O ESPELHO


Entrou na casa de banho e olhou o espelho enquanto lentamente se despia para tomar duche.
Aquele corpo já começava a apresentar as marcas do tempo.
Outrora mirava-se, tão orgulhoso do tronco perfeito, dos abdominais bem definidos, do rosto de menino, sempre com sorriso maroto. Esse sorriso tinha seduzido muitas mulheres, mulheres essas que tinham ficado "caídas" por ele, que tanto adoravam abraçá-lo, acariciá-lo, beijá-lo... Lembrava um pouco de todas... Os anos foram passando e só restou a lembrança, bem real, da última, da única que não tivera completamente, a única a quem verdadeiramente amara, que lhe acelerava o coração sempre que via, que o fazia esquecer de tudo quando a beijava. Ela foi o seu grande amor, o seu único e verdadeiro amor. Mas era um amor quase impossível e demorou a aceitar essa realidade.
A dor fez-lhe perder a vontade de viver.
Chegou a encarar a hipótese de terminar com a vida, das mais variadas formas não escolheu uma, decidiu que seria Deus a acabar com o seu tormento, quando chegasse a hora.

Lançou um último olhar ao espelho e depois de temperar a água, entrou na box.



15/05/2013