Tentação ( parte LXV )
 
                                         ( continuação do capítulo anterior )
 
Silveira resolveu não falar com Moacir que Gioconda lhe fizera a mesma proposta. Afinal ninguém pode garantir o sabor da fruta com o mesmo gosto que o outro sente, talvez para Moacir aquela fosse uma experiência importante  e para ele, Silveira fosse algo que não acrescentasse nada. Por isso, para não frustrar Moacir, deixou que ele levasse adiante a empreitada e aprendesse com o que a vida houvesse lhe reservado. 
Ubiratan lhe fez um relato completo da situação da Importadora Vitória, mostrou todas as contas, os lançamentos contábeis das compras, das vendas, dos pagamentos e o resumo com o lucro do período. Naturalmente como ainda haviam muitas contas em aberto,  Silveira ainda não poderia sacar nenhum dinheiro, pelos cálculos de Ubiratan teriam um ano  pela frente com dificuldades financeiras, mas a parte econômica da empresa estava equacionada. Tudo era questão de tempo, era só trabalhar e esperar.
Silveira enquanto processava todas aquelas informações e confirmava os lançamentos com as notas fiscais de compra e venda, ficou comparando a fase anterior em que pagava rios de dinheiro para um escritório de contabilidade e nunca ninguém lhe dera uma visão panorâmica da situação da empresa com tamanha competência e de forma tão transparente.
- Semana passada, senhor Silveira, tivemos a visita do fiscal nas nossas dependências. Apesar da contabilidade estar em dia, eu fiquei deveras preocupado, nunca se sabe se passou algo desapercebido que pudesse nos comprometer. Eu não tenho experiência fiscal nem contábil, fiz os lançamentos dentro dos padrões que estavam sendo feitos anteriormente,  ainda estou aprendendo com o processo, mas quando acabei de responder ao questionário que o fiscal me fez, tive um alívio muito grande e uma satisfação maior ainda porque não houve nenhuma autuação e recebi só elogios e ele me disse: 
-  Há muito tempo que não encontro uma firma com situação tão boa, está tudo em ordem e o senhor está de parabéns. 
Depois que Ubiratan fez o relatório da situação da firma, contou-lhe sobre o convite que o Barão de Cotegipe fizera a ambos para participar da maçonaria. 
- Vamos ver, respondeu Silveira.
 
Moacir só pensava na semana seguinte quando alugaria uma charrete e iria buscar Gioconda. Estava pensando alugar um quartinho na Lapa onde pudesse ficar morando com Gioconda. 
Lembrava-se dos seus olhos grandes e vivos, de um preto brilhante que o deixou hipnotizado, os lábios carnudos e o nariz meio desproporcional mas que mesmo assim conseguia fazer um conjunto bonito. Mas o que mais o impressionou foi o seu sorriso... Um sorriso que o encantou. Mas Gioconda tinha outros encantos femininos que ele não podia esquecer. Os seios fartos e a voz mansa, a acariciar os seus ouvidos:
- Querido, eu quero mais...
- Querido, você me deixa louca...
- Querido, não pare, continua... continua...
Ele ainda seria capaz de ouvir repetidas vezes o que ela lhe dissera. Não iria esquecer jamais daquela italianinha fogosa, que veio preencher a sua vida...
 
Começou a correr o boato na fazenda do senhor Eugênio que Sinhá Moça iria se casar e que o patrão autorizara fazer uma festa em que se mataria um garrote. 
Nunca ele cedera um animal para ser sacrificado em uma festa de escravos, havia algo errado em tudo isso, poderia ser uma notícia falsa ou o patrão de repente passou a ser um mão aberta?
Deveria ter alguma coisa de verdadeira na notícia, porque a mãe de Sinhá Moça andou comentando sobre os preparativos que já estava fazendo para a festa, os pratos e quitutes que iria preparar, as roupas da noiva e o enxoval que ela teria que levar quando se mudasse, tudo coisa simples mas que tinha que ser preparado de antemão. Ela até comentara com uma comadre que talvez fosse visitar a Pulcena, na outra fazenda porque Sinhá Moça tinha lhe dito que os cunhados por serem muito mais novos que o senhor Ubirajara e  a própria dona Pulcena, foram criados desde rapazes com o irmão e com a cunhada como verdadeiros filhos... Quem sabe assim ela saberia o que era necessário levar para evitar duplicidade e desperdício. 
 
A estória do casamento que corria solta na senzala, chegou aos ouvidos de Rômulo, o desafeto de Jurandir, que ficou injuriado...
- Como poderia aquele negro filho de uma puta, morador de outra fazenda, querer se casar com a negrinha mais bonita do além rio, e ainda ter uma festa em sua homenagem em que iam até matar um boi?
Isso não podia ficar assim, pensou Rômulo enquanto maquinava o que fazer...
                                         ( continua no próximo capítulo )
 
elzio
Enviado por elzio em 28/04/2013
Reeditado em 23/05/2013
Código do texto: T4263359
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