No jardim celeste (Parte 1)

Acordei do mesmo lado da cama. Mas era um lugar novo, onde nada eu reconhecia. Estranho era ver que não havia dormido sozinho. Onde estava minha cama de solteiro? No lugar da mesma havia uma cama de casal com os lençóis todos revirados dando sinal de que alguém havia se levantado dali pouco tempo antes. Comecei a explorar a casa para tentar entender onde estava. Era uma casa do jeito que eu sempre sonhei: o quarto onde houvera passado a noite era muito bonito. A janela deixava entrar uma luz que iluminava todo o quarto, o vento que vinha era tão leve como o sopro carinhoso de DEUS.

Havia algumas fotos penduradas em porta-retratos nas paredes. Quando me aproximava para ver de quem eram ouvi um barulho vindo de um outro cômodo. Queria descobrir onde estava, mas precisava também descobrir com quem estava. Comecei, então, a ouvir barulho de passos. Eram passos tão leves que eu nem podia ter medo. Foi então que vi um pequeno rostinho de uma linda menina correndo em minha direção e me dando um abraço bem forte dizendo "Bom dia, papai!". "Papai?", pensei eu. Como pudera eu ser pai se noite passada havia dormido banhado em lágrimas resultado de um amor perdido. Mas, para falar a verdade, toda a dor que havia sentido estava saindo, pouco a pouco, ao ver aquele lindo rostinho me chamando de "papai". Era como se eu abraçasse a pessoa mais linda do mundo e com o coração mais puro. Mas algo ali estava estranho: Eu era pai?

Não havia saído do quarto ainda, peguei, então, aquela linda menininha em meus braços e fui seguindo pelo corredor da casa. Havia alguns pôsteres e fotos emolduradas nas paredes do corredor. Havia um diploma, mas não consegui ler porque a menininha dissera que estava com fome.

Olhando aquele lindo rostinho, não havia como não ficar encantado por ela. Dali saía um sorriso sincero, um sorriso onde me trazia coisas boas. Mas era mesmo minha filha? Os olhos lembravam muito os meus!

Chegando na cozinha percebi que a casa era do jeito que eu imaginava: cheia de arte e alegria. Percebi um quarto com a porta fechada durante o trajeto e decidi que assim que a menininha comesse eu voltaria para vê-lo. O que mais gostei na cozinha era o fato de ter pouco espaço, mas muito bem utilizado. A mesa era pequena, apenas para quatro pessoas, mas era uma mesa onde você se sentia bem sentado, algo bem família mesmo.

Eu estava com fome também, só que algo em mim não me deixava em paz: onde eu estava? Fui até aquele quarto onde a porta se encontrava fechada. Ao abri-lo, uma surpresa: vários cd's espalhados em estantes, todos visíveis e de vários artistas. Era uma coleção de discos, pôsteres, fotos emolduradas! Era algo que sempre sonhara ter em minha casa. Como? Onde eu estava? Era a minha casa?

Ouço um barulho de chave mexendo na porta da frente. Fui correndo até a cozinha, não podia deixar a menininha sozinha, não sabia quem estava entrando. De repente uma mulher com um lindo sorriso olha em meus olhos e diz: "Oi amor, bom dia!". Amor? Bom dia? Como assim? Quem era ela? Na verdade até gostei de vê-la me chamando de amor. Seu sorriso me transmitia muita paz, muita alegria ao me ver. Ela logo deu um abraço na menininha e me deu um beijo. Dissera que fora comprar algo para comermos no "café da manhã". Eu realmente estava perdido.

Como perguntar quem era ela sem que a ferisse? Como saberia onde estava? Fui tentando agir com naturalidade mesmo sem ter noção de como ser natural em tal situação. Senti que me olhava estranhando algo. Ela, então, decidiu me perguntar se havia algo de errado comigo. Parecia me conhecer bem, pois tentei não transparecer nada. Disse a ela que eu estava perdido. Ela, então, olhou fixamente em meus olhos e disse: "Amor, eu te amo! Nós nos casamos e temos uma filha linda! Acredita em mim!". Como não acreditar nela? Mesmo não a conhecendo bem, sentia uma paz estando em seus braços. Ela reagiu como se eu já houvesse estranhado onde estava outras vezes. Decidi perguntar se aquilo já havia acontecido. Lágrimas começaram a surgir em seus olhos, foram ficando vermelhos e ela, com um semblante triste, olhou e me disse: "Você sofreu um acidente anos atrás que mexeu com seu cérebro. Alguns dias você acorda e não sabe onde está, diz que na noite anterior estava na casa de seus pais e que acordara ao meu lado de repente. Você tem tomado alguns remédios desde então e sua mente está voltando aos poucos ao normal, mas, de vez em quando, acontece novamente como hoje". Senti sinceridade em suas palavras. Ela pediu para que eu levantasse minha camiseta. Mostrou-me as marcas geradas pelo acidente. Eu realmente não lembrava, mas era muito claro que era verdade. Na hora pensei em questionar do acidente, mas preferi curtir a manhã com aquelas lindas mulheres que diziam me amar.

Fui aproveitando a manhã, conversando com aquela linda mulher, brincando com aquela linda menininha. Ela parecia me amar! A mulher me olhava com muita admiração, eu ficava até sem graça em fixar os meus olhos nela. Era muito linda, tudo que sempre sonhara para mim. Era bem sucedida em seu emprego, amava o que fazia! Gostava de música, assim como eu, e até tentava cantar um pouco quando eu pegava o violão. Pelo menos era o que eu estava entendendo segundo suas palavras porque eu mesmo não me lembrava de nada. Fui atrás do meu violão. Encontrei-o em um canto daquele que deveria ser o meu quarto. Fomos até a sala e começamos a cantar. Era uma sintonia perfeita: ela pedia a música e dizia que ficava ótima em nossas vozes juntas. E não é que realmente ficavam? Aquela linda criança parecia gostar de música também! Ela estava brincando com alguns brinquedos que pegara em seu quarto e espalhara pelo tapete, mas toda vez que entrava em um refrão que ela conhecia, ela virava seu rosto para nós e cantava junto. Era lindo!

Pedi desculpas àquela mulher por não me lembrar dela e nem da vida que eu estava levando, mas dizia que era melhor do que eu sonhava em ter. Ela me disse no que eu trabalhava e qual era a minha relação com a música. Parecia que eu era bem sucedido em minha carreira e cantava de vez em quando em alguns eventos e festas de casamento, tudo pelo prazer de fazer algo que amava. Senti, naquele momento, que eu era feliz. Senti que toda a dor que havia entrado em meu coração estava desaparecendo ao olhar aqueles lindos sorrisos virados para mim.

A mulher que se dizia minha esposa dissera que tínhamos compromisso mais tarde: iríamos ensaiar o louvor do culto de domingo. Não acreditei! Minha mulher amava a DEUS como eu também e ainda participava da igreja comigo. Era felicidade de mais para mim. Realmente não sabia se deveria acreditar em tudo o que estava vivendo. Eu queria acreditar, queria mesmo, mas realmente parecia um sonho...

Helton Grunge
Enviado por Helton Grunge em 06/05/2013
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