Tentação ( parte LXVII )
( continuação do capítulo anterior )
- Don'Ana, a senhora engordou muito esses dias, reparou Maria Rosa. Parece que a senhora está inchada... A senhora tem urinado bem, don'Ana?
- Não estou sentindo nada, só meus pés estão frios, você pode me calçar meias, Maria Rosa?
Maria Rosa calçou as meias em Ana Luiza e em seguida saiu dizendo ir ver as crianças, mas foi falar com a com a dona Augusta, que achava que Ana Luiza estava diferente.
- Dona Augusta, vai ver a dona Ana Luiza, porque achei que ela está muito inchada, é melhor chamar o doutor...
A mãe chega ao quarto exatamente no momento em que Ana Luiza começou a tremer de frio.
- O que está sentindo, minha filha?
- Muito frio, minha mãe...
Dona Augusta rapidamente colocou o cobertor sobre ela e chamou o senhor Augusto:
- Vá buscar o doutor Darci, Adalberto, ela não está passando bem.
- Mamãe, chame a Maria Rosa, quero falar com ela.
Dona Augusta foi atrás de Maria Rosa que estava com as crianças.
- Maria Rosa a don'Ana quer falar com você, deixa as crianças comigo.
Maria Rosa chegou num átimo, o que a don'Ana queria de tão urgente?
- Maria Rosa, eu não estou bem, essa minha gravidez está muito diferente das outras, esse bebê parece não querer vir, o que ele quer é me levar junto com ele...
- Para de pensar besteira, patroazinha, daqui há pouco ele há de sair e acabam-se todos os problemas...
- Não, Maria Rosa, estou com medo do que vai me acontecer e queria que você me prometesse...
- O que, don'Ana, diga...
- Que você vai cuidar do Manoel e do Antonio João...
- Eu cuido deles, eu adoro os seus filhos, não se preocupe, mas tira essas ideias da cabeça, isso não lhe faz bem...
O doutor Darci demorou mais de duas horas para chegar, e dona Augusta lhe disse:
- Ela está dormindo, doutor.
Ele foi medir sua pressão, estava altíssima, quando foi lhe dar um remédio, ela não engolia, o médico estava visivelmente nervoso, retirou todas as pessoas do quarto, colocou vários travesseiros para levantar a cabeça de Ana Luiza e voltou a tentar a lhe dar os remédios. Colocou os comprimidos em sua boca, deu-lhe um gole de água e tampou as suas narinas. Ela se agitou, engoliu os comprimidos e só então ele abriu a porta e disse para dona Augusta:
- Vamos ter de levá-la para o hospital, senhora...
Moacir chegou à Curva da Ferradura quando já era de tardinha. Procurou os italianos e pediu um quarto para dormir. Ele estava vestido de terno e colete, não aparentava ser um escravo.
Deu uns trocados para um rapaz para que ele cuidasse do seu cavalo, lhe desse banho e comida e depois o atrelasse novamente à charrete.
Jantou, ficou fazendo hora na sala, leu umas revistas, mas não viu a sua Gioconda.
Pediu uma tina com água morna, imaginando que ela é que fosse levá-la, e disse para a menina da cozinha que queria tomar um banho e depois dormir.
Quem lhe trouxe a tina foi uma menina de aproximadamente catorze anos, e ele lhe perguntou:
- Você é irmã da Gioconda?
- Sou, sim senhor...
- E onde é que ela está?
- Foi para a casa do meu tio, aqui do lado, ela brigou com papai e com minha mãe, e foi dormir lá...
- Você quer ganhar uma boa gorjeta?
- Quero, sim senhor...
Moacir tirou uma nota do bolso e lhe deu.
- Vá lá, diga a ela que tem um senhor do Rio de Janeiro que precisa de uma massagem. Ela saiu e ele foi tomar seu banho, quando já estava deitado, ela apareceu...
- Aquele senhorzinho que estava em sua casa, Sinhá, me disse coisas terríveis que poderão acontecer ... Inveja, vingança, maquinação que estão fazendo contra nós... Disse que um espírito do mal estava a me acompanhar, na hora em que ele me falou eu fiquei todo arrepiado... Pediu que a gente tivesse cuidado, porque os invejosos estão procurando se vingar...
- Você ainda dá trela para o que o velhinho diz? Ele já não diz coisa com coisa, Jurandir, ele tem quase cem anos, pelo amor de Deus, não fique impressionado pelo que ele disse...Seu Tonico já está caduco, vamos fazer a nossa festa, nosso casamento e tudo vai dar certo, está bem?
Não quero ouvir o senhor falar mais nisso!
( continua no próximo capítulo )