As rosas não falam
Era meado de dezembro. O sol verânico já invadia os lares e tomava as ruas, escaldante, mas capaz de trazer a esperança aos pobres corações apaixonados como o de Agenor. Esse era um verão que suscedia outros muitos verões de sua não tão recente juventude. Verão sempre fora época de amar.
No verão de alguns anos antes, a flecha do Cupido finalmente tocara Agenor enquanto andava pelas areias da praia do Flamengo. Pois, irreverente e desprendido que era, não possuía o costume de prender os olhos em uma mulher a ponto de querê-la para a vida toda. Mas, assim que pusera os olhos na morena que vinha caminhando pela praia, tivera a certeza de estar, enfim, apaixonado. Conseguira acompanhá-la até vê-la extender uma canga para deitar-se na areia e então perguntara o nome da jovem que o encantara. Euzébia não estava comprometida, era universitária e bela. Agenor, então, convidara a moça para ir ao Theatro Municipal para verem a apresentação de balé que ocorreria naquele domingo, à noite.
Euzébia e Agenor andaram juntos, de mãos dadas, saindo do Theatro. Ela trajava um vestido vermelho e exalava um cheiro doce como o de flores, que fazia Agenor sentir-se embriagado de amor. Eles continuaram a se encontrar constantemente por mais dois meses, quando, por acaso, os pais de Euzébia mudaram-se da casa onde Agenor a buscava todas as noites de domingo e a encontrava no portão em algumas noites, durante a semana. Agenor não acreditara quando perdera contato com a moça para quem jurara amor vitalício.
E desde a noite em que perdera contato com a moça, periodicamente, Agenor visitava a localidade onde passaram todas as vezes em que caminharam juntos. Agenor sentava-se no banco conhecido pelos dois, localizado em frente a um canteiro de rosas na certeza que devia chorar, por saber que Euzébia poderia nunca mais voltar, e perguntava às flores se um dia a dor que guardava em seu peito seria extirpada pela volta de sua amada. Mas os dias se passavam e Euzébia não aparecia.
Até aquela tarde de meado de dezembro, passados três anos do primeiro encontro com Euzébia, Agenor estava sentado no mesmo banco onde dera o primeiro beijo na moça, olhando as rosas do jardim e pensando em seu futuro, iludido pelo tempo. E então, lembrando-se de sua amada, percebeu que perguntar sobre ela para as rosas era patético, pois as rosas jamais responderiam o que perguntava. As rosas não falam e nunca falaram. Elas simplesmente exalavam o cheiro que roubaram de Eusébia durante as noites românticas que passaram ali.
Agenor estava esperançoso pelo fato de o verão ter chegado e queria, ao menos, que Euzébia pudesse conhecer seus sonhos alucinados e devolvesse aos seus olhos tristonhos o brilho juvenil que possuíam na época do ápice do amor. Mas ele ia para casa com menos esperanças a cada dia que esperava, desolado, por ela. Mas sua vontade era que seu coração continuasse sempre a bater com a esperança de que seu amor jamais se tornasse uma mera bobagem como sua conversa com as rosas.