Tentação ( parte LXXV )
 
                                            ( continuação do capítulo anterior )
 
 
- Os remédios estão fazendo efeito, senhor Adalberto, a pressão de don'Ana  está bem mais baixa, isso é muito bom, estamos conseguindo...
- Mas doutor, ela dorme quase o tempo todo, quando a gente vem visitá-la não se pode conversar com ela, está sempre cochilando...
- Sinal, senhor Adalberto, que a pressão dela está baixa, está sob controle, é preferível que sua pressão esteja mais baixa, embora ela fique sonolenta, do que agitada. Como ela está, seus órgãos vitais estão protegidos, o coração, os rins, tudo estão funcionando bem, o senhor não se preocupe. As orações de dona Augusta estão fazendo efeito... Agora é tempo de esperar para que o bebê nasça forte e sadio.
- Obrigado, doutor, o senhor nos tranquilizou, aparteou dona Augusta.
Silveira chegou a tempo de encontrar o médico, que voltou a lhe falar da evolução do tratamento e da sua esperança de um final feliz.
Enquanto ela dormia, Silveira ficou a conversar com o senhor Adalberto sobre a sua viagem ao Rio, contando-lhe a passagem da noite difícil em que pernoitaram no curral fedorento da casa do homem demente,  e depois do encontro que teve com  Martins, durante o retorno.
- Muito bem fez o senhor, em loucos não deve se confiar!
 
Jurandir aproveitou a tarde ensolarada de domingo e foi à fazenda vizinha do senhor Eugênio para visitar a sua noiva.
Ficou a tomar refresco de manga, sentado junto à grande mesa, esperando pelos bolinhos  de chuva que Sinhá Moça preparava, e conversava com o futuro sogro. Falava da instalação do carneiro hidráulico na Fazenda da Solidão, de como a chegada da água na cozinha e nos banheiros modificou a vida de todos, e da ideia do senhor Silveira em estender a água corrente para a senzala. Depois falou com entusiasmo sobre a instalação do moinho, com a grande roda d'água movimentando  a pedra girante que amassava os grãos, enquanto o fubá se acumulava na periferia da mó. 
De repente apareceu Rômulo, que passou em frente a eles e encarou Jurandir de modo acintoso, destilando todo o ódio por seus poros e deixando pelo caminho a promessa de desforra.
Jurandir perguntou para o futuro sogro:
- O que antes eu tinha feito a esse rapaz para ser agredido e ficar como alvo de tanto ódio?
- Esse é o fruto do despeito, da inveja que ele nutre pelo senhor, os invejosos sempre existiram, sempre vão existir...
- Mas também não se pode esquecer que a cachaça ativa tudo o que de ruim tem nas pessoas...
 
Moacir voltou da Fazenda Paraíso onde instalou dois carneiros hidráulicos, enquanto orientava a instalação da tubulação que levaria a água para as caixas. Um carneiro hidráulico levava a água para a Casa Grande e o outro, para o curral.
Vendeu para eles um arado, pás, enxadas e arame farpado, tinha sido um dia proveitoso e voltou com a bolsa recheada de dinheiro que tinha que entregar na Importadora. Antes passou pela Rua Mata Cavalos, onde morava, e foi tomar um banho. Na sua bolsa, estava o dinheiro todo contado, que foi marcado com uma pintinha vermelha no canto inferior, e numa outra repartição da bolsa de couro, estava o controle do recebimento com a soma do total. Ele mesmo aqueceu a sua água e colocou na tina que continha a água fria, enquanto Gioconda continuava encostada no travesseiro. 
- Você não vai preparar um café pra nós, ragatza?
-  Depois, quando você for se banhar.
- Mas já vou me banhar, pode preparar o café.
- Hoje você está muito apressado, porque?
- Porque depois eu tenho que levar o cavalo lá para a Importadora e quero fazer isso enquanto o dia estiver claro.
- Está bem...
Ela se levantou, ele puxou a cortina e foi tomar seu banho.
Quando terminou, buscou sua bolsa e fez a recontagem, estava faltando dinheiro...  
                                                                              ( continua no próximo capítulo )
elzio
Enviado por elzio em 08/05/2013
Reeditado em 23/05/2013
Código do texto: T4279776
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