Tentação ( parte LXXVIII )
 
                                          ( continuação do capítulo anterior )
 
Maria Rosa amanheceu acabrunhada, teve um sonho em que via a dona Ana Luiza deitada num caixão, ornamentado com flores. Ela começou a se culpar por estar deitando com o marido dela, enquanto ela estava num leito de hospital, que estava traindo a amizade que Ana Luiza tinha devotado à ela. 
- ( Se fosse ao contrário, como eu me sentiria?),  pensou.
Afinal, Ana Luiza não era só sua patroa, era a sua confidente, e porque não dizer, amiga?
Naquela noite ela estava deitada com Silveira, um se aquecendo no outro porque a noite estava fria, assim, carne com carne. Gozou nos seus braços, sentiu seu cheiro de macho em suas entranhas...
Aquilo que estava sentindo, sem dúvida era remorso, era a dor, o grito de revolta da sua alma. 
Ela decidiu interromper os seus encontros  com Silveira, não era certo o que fazia, se por um lado a libido exigia, seu corpo pedia mais e mais, a consciência não aceitava o que estava sendo feito. 
Enquanto Ana Luiza era uma mera desconhecida, ela pouco se importava para o que estava acontecendo, mas agora a situação se configurava diferente, Ana Luiza confiava nela a ponto de lhe entregar incondicionalmente os seus filhos. Não era correto o que estava fazendo, era uma torpe traição...
Esperaria chegar à noite e falaria com Silveira, ele também deveria estar com dor na consciência.
 
Moacir estava se sentindo aliviado, sabia que dali para a frente não mais seria roubado, ele tomou aquela situação como uma lição de vida, estimaria se ela também tivesse aprendido alguma coisa. Não ficou com raiva ou ódio de Gioconda, estava sentido, porque seus planos não tinham logrado êxito, aquele envolvimento havia sido para ele a primeira vez em que havia morado com alguém e estava gostando da experiência, a vida de casado lhe trouxe uma estabilidade emocional que não tivera antes, mesmo sabendo do explosivo gênio da italiana, que sempre o deixava apreensivo.
Com ela, descobriu a sua ingenuidade, a falta de percepção de que estava sendo logrado, talvez por julgar os outros por suas próprias medidas, que nunca permitiriam que ele usasse da desonestidade para obter vantagens pessoais. Era uma questão de princípios. 
Se ela não tivesse precipitado as coisas e saído de casa, ele teria que viver momentos muito difíceis, com a desconfiança sempre permanecendo entre os dois. Será que com toda a sua tolerância ele conseguiria conviver com uma situação dessas?
Mas tudo tinha acabado, era obrigado a aceitar a nova vida, embora convivendo com a frustração porque afinal a italianinha havia tocado fundo no seu coração. Ele gostava dela, seria isso o amor?
 
Ana Luiza sentia-se melhor, disse ao seu pai que a temporada no hospital lhe fizera bem e que tinha recobrado as suas forças. Se antes estava apática, sendo levada pelas circunstâncias, agora ela queria participar, ficando angustiada por ficar presa ao leito, sem poder fazer nada, sem nenhuma atividade produtiva. 
Queria saber de seus filhos, que pelas normas hospitalares não podiam visitá-la, estava com saudades das suas coisas na Fazenda da Solidão, até da rotina que criara, de colocar água e  mel num pote para atrair os beija flores. Será que alguém se lembraria deles?
 Pelas suas contas ainda faltavam dois meses para o nascimento do neném, era muito tempo para ficar esperando, deitada ali sem fazer nada. Quando seu marido viesse ela iria lhe participar que pediria a sua alta hospitalar ao doutor Darci, e que ele preparasse uma charrete para que ela retornasse para casa. 
Seu pai, sabendo da teimosia da sua filha, argumentou:
- Ana, se você acha melhor sair, que fale com o médico e saia, minha querida, mas não vá para a Solidão, volte lá para casa, é mais perto daqui, o doutor está pertinho, pode lhe dar assistência...
- Não, senhor meu pai, minhas responsabilidades me chamam, eu estou bem, afinal não foi o doutor Darci mesmo quem disse que gravidez não é doença? 
                                                                                  ( continua no próximo capítulo )
elzio
Enviado por elzio em 11/05/2013
Reeditado em 23/05/2013
Código do texto: T4284943
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