Tentação ( parte LXXIII )
( continuação do capítulo anterior )
- Você é muito metido, quer sempre me corrigir, se digo penico você diz que é urinol... Na minha terra não existe urinol, é só penico...
- Penico vem de pênis, urinol vem de urina, é mais elegante se dizer urinol.
- Ora, Moacir, eu estou lhe incomodando em falar penico? Você me incomoda em dizer urinol...
- Deixa pra lá essa pendenga, vem aqui minha bella ragatza...
Ela se encostou no seu ombro e lhe perguntou:
- O que é pendenga ?
- Pendenga é uma disputa que se arrasta e demora para ser resolvida...
- Moacir, a gente poderia ir morar no Flamengo, esse cortiço para onde você me trouxe só tem gentinha, quando se mistura com esse pessoal, as coisas acabam não dando certo...
Moacir não respondeu à Gioconda, essa era a décima vez que ela lhe dizia da sua insatisfação em morar naquela casa, e Moacir achava que não é o lugar que faz a gente, mas pelo contrário, somos nós que fazemos os lugares ficarem melhores ou piores.
Moacir alegou que teria que se apressar porque Ubiratan queria conversar com ele antes que fosse para a Fazenda Paraíso instalar carneiros hidráulicos.
Sinhá Moça achava melhor don'Ana ter o bebê para depois marcarem o casamento, enquanto isso iria preparando o enxoval, para que quando fossem para a casa nova estivessem com tudo pronto.
Ela e Jurandir foram pessoalmente fazer o convite ao feitor e ao capitão do mato para comparecerem à festa do casamento deles, tanto um como o outro ficaram lisonjeados e prometeram comparecer, não era usual convidar estranhos aos casamentos dos escravos, por ser uma festa restrita à família.
Sinhá Moça agora já passeava de mãos dadas com Jurandir, o que era comum só entre os casados, isso ensejava a feitura de comentários jocosos e causava mais inveja aos pretendentes enjeitados por Sinhá Moça.
- Repara só, Jurandir, como essa gente olha para nós, só por estarmos andando de mãos dadas...
- É a inveja, Sinhá, seu Tonico me avisou...
- Lá vem você de novo falando nas sandices do velho maluco!
Silveira resolveu retornar para a Fazenda da Solidão e trazer de volta também Maria Rosa e as crianças.
A casa ficava muito vazia sem as peraltices dos pequenos e com a ausência de Maria Rosa.
Ele havia combinado com Ana Luiza que de dois em dois dias voltaria para visitá-la, que ela ficasse esperando por ele, achava que a expectativa pela sua ida iria lhe ocupar a mente e ela não criaria pensamentos negativos.
No retorno para a Fazenda da Solidão, ele saiu de madrugada, as crianças ainda dormiam e foram postas sobre um colchonete no chão da charrete, e Maria Rosa veio ao seu lado. Agasalharam as crianças porque embora estivessem no verão, corria um ventinho frio.
Silveira perguntou à Maria Rosa qual foi a promessa que Ana Luiza exigiu que ela jurasse fazer, e ela lhe respondeu:
- Patrãozinho, nunca me senti tão constrangida como naquela vez, a patroa falava como se já fosse morrer, e eu prometi que tomaria conta das crianças. Não gosto nem de pensar em como foi, me dá vontade de chorar...
- É melhor esquecermos isso nem fazer comentários, porque ontem eu também chorei muito... É deveras triste, mas vai ficar tudo bem, a dona Augusta está rezando uma novena para ela, ela vai melhorar, se Deus quiser...
( continua no próximo capítulo )