

Estava preparada!

Tinha chegado o momento.

Me levantei, não querendo sair daquele instante, que parecia ser eterno. Muito menos querendo que ele saísse de mim. Fui lentamente para minha escrivaninha. Me sentei e comecei a escrever.

Quando terminei, me deparei com a realidade: estava no meu quarto, pisando descalça no meu tapete, o MP3 tocava música e a janela estava aberta pra me trazer novos ares.

Mas aquele instante tinha sido eterno.

Tinha sido meu momento de inspiração.