Ser feliz acima de tudo

Já passava da meia noite quando finalmente deu o último clic no teclado de seu computador portátil. Sentia o corpo doer e os ossos estalarem em cada movimento. Estava cansada, mas não sentia desânimo, esse era um luxo que ainda não lhe era permitido.

Era jovem e bela, não havia ainda chegado à casa dos quarenta embora se sentisse com a experiência da mãe de setenta num corpo faceiro que chamava a atenção por onde passava e não denunciava as marcas do tempo e das lutas que travara ao longo da vida.

Tantos desafios. Um pai que bebia além do limite e se tornava violento quando estava sob o efeito da bebida; amigos preciosos que contribuíram muito para sua formação e para moldar a mulher forte de agora, e que partiram de repente, deixando lacunas que jamais seriam preenchidas, e dor, muita dor. Dor de saudade, dor do sentimento de impotência por se ver diante de um amigo que amava tanto e nada poderia fazer para salvar lhe a vida.

Por fim casara-se e planejara uma vida perfeita. Um lar com crianças lindas correndo pela casa. Tudo parecia ter finalmente se encaixado. Tivera uma filha. Seu maior presente. Uma menina esperta de cabelos escuros e olhos arregalados. Depois, quando sua primogênita, seu tesouro completaria dez anos, a surpresa, estava novamente grávida. Daria a luz dessa vez um menino. Agradeceu a Deus por tanta felicidade. Desde a adolescência sonhava em encontrar um marido que fosse dedicado e ter um casal de filhos. Seu sonho estava sendo realizado.

Alma de artista. Sensibilidade a flor da pele. Sentiu aflorar o talento de imortalizar momentos inesquecíveis. Considerava-se uma mulher feliz, realizada, embora pressentisse que algumas coisas mudariam em breve, proporcionando uma mudança drástica em sua vida.

Estava preparada. Já enfrentara muitas tempestades e sentia-se pronta para cada tormenta. Mas desejava em seu âmago ser feliz, como queria que seus filhos e seu companheiro também fossem.

Subiu as escadas vagarosamente. A cada degrau uma lembrança. Momentos felizes, festas maravilhosas, depois choro, momentos tristes, decepções e por fim realização.

Abriu o quarto da filha; ela dormia tranquilamente o sono dos justos. Abriu em seguida o quarto do filho, tão pequeno, tão indefeso, tão lindo. Desejava tanto que não enfrentasse tantas tormentas como a irmã.

No quarto, o marido dormia pesadamente. Deitou-se e sonhou. Sonhou com o dia em que a vida não iria lhe oferecer obstáculos e sim prazer, alegria, vitórias, sucesso. Que bom, acreditava ter direito a isso e um dia teria tudo isso. Dormiu pesadamente pensando no que desejava para o futuro.

Luciano de Assis
Enviado por Luciano de Assis em 13/05/2013
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