Outra estória de nós um... (Ou parte II)
Após a desfeita de um namoro unilateral, posto que fora assim por ele sentido, um novo olhar para o mundo. Um mundo, embora tão conhecido, que agora lhe parecia diferente. Uma sensação demente, de quem caminhava sem rumo. Como estivesse em uma viagem na qual não se conhece o fim do caminho. Por isso mesmo, o tempo não lhe parecia passar, nem mesmo existia, era um vão de vida.
A vida, aqui se entenda Deus, lhe reservava outras aventuras amorosas? Desventura? Não pensava ele em nada, apenas passava tal qual o dia em que estava, o qual ele nem sabia a data. Calendário, para que?
Poucos meses depois, um amigo lhe convidou para ir a uma festa de aniversário de 18 anos de uma conhecida. Ele pensou... Pensou. Indagou ao amigo: “Tem alguém interessante lá, para se conversar?”. O amigo olhou-o de lado e disparou: “Conversar? É uma festa e não reunião de negócios, cara”. Constrangido por não poder e ou não querer dizer o que lhe aconteceu com o término do namoro, deixou o amigo sem resposta. À noite, se arrumou para festa, de forma modesta, de maneira que não chamasse a atenção. Tomaria algumas cervejas e observaria os amigos fazendo algo que ele há muito tempo não fazia, se divertir.
Ao chegar à casa da tal amiga foi recepcionado pela irmã da aniversariante. “Oi, como vai? Nunca mais tinha te visto”. Ele, de cabeça baixa, tão baixa quanto a sua estima, retrucou: “Estava trabalhando e viajando muito”. Viajava, sim, em sonhos, em estradas de pranto, rios de lágrimas, que apenas paravam ao dormir. E que mesmo assim, os pesadelos, bem como os sonhos, não lhe davam o descanso e ou alegria que o espírito buscava.
A menina sentiu aquela tristeza. Segurou suas mãos e pediu para dançar. Ele até ficou animado e aceitou na hora. Em meio à dança, os gestos da menina lhe lembraram dos abraços da ida namorada, que o fez se perder no pequeno espaço entre a realidade e os sonhos, abraçando com carinho aquele corpo da paixão ausente, igual a quem sente o calor amado, com os olhos fechados, viajando, ao ritmo da canção (que nem mesmo ouvia). Ele apenas queria que aquele momento não terminasse.
Nesse frenesi singelo, exagerou nos seus próprios gestos, quase beijando o seu par. A menina se afastou de modo educado, lhe segurou os braços, lhe perguntando o que estava fazendo. Sem coragem de olhar nos olhos dela, pediu desculpas e saiu em passos largos. Com as mãos tremendo, acendeu um cigarro. Respirou fundo e, do fundo da alma e da mente lhe veio o rosto da amada, acompanho das lágrimas, ele em delírio, dizendo: “Não podia ter feito isso comigo. Logo eu que te amava”. Falava ao vento. Quem passava por ele olhava-o, julgando-o louco, sem saber de seus demônios.
Lá estava ele sozinho, sentindo ao seu lado aquela que ele não esquecia. A pessoa que lhe fazia perder todo o contato com o mundo, transportando-o ao paralelo zero, do âmago de um ser sofrido. Ele sabia que teria que vê-la novamente, saber o que lhe fez ter aquele triste destino. Mas, ao mesmo tempo, sabia, por dentro, que nada faria sentido, a não ser a difícil tarefa de esquecer. Matar algo que lhe era a própria existência.
Com o passar dos anos, aquele sentimento insano se transformou, para ele, em algo mais plausível. Já era raiva, algo que lhe alimentava e o deixava mais vivo, e frio. A partir daí, nasceria um homem que não acreditaria mais na palavra amor... (continua).