Inspira-me

Chuva. Frio. Chocolate quente.

Nada de bom na TV e a casa vazia. Coração apertado e a cabeça pensando no que poderia fazer pra me sentir melhor.

Meu quarto se tornou uma prisão de portas abertas e as paredes pintadas com o mais delicado tom de azul de forma sutil me sufocavam. Olhei ao redor e meus olhos pousaram em minha escrivaninha. Minha amiga que guardou meus mais profundos segredos, através de todos os textos que escrevi e pude compartilhar durante minha leitura. Em dias como esse e em tempos cheios de inspiração era naquela cadeirinha de cor marfim que eu me sentava pra escrever.

Ela esteve ali o tempo todo e eu nunca parei para olhá-la novamente como hoje a via. Me sentei nela novamente e foi aí que percebi que havia muito tempo que não fazia isso. A correria do dia-a-dia não me deixava mais parar pra pensar, me inspirar a escrever coisas novas e eu pude sentir o sabor da nostalgia.

Logo quis pegar a caneta e escrever, como sempre fiz nessas horas de súbita inspiração. Foi aí que me deparei com meus cadernos. Textos, poemas, frases, pensamentos..todos em homenagem à ele. Eram épocas diferentes e cheias de poesia, cheias de brilho e de contentamento.

Eu amei um dia. Mas isso foi à tanto tempo.

Ao ler tudo aquilo senti que eram palavras que um dia haviam preenchido algum sentimento. A tinta da caneta que desenhava as letras, uma a uma de forma regular, era a cúmplice de todas as coisas que haviam sido meticulosamente escritas.

Embora eu não amasse mais, eu percebi que poderia tentar novamente e que a vida não havia acabado. Epílogos finais não devem ser escritos.

Não pra mim. Não ainda.

Olhei pro computador no outro lado do quarto, mas o ignorei completamente. Queria sentir entre os dedos a caneta. Mais uma vez, pelo menos. Então peguei meu caderno e o abri numa página nova, limpa e em branco e me coloquei a escrever. Tive a sensação instantânea de que a cada palavra que eu escrevia poderia sentir o tempo ao meu redor girando e as coisas começando a se movimentar.

Quem sabe as letras não me tragam um novo amor?