Tentação ( parte LXXXI )
 
                                      ( continuação do capítulo anterior )
 
 
Silveira recebeu a visita do senhor Eugênio, ele apareceu no final da tarde e queria saber da saúde da senhora dona Ana, porque teve notícias de que ela retornara do hospital, e além disso, queria  ter um dedo de prosa com o amigo, senhor Silveira.
- Soube, senhor Silveira, que a senhora Don' Ana, retornou do hospital, e vim trazer aqui a nossa solidariedade por ela estar melhor e ter voltado para casa... Bem me havia dito o senhor, que o médico estava satisfeito com a recuperação dela, ela agora está corada e sacudida, esbanjando saúde!
- Que assim seja, senhor Eugênio, mas o que mais me conta?
- Tivemos outra das nossas reuniões, preferi não convidá-lo porque iríamos exatamente tratar das informações que o senhor nos forneceu, e meu desejo era que todos ficassem à vontade para discutir o assunto, sem ter melindres. A sua presença afetaria a nossa liberdade, como o senhor há de convir, as suas ideias não eram comungadas pelo grupo.
- Fez muito bem, senhor Eugênio, a minha presença inibiria uma discussão livre, fez muito bem mesmo!
- Então cada um expôs suas razões, com toda franqueza, alguns estavam resistentes à sua ideia, todos tinham muitos escravos e muito dinheiro em jogo... Outros aceitaram de imediato as suas ponderações.Tivemos uma intervenção muito positiva do senhor Pedro Pão Duro, que é às vezes inconveniente, irreverente, mas de burro não tem nada, ele defendeu a sua causa, mostrando o exemplo dos " ingênuos " em que foi feita a lei mas na prática tudo continuou como antes.  Então, no final, senhor Silveira, todos resolveram assumir uma posição única e levar a nossa proposta para a convenção mineira em Ouro Preto. E como nós nos posicionamos pró abolição, e quem norteou a nossa tomada de posição foi o senhor, resolvemos nomeá-lo nosso delegado.
O senhor tem razão, continuou o senhor Eugênio, a abolição não vai criar grandes modificações a curto prazo, e se é inevitável, que sejamos a favor...
- E quando é essa convenção, senhor Eugênio?
- Dentro de dez dias e eu irei com o senhor, se me permitir...
- Será ótimo!
 
Ubiratan depois de passar uma noite maravilhosa com a senhora Alzira, num sarau poético com muito gozo e prazer, estava maravilhado com a viúva e foram tomar o café da manhã.
A mesa previamente preparada na noite anterior, tinha todas as guloseimas , docinhos e bolinhos que foram comprados na melhor confeitaria do bairro.
Durante a pequena refeição, a senhora Alzira, com toda a pompa de uma dama da sociedade, lhe disse:
- Adorei a noite que tivemos, Ubiratan, você realmente é muito bom amante...
Ubiratan ficou orgulhoso pelo elogio e quando se preparava para responder, ela continuou:
- Mas meu nobre poeta, precisamos deixar esse nosso relacionamento sigiloso, devido às nossas diferenças...
- Entendo, senhora, mas eu não pretendo envergonhar a senhora...
- Pois é, por isso mesmo eu lhe proponho que os nossos encontros sejam sigilosos, senhor Ubiratan.
- A senhora não precisa se preocupar, dona Alzira, porque esse foi o nosso último encontro. Como lembrança desse dia eu lhe deixo o soneto Intimidades...
 Desse dia em diante, dona Alzira parou de participar dos saraus em que Ubiratan frequentava.
                                            ( continua no próximo capítulo )
elzio
Enviado por elzio em 14/05/2013
Reeditado em 23/05/2013
Código do texto: T4289892
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