Tentação ( parte LXXI )
 
                                      ( continuação do capítulo anterior )
 
Moacir chegou cansado em casa, havia feito instalações de carneiros hidráulicos na região de Magé, tendo vendido uma grande quantidade de rolos de arame que teriam que serem entregues na semana seguinte,  e deixou sua roupa em cima da cama enquanto tomava banho. 
- Moacir, com esse dinheiro que você recebeu poderemos morar na Praia do Flamengo...
- Você tem bom gosto, Gioconda, mas esse dinheiro não é meu, é da Importadora, tenho de fazer conta de cada centavo desse dinheiro...
- Não tem sentido com esse dinheiro todo aí, e você só ter dois ternos... E o pior, iguaizinhos, da  mesma cor, do mesmo padrão, parece que você só tem um, e surrado! 
- Mas é o que eu tenho, Gioconda...
- Com todo esse dinheiro e a gente vivendo nesse cortiço, aturando esse pessoal desclassificado... Hoje não aturei, empurrei uma dona para dentro do tanque... Elas não saíam de frente da bica, e eu a esperar toda vida enquanto fofocavam, diziam o que tinham feito na noite anterior... Isso aqui é um antro de baixaria, porca miséria!
- Tem alguma coisa para se comer? Moacir trocou de assunto para sair de perto do muro de lamentações.
- Estava faltando querosene eu  não fiz nada...
- Mas não tem carvão?
- Cozinhar com carvão faz muita fumaça, tem pão e manteiga, quer que  faça um café?
Moacir não estava satisfeito, esperava que Gioconda fosse mais responsável, via nela uma mulher adulta com cabeça de adolescente, e sempre insatisfeita com o que tinha. Mas pelo menos era boa de cama, ela compensava no sexo todas as suas insatisfações, frustrações e aborrecimentos do dia. E o bom sexo, para ele era sinônimo de felicidade.
 
Jurandir estava na sua Ilha da fantasia esperando pela Sinhá Moça e pensava:
- Sinhá tem aquela formação rígida, por isso mesmo se priva daqueles pequenos prazeres, dos quais também fico privado...Agora ela quer que percamos a virgindade no dia do casamento e não adianta argumentar com ela, quando não quer é ponto final. Já me conformei, sei até onde posso ir, além daquele limite ela se afasta e me manda ir sentar na minha pedra... Para que ter pressa, diz ela, se depois teremos todo o tempo da vida para nos dedicar um ao outro... Sobre certo aspecto ela tem razão, assim nós mantemos acesa a chama, cada vez mais e que nos une, isso deve ser tesão ou será o amor?
Enquanto Jurandir pensava e fazia planos, um galho seco quebrado fez um barulho anunciando que Sinhá Moça chegava.
- Vem cá minha negrinha,  estou cheio de saudades...
- Sabe porque me atrasei? Porque encontrei aquele velho chato que me falou de vingança, espíritos malignos, perseguições, pensando que ia me assustar... Mas ele sabe que sou diferente de você, eu não fico arrepiada ao ouvir essas besteiras... E ele sabe disso, me mandou lhe dar um recado, lhe disse para convidar para a festa, o feitor e o capitão do mato. Não sei porque, mas não custa, não é?
- Então você convida eles, Sinhá, carne é que não há de faltar!
Esquece o velho, o feitor e o capitão e vem aqui, me dê um beijo e esqueça tudo isso...
 
 
Abraçou-se nela, envolveu-a de beijos e carinhos, mas quando estava no auge da excitação, ela ordenou:
- Pra sua pedra, neguinho safado!
 
Silveira só chegou na fazenda de madrugada, a cachorrada fez um coro de latidos enquanto ele se dirigia ao curral onde ia desarrear o animal e liberá-lo por estar cansado da extenuante viagem. 
Ubirajara se levantou e veio saber o que se passava.
- Oi, patrão, chegou tarde dessa vez...
- Estava ansioso para chegar. Tem notícias da Fazenda das Pedras?
- Não, essa semana não deu para sair, nem ninguém de lá veio aqui.
E aqui, tudo em ordem?
- Tudo bem, a Formosa pariu uma bezerrinha linda, tá separada ali, e apontou para o outro lado do curral.
- Ótimo! Então vou dormir, para amanhã cedo ir à Fazenda das Pedras... Boa noite, Ubirajara!
- Boa noite, patrão!
                                                                               ( continua no próximo capítulo )
elzio
Enviado por elzio em 04/05/2013
Reeditado em 23/05/2013
Código do texto: T4273276
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