Tentação ( parte LXVI )
( continuação do capítulo anterior )
- O exercito perdeu quase um batalhão nessa última batalha,eles lutaram num terreno desconhecido, no meio do pantanal, não tinham para onde fugir, na frente estavam os paraguaios muito bem armados e que conheciam muito bem a região, e na retaguarda, os jacarés, o pântano, os insetos, a febre, as cobras e a imensidão dos rios do pantanal. Foi uma verdadeira carnificina...
- Pelo que leio, Marcos, o Brasil ganhou tantas batalhas e você só cita as derrotas... Vejo que você virou um pessimista...
- Não sou um pessimista, meu tio, mas se o senhor me chamar de revoltado, acredito que estarei bem classificado. mas também tem o outro lado, também sou agradecido, porque se não soubesse ler e escrever, provavelmente estaria fazendo parte desta estatística de mortos ou mutilados. Mas onde está Maria Rosa?
- Ela voltou para a fazenda...
- Que pena, estava tão satisfeita com o que fazia aqui...
- Pois é, mas ela é muito importante lá na fazenda, ela cuida dos filhos do patrão porque a dona Ana Luiza está grávida e não passa bem. Então, quando der baixa vai querer trabalhar aqui?
- Quero, meu tio, só vou voltar para a fazenda se não tiver outra alternativa.
- Vou conversar com o senhor Silveira sobre isso...
Silveira e Ubiratan encontraram-se com o doutor Raimundo e foram para a reunião dos abolicionistas. Nessa noite iriam receber Raul Pompéia, que faria uma exposição sobre o moderno pensamento europeu a cerca das liberdades individuais.
O doutor Raimundo se encarregou de apresentar Silveira ao Barão de Cotegipe, que quando soube que ele era o senhor de Ubiratan, fez rasgados elogios sobre o seu posicionamento humanístico no tratamento dados aos escravos, e reservadamente o convidou a se aliar aos abolicionistas porque sua opinião como fazendeiro seria muito valiosa e cobrou dele a sua adesão à maçonaria, explicando-lhe seus fundamentos e a nobreza das causas que ela defendia. Citou então os nomes das pessoas ilustres que pertenciam ao seu quadro, e falou no nome do seu amigo, Ministro Miguel Calmon du Pin.
Silveira lhe disse que ficava muito honrado com o convite mas passava a maior parte do seu tempo numa vila no interior de Minas Gerais, na divisa com o Estado do Rio de Janeiro, onde se situava a sua fazenda, e pouco vinha ao Rio de Janeiro, o que dificultaria as suas participações em reuniões.
- Mas isso não tem a menor importância, o senhor será muito útil aos nossos planos morando nessa região... Nós lhe daremos a listagem dos nossos irmãos e o senhor se encarregará de divulgar entre eles o nosso movimento abolicionista...
- Dentro das minhas possibilidades eu farei o serviço...
- Que bom, teremos então mais dois irmãos, o senhor e o Ubiratan... Essa foi uma grande conquista...
Jurandir quando foi visitar a Sinhá Moça, conversou muito com um senhor bem idoso, escravo alforriado do senhor Eugênio , que lhe falou sobre a notícia que corria na senzala de que fariam uma festa no dia do seu casamento, e alertou-o sobre o que se diziam:
- Tem muita gente invejosa, meu filho, que por não serem felizes, também não querem que os outros sejam... E essa gente, meu filho, guiadas pela inveja, são capazes de fazer muitas maldades, você deve ter muito cuidado, sabe porque? A festa é a expressão da felicidade o que torna exacerbado o desejo de vingança...
Você tem que tomar muito cuidado, meu filho, porque o espírito da maldade anda solto e eu consigo vê-lo... Ele está bem aqui, juntinho de você, esperando a oportunidade para botar as suas manguinhas de fora...
Tenha muito cuidado, meu filho, para evitar uma desgraça para você e para a menina Sinhá Moça. A maldade, meu filho, não tem limites...
Jurandir sentiu um arrepio que percorreu seu corpo, os cabelos dos seus braços se eriçaram e um nó se fez em sua garganta.
- Obrigado, meu bom senhor, vou ter cuidado, não abrirei a minha guarda, para que nada de mal me aconteça... Que o mal procure os maus, não é?
- Isso mesmo, meu filho, não aceite provocações...
continua no próximo capítulo )