Epitáfio do amor
Epitáfio do amor
Olhando o seu corpo naquele caixão, um nó em minha garganta impede-me de chorar. Acompanhei sua agonia em tempo real, foram anos de agonia e a morte veio lentamente, em conta gotas, um pouquinho a cada dia. Lembro-me de várias passagens onde me relatava em pensamento sua história, um homem de um só amor, que viveu apenas por ter a certeza de que um dia seria feliz com aquela que ele acreditava ser o amor de toda sua existência, é, ele dizia que essa vida era apenas uma de tantas que já tinham vivido. Me contara que a conheceu por acaso num dia de sol forte, céu azul emoldurado por um mar verde que insistia em contrapor a beleza dos olhos dela, ele instintivamente sabia que estava diante do amor eterno. Jovens amaram-se e parecia que se conheciam a muito tempo, tudo era perfeito demais, doce demais, inexplicável demais...
Veio a separação e mesmo assim ele nunca desistiu de seu amor, tocou sua vida e foi feliz como podia, viveu um dia de cada vez, a realidade o chamou e ele cumpriu seu papel, cumpriu seu destino, mas nunca esqueceu a menina dos olhos cor do mar...
Sempre repetia: “ ainda vamos nos reencontrar”
Realmente o reencontro veio e serviu para isso que agora vejo, ele deitado em um caixão de chumbo, pedido dele mesmo, para que nunca escape novamente.
Me despeço, vou sair antes dos acontecimentos finais, não suportaria ver o sepultamento, sofri ao seu lado e isso já me basta, dou uma última olhada, viro-me e saio lentamente, o nó na garganta se desfaz e me permito uma lágrima.
Deixo para trás uma parte de mim, na verdade, deixo o melhor de mim, agora é hora de seguir em frente. E não amar assim nunca mais.