Tentação ( parte LXVIII )
( continuação do capítulo anterior )
Rômulo saboreava o gostinho final do gole que acabara de tragar. Aquela última gota parecia ter concentrado o sabor da cana caiana, era ali que estava guardado o segredo da boa cachaça, que induzia a pedir um outro trago, era chamada a gota dos insatisfeitos...
E o sabor daquela última gota tinha o mesmo sabor que ele sentia da vingança, que saboreava gota a gota, em cada pensamento do seu projeto. A inconsequência da bebida,em beber, beber e beber, e não pensar no que pudesse acontecer, deixando para o acaso conduzir os fatos, era onde guardava nela um sabor sem igual...
Conforme ele bebia, seus pensamentos voavam, saíam do chão, tomavam corpo e se transformavam numa realidade etérea, condensados pelo álcool.
E se também já não tinha chão, os seus pés volitavam com seus pensamentos, embriagado pelas suas próprias palavras desconexas, que marcavam o ritmo para as suas elucubrações, assim Rômulo cambaleava e dizia:
- Sim, preciso afastar aqueles dois do meu caminho, é o primeiro passo... depois eu me desforro do negrinho!
Seu pensamento voava, enquanto cambaleava e se escorava no tronco da mangueira, ali mesmo onde o ponta pé certeiro do Jurandir o deixara desmaiado e a proximidade daquele lugar, fermentava sua mente com o desejo de vingança, e ele saboreava o seu gosto, semelhante ao prazer da cachaça...
Seu pensamento voava, enquanto cambaleava e se escorava no tronco da mangueira, ali mesmo onde o ponta pé certeiro do Jurandir o deixara desmaiado e a proximidade daquele lugar, fermentava sua mente com o desejo de vingança, e ele saboreava o seu gosto, semelhante ao prazer da cachaça...
- Doce vingança, você é a minha cachaça! Eu quero me embriagar com você...
Silveira estava aliviado com o que vira na Importadora Vitória, sentia-se mesmo entusiasmado com os resultados obtidos, as vendas do arame farpado, que ele nem mesmo sabia o que era, foram surpreendentes, vender novidades era um bom caminho, primeiro foi o carneiro hidráulico, que foi a redenção da firma, e agora o arame farpado que a cada dia conquistava mais mercado. O cercado de arame farpado era capaz de conter todas as criações, até mesmo cabritos não passavam por ele.
Sabia que ali estava a sua fonte de renda, alicerçada pelas vendas em sua franca ascensão, e pela alta lucratividade dos produtos. Foi por ai que ele traçou a sua estratégia, conquistar os clientes que eram atraídos por alguns produtos que eram vendidos quase a preço de custo, as foices, as enxadas e esporas, mas que levavam os clientes a comprar os carneiros hidráulicos, o arame farpado e os moirões de madeira para afixar o arame, que lhes deixavam altos lucros.
Embora soubesse que ali estava a fonte da sua riqueza, o seu filão de ouro, mas o que o atraía mesmo, era a fazenda, a vida livre de convenções, a proximidade com a natureza, com seus cavalos, com o pomar, o banho de rio e os seus amores, sua mulher, seus filhos e Maria Rosa...
Por tudo isso ele queria resolver rapidamente tudo o que precisasse na firma, e voltar logo para casa. Algo lhe dizia que não estava no lugar certo, que deveria voltar...
Moacir provou de uma noite de reis, massagens, carinhos, beijos, promessas, gozo e prazer. O que mais lhe faltava? Levar a sua Gioconda consigo, mas para isso, teria que acertar com ela para que levasse sua mala para a estrada e esperasse por ele, não poderiam ser vistos saindo juntos, porque a família dela iria impedir a fuga, frustrando os seus planos.
A única pessoa que sabia que Gioconda tinha estado com ele, era a sua irmã Bianca. Como ela gostava muito de uma gorjeta, quando ela fosse servir o seu café da manhã, lhe daria um cala boca e ninguém mais do que ela saberia da sua participação na fuga de Gioconda.
Por sua vez, Gioconda tendo brigado com os pais e ido para a casa do tio, criaria o cenário propício para a sua fuga. Saiu da sua casa, apareceu na casa do tio, demonstrou sua insatisfação, disse que voltaria para casa e depois desapareceu.
Assim foi feito e tudo correu como o planejado, Moacir estava com a sua mulher, tão branca como porcelana, ao seu lado, na charrete rumo ao Rio de Janeiro.
( continua no próximo capítulo )