Tentação ( parte LXXII )
 
                                      ( continuação do capítulo anterior )
 
Silveira estava a caminho da Fazenda das Pedras, na estrada esburacada a charrete custava a ultrapassar os obstáculos, eram sulcos deixados pelos carros de bois que formaram valas no barro endurecido pelo sol implacável ou parte da terra e  areia que a chuva impiedosa da semana anterior carregara.
Quando ele chegou, foi recebido pelas crianças e por Maria Rosa, e soube que Ana Luiza estava hospitalizada. Almoçou, se despediu e partiu para o lugarejo onde o doutor Darci era  médico e o diretor do hospital. 
Por sorte chegou no horário das visitas e conseguiu vê-la, admirando-se ao encontrá-la tão inchada, parecendo estar até com o rosto deformado. Em sua companhia estavam dona Augusta e o senhor Adalberto, que tentavam aparentar estar tranquilos, mas notava-se a tensão no olhar de ambos. 
- Minha querida, fui lhe procurar em casa, me disseram estar aqui, don'Ana, você está sendo bem tratada? Estão lhe dando os remédios nas horas certas?
- Estava é com muita saudade do senhor, meu marido... Resolveu tudo, lá no Rio?
- Resolvi, minha senhora. Mas estava cheio de saudades da senhora e dos nossos filhos, que cada dia estão mais bonitos...
- Maria Rosa está tratando bem deles?
- Ela é muito dedicada, tivemos sorte de encontrarmos essa moça...
O senhor Adalberto percebendo o momento de carinho entre os dois, levantou-se e piscou o olho para dona Augusta para acompanhá-lo, era a hora deles ficarem a sós...
- Que barriga grande, don'Ana, acho que vai ser um rapazinho levado que vem por aí... E acariciou a barriga dela, carinhosamente, perguntando:
- Tem feito muita estripulia, pulado muito, meu garoto?
- Quando acordo, ela se movimenta muito, meu marido.
- Ela?
- Ela ou ele, não sei, mas estou preferindo chamar por ela.
Ela olhou tristemente para Silveira e lhe disse:
- Vou lhe confessar, essa gravidez está me amedrontando, meu marido...
Segurou fortemente nas mãos de Silveira como se quisesse  não deixá-lo escapar, e continuou:  
- Estou com medo do que vai me acontecer e fico muito preocupada com Manoel e Antônio João.
Ele quis interrompê-la mas ela não permitiu:
- Eu fiz Maria Rosa me prometer, de que, se algo de ruim acontecesse comigo, ela não deixaria de tratar deles, agora quero que você me prometa também.
Silveira ficou impassível, participando de uma cena em que não conseguia dizer nada, como se fosse num pesadelo em que só podia ouvir e permanecer calado.
- O que, don'Ana?
- Que não vai deixar os dois nas mãos de uma mulher qualquer... Deixem que eles continuem com Maria Rosa, e que ela cuide do senhor também.
- Não queira adivinhar o futuro, minha mulher,  o futuro a Deus pertence...
- Mas me prometa, por favor, deixe-me tranquila, quero ficar em paz...
- Tudo bem, eu prometo que eles serão sempre bem tratados.
- Não tira eles dois da Maria Rosa, promete?
- Prometo.
As mãos de Ana Luiza apertaram as mãos de Silveira, como se aquele fosse um momento solene em que estivesse sendo consolidado um compromisso assumido, enquanto os olhos de Silveira se enchiam de lágrimas.
- Eu proíbo a senhora de ter esses pensamentos negativos, está certo?
- Está bem, eu vou cumpriu a sua proibição e sorriu com tristeza nos olhos.
Logo em seguida a enfermeira o convidou a sair e ele se despediu de Ana Luiza, ainda sob o impacto de forte emoção.
 
- Senhor Ubiratan, o que está havendo com o senhor?
- Nada, Jerônimo, um simples mal estar, depois há de passar.
Por duas vezes seguidas as contas de Moacir não estavam corretas, eram pequenas diferenças de valores, mas nunca havia acontecido isso anteriormente. Ubiratan sabia que deveria lhe falar, mas estava preocupado, porque Moacir, mesmo por ser muito correto, não admitia ser contestado em relação à honestidade, e por ter pavio curto, poderia, em vez de resolver o problema, complicar a solução. 
Na primeira vez houve uma pequena diferença de menos que cinco por cento, e Moacir imaginou que Moacir pudesse ter pago hospedagens ou alimentação e perdido a nota, fez então um lançamento em perdas e danos e considerou o caso como encerrado, mas o fato se repetiu com um valor um pouco maior, ele não poderia lançar novamente como perdas porque ficaria a descoberto e comprometeria o seu trabalho... Dessa vez Ubiratan não poderia deixar passar  em branco, teria que falar com ele, mas de forma a não melindrá-lo. 
Ubiratan tinha observado diferença no comportamento de Moacir desde quando ele tinha se juntado com Gioconda, mas não seria prudente relacionar um fato ao outro porque notava-se facilmente que Moacir estava apaixonado pela italianinha... 
O que fazer?      
                                                                      ( continua no próximo capítulo )
elzio
Enviado por elzio em 05/05/2013
Reeditado em 23/05/2013
Código do texto: T4274739
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