Não Existe Vida Sem Você
Nota: Usei a música Milonga da banda Fresno como inspiração para o texto. Sugiro que leia ouvindo a música.
Hoje me dei conta que ando muito só. Dei-me conta que tenho vivido junto da solidão e fiquei com saudades de quando eu ia te visitar em sua casa. Já se passaram quantos dias? Meses talvez… Mas mesmo assim, ainda lembro-me de tudo, de como era por dentro de sua casa. As paredes velhas, os falsos tapetes persas, os móveis coloniais e as cópias de esculturas e quadros. Tudo a sua cara, tudo muito você. E como sempre, toda vez que eu me recordo, me passa a lembrança da última vez em que eu entrei por conta própria e só achei uns versos jogados no chão, com palavras bonitinhas, tentando amenizar a dor do seu adeus. Como eu queria ao menos ter assistido o adeus, e junto com esse desejo, eu guardei na memória o que seria uma lembrança do que eu nunca tive.
Hoje decidi ligar pra você, ou escrever, ou procurar você em cada canto do mundo, só pra te mostrar os versos que eu compus pensando em você – Versos que eu só encaixei naquela música que você adora. Você não faz ideia de quanto eu já pensei, repensei, escrevi e apaguei todos os versos só pra dizer que eu estou com saudades e quero te ver logo.
Até agora eu não tinha feito nada. Por alguns segundos, passou por mim um fio de coragem e resolvi te ligar. Você não sabe o quão reconfortante foi ouvir a sua voz outra vez, apesar dela estar totalmente sonolenta.
- Nossa, que horas são?
- É hora de você voltar…
- Quem tá falando?
- Sou eu, não se lembra da minha voz…?
- Ah… Você… Olha, eu preciso ir.
- Espera. Me diz o motivo de ter ido embora. E o pior, ter ido embora sem nem me dizer adeus.
- Eu estava com medo…
- Medo? Medo de que? Só não me venha dizer que estava com medo de me machucar. O que você fez doeu mais do que qualquer outra coisa.
- Eu tenho que desligar!
- Por quê? Você não trabalha, não estuda e nem ao menos namora, eu suponho.
- É que…
- Depois de passar todos esses dias sofrendo eu consegui finalmente ligar pra você, apenas para saber o motivo de tudo isso, e agora você quer sumir de novo?
- … Adeus!
E com um “Adeus” totalmente seco que eu me dei conta de que todas as vezes que dançamos, enquanto eu segurava os seus dedos, não passaram de danças vazias. E todos os abraços que nós demos não passaram de corpos em atrito.
Com esses pensamentos e uma garrafa de vodca barata como companheira, eu passei a noite em claro, esperando pra ver a luz do Sol. Luz que outrora eu ousei chamar de ‘nossa’, e hoje ela apenas iria me cegar. Fiquei a pensar em quantas histórias seriam iguais a nossa. Quantos casais perfeitos já choraram e se afogaram em álcool pra amenizar a dor. Dessa forma pus-me a ouvir uma música que eu gostava, e que de certa forma, não me recordava em nenhum momento você. E parecia que era ironia do destino. Todos os versos da música descreviam exatamente a nossa situação, e de repente, no meu fone de ouvido esquerdo, a voz de um dos cantores da banda dizia: “Quando você não esperar, vai doer. E eu sei como vai doer. E vai passar como passou por mim e vai fazer com que se sinta assim: Como eu sinto, como eu vejo, como eu vivo, como eu não canso de tentar. Eu sei que vai ouvir. Eu sei que vai lembrar. Vai rezar pra esquecer. Vai pedir pra esquecer. Mas eu não vou deixar. EU NÃO VOU DEIXAR!” Cada letra, cada verso, cada nota musical que saia desse lado do fone penetrou fundo na minha alma. Parecia que eu tinha levado um tapa na cara! Fiquei extasiado. Em questão de segundos, chegou a meu celular velho, uma mensagem de texto sua que pedia pra eu seguir minha vida e esquecer-me de você. Depois de tudo que passamos. De tudo o que eu fiz por você, você ainda insiste em dizer pra eu seguir minha vida? Não consigo pensar em nenhuma vida sem você nela. Não existe vida sem você.